Capítulo 22

250 21 3
                                    

Capítulo vinte e dois
Heineken

















— Não vai acreditar. — John adentrou o quarto, e retirei meus olhos da trança que fazia em minha filha. Jogou um envelope sobre os lençóis nanquim, e eu não dei atenção. — É melhor ler.



— Alguma carta do Sanchez? — ele riu, um humor frio em seus olhos. Caminhou até a cortina que se estendia do teto ao chão, a puxando e revelando uma cidade ainda pouco adormecida, e um sol que se exibia timidamente.



— Só leia, Charlotte. — uma rispidez nítida, a qual disfarçou quando percebeu a agitação de Daisy, que pegou o envelope.



Estava trançando meus cabelos quando a vi abrir o papel rapidamente, e desdobrar.


— Eu espero, que tenha acertado o endereço. — bufou, e me estendeu o papel. Ri, e peguei.



— “Caso esteja errado, a culpa é de Michael. E perdoe a cara de pau”. É de um amigo seu, pelo visto.— ergui o olhar para John, recostado no vidro, brincando com uma chave na mão. O cheiro da tinta invadia minhas narinas, e era visivelmente escrito a mão, e com muito capricho. Ele apenas piscou lentamente. — “Londres está convidativa demais, e mal posso esperar para visitá-la. Hoje, às três da manhã, no rio Lea. Você sabe quem é”.



“Loster”

Observei por um longo tempo a assinatura, perfeitamente delineada. Pisquei repetidamente, e olhei o nada. Daisy deu um grito agudo, e pulou sobre os joelhos no colchão. Me atrevi a olhar John. Ele só sorriu de lado, e suspirou, indo para fora do cômodo.



— Ainda são oito da manhã, não se esqueça. — eu estava com a respiração presa quando ele saiu.








Demorei alguns minutos para ir para a "cozinha-sala-entrada" — como Daisy resumiu. O ambiente parecia mais frio. John também. Sua postura estava ereta em frente ao fogão, já vestia seu traje social, dispensando paletó. Sorriu para minha filha ao a servir com o cereal colorido de uma caixinha, e leite após. Uma tigela grande com salada, um suco alaranjado em uma jarra e torradas. Frutinhas vermelhas reunidas despojadas em uma vasilha, tudo em contraste com o mármore da ilha.



— Eu vou trabalhar o dia inteiro no escritório. Chego às oito. Fiquem aqui. — não me olhou nem por um momento. Intercalava entre a comida e Daisy, que brincava com ele dizendo sobre o cereal que desmanchava. — Te acompanho na madrugada. Daisy vai?




— Claro. — ela disse, de modo convencido, e rimos. Eu sabia que ela estaria dormindo a essa hora, e não queria mesmo que ela fosse. Eu não queria que ninguém fosse.



— Eu falo com alguém da mansão de meus pais. Não vou te dar esse trabalho. — ele riu fraco, seu olhar ainda distante. — Além disso, Daisy não pode acordar na madrugada. Deve acordar cedo para os cursos, irá dormir com a vovó.

Lost Boys [PETER PAN]Onde histórias criam vida. Descubra agora