Capítulo vinte e cinco
Um brinde finalCAPITÃ CHARLOTTE
O vento fazia meus cabelos voarem em direção contrária a que navegamos. Sentia as mangas largas da camisa longa, com babadinhos no pulso balançarem.
Diferente de Daisy, eu não estava eufórica e cheia de adrenalina.
De certo modo me sentia melancólica por ter de ver Peter mais uma vez. Mas, como James me disse: era pra oficializar nosso casamento.Sim, estávamos indo até a ilha dos Meninos Perdidos. Iríamos retomar o Jolly Roger. Nossos piratas treinavam sua esgrima, e posso dizer que todos eles estavam em boa forma. Dois meses desde que abandonamos por completo Londres, indo para lá apenas visitar meus pais. Lhe garanto que tudo por lá está bem.
Em nenhuma das vezes que passamos pela cidade vi John, e estava preocupada com a possibilidade de ele estar na ilha.
Não queria o ver e ter toda a minha animação indo por água abaixo.— Está tensa. — escutei a voz de meu marido, e virei a cabeça para o olhar. Ele tinha seus braços no leme, e seus olhos azuis me fitavam. — Preocupada com o ataque?
— Não. Apenas... Não sei como será ver aqueles rostos mais uma vez. Os Meninos Perdidos, a Sininho... — olhei para o horizonte, e suspirei. — Todos eles, sinto que os traí de alguma forma. Sinto que isso tudo é errado.
— Se refere ao ataque ou ao nosso casamento? — saltei, e o olhei, negando com a cabeça.
— Jamais! Jamais me arrependeria do que temos! — vi que ele suspirou em alívio. Sim, James ainda nutria uma insegurança que me irritava. Todos os dias me pergunta algo parecido. Pensa que irei me enjoar do casamento, ou que me arrependerei e irei voltar para John. — Só não acho necessário tudo isso.
— Somos piratas, Charlotte. Somos os vilões. — ele se aproximou, sorrindo, após travar o leme com uma madeira. — Eu quero que entenda isso. E é justamente por este motivo que iremos até lá. Para que veja que esta será sua vida, e que é muito divertida.
Seus braços envolveram minha cintura, e coloquei minha cabeça em seu ombro, fechando os olhos. Seu perfume, como sempre, me acalmava. Acompanhado do som das ondas quebrando no casco do navio, e as espadas se chocando na proa. Sim, é minha vida. Eu devo aceitar de uma vez.
A luz da lua iluminava a areia, que reluzia como um tapete de diamantes pequenininhos. Estávamos andando com passos silenciosos sobre ela, todos em alerta.
“Tudo pode parecer quieto e pacífico”, disse James, “mas estejam sempre atentos. Pan é ardiloso, inteligente e calculista como uma cobra”.
Uma música baixa soava, vindo do coração da floresta. Provavelmente estavam fazendo uma festa, ou comemorando algo. Não estava curiosa para saber, confesso.
Era estranho pisar ali, depois de um bom tempo sem os ver. Na verdade, era estranho cogitar um encontro entre todos nós. Seria estranho, e completamente desconfortável.James fez sinais com os dedos para nos dividirmos. Estávamos em uma equipe de treze piratas, contando com Gancho, Daisy e eu. Três ficaram fora da caverna sob a cachoeira, e todo o resto adentrou. Estávamos molhados ao entrar, mas não nos importamos.
Salpicamos pozinho mágico sobre nossas cabeças, e logo estávamos flutuando. Meu marido havia me explicado que ele tem uma certa ligação com fadas, assim como Pan, e que por isso, saberia se as Tecelãs ou a própria Sininho estariam ali. James subiu a bordo, correndo direto para o leme.
Nós, os nove restantes, passamos nossas mãos com o pó dourado no casco do barco, e o empurramos até que estivesse na água novamente. Mesmo sem o ver, podia saber que Gancho estava morrendo de felicidade.
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Lost Boys [PETER PAN]
Hayran KurguCharlotte Losterman era uma jovem mãe solteira, abandonada pela família e com dificuldades na vida, até conhecer John Darling. O londrino a ajudou a se erguer na vida, conquistando o coração triste. Anos após, toda a família acaba indo até a Terra d...