O Jantar

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Não é de se esperar, que um vampiro como Viktor Bartholy prefira um estilo de vida simples e discreto. Na verdade, ele prefere o luxo e a ostentação de tudo o que ele tem e de tudo o que ele não tem. Tudo bem que...é difícil de imaginar ele "sem" alguma coisa, mas eu sei que é impossível  ter tudo, mesmo quando se é um vampiro lendário e tão vintage como ele. A diferença é que Viktor Bartholy, quando quer alguma coisa, ele sempre consegue! Então, digamos que...ele não é o tipo de criatura que fica muito tempo sem ter tudo. Viktor é como uma bateria de celular, quando começa a descarregar, ele imediatamente, volta a carregá-la e, assim, ele volta ao estoque de "100% carregada", ou melhor, "100% carregado". Eu não sei, caro leitor, se você entendeu a minha filosofia, mas o ponto aqui é deixar bem claro, que quando se trata de Viktor Bartholy, ou você se rende ou você morre!

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Assim que abri os meus olhos, pude notar que estava em lugar muito bonito e luxuoso. Perto da vida que eu e minha família tínhamos, aquilo era encantador e seduzente. Havia servos e pessoas trabalhando intensamente para a manutenção daquele lugar o tempo todo. Assim que perceberam que eu havia acordado, prontamente, todos se dispuseram a me servir, como se eu fosse uma princesa. Me ajudaram a sair da cama, trocaram as roupas de cama, prepararam um banho para mim e até me ajudaram a me vestir. 

Sempre que eu saía com as minhas irmãs para entregar as flores que colhiamos no jardim de nossa casa para a nobreza, eu sempre ficava admirada com tamanha elegância e beleza que aqueles vestidos usados pelas mulheres ricas da época transmitiam. Era o meu sonho vestir pelo menos só um daqueles vestidos, nem que fosse por alguns minutos. Coincidentemente, assim que saí de meu banho, duas moças jovens de aparência triste, enfiaram-me em um desses vestidos que tanto sonhei vestir.

Terminada a cerimônia de vestimenta, as moças me conduziram a um longo corredor, decorado com obras de arte de pintores famosos e com vasos de planta com flores suntuosas. Muitas me lembraram o jardim da minha casa e a minha mãe.

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Depois de andar o que parecia uma eternidade, chegamos em uma imensa sala de estar também muito decorada, com uma mesa enorme com mais de oito cadeiras, e apenas um prato posto à mesa em uma ponta, e na outra, apenas uma taça de vinho vazia. Havia uma lareira enorme no cômodo e em cima dela, fixado na parede, tinha um quadro com o retrato de um homem imponente e com ar intimidador. Lembro-me claramente da sensação que tive ao olhar para o quadro destacado em meio a paredes tão escuras com apenas algumas arandelas penduradas a fim  de iluminar o ambiente. Eu senti medo, nojo e ódio...muito ódio.

De repente, sou surpreendida por uma voz muito familiar e ao me virar para ver quem estava se comunicando comigo, infelizmente, vi que era o homem do quadro: Viktor Bartholy. 

- Saudações, criança! Dormiu bem? Espero que sim! Tive muito trabalho para decorar o seu novo quarto...não que EU o fizesse, mas...mandá-los fazer foi uma tarefa árdua. - ele diz enquanto se senta à mesa. - Vamos! Por favor, sente-se ali. - disse, me indicando o lugar em que havia o prato.

- Não quero. - eu  disse num tom frio e quase inaudível.

- Vamos, moçinha! Sente-se! Mandei preparar um delicioso jantar para você. Não me faça essa desfeita.

- Não estou com fome! - eu insisto, tentanto me manter firme.

- Ora, criança...não seja estúpida! Não sou um homem paciente! Vamos, sente-se!

- Já disse que NÃO! - eu grito e bato as palmas de minhas mãos na mesa.

Viktor se levanta e respirando bem fundo, ele me questiona:

- Por que não?

- Porque eu não me sento à mesa para fazer uma refeição com o assassino de minha família.

Ele me olha com a cabeça levemente pendida para o lado direito. Vejo nos seus olhos azul-acinzentado, um brilho desafiador. Num piscar de olhos, ele se lança a mim, cravando as suas unhas em minhas jugulares e num tom ríspido e baixo, porém firme, ele diz pausadamente:

-Eu. Mandei. Sentar!

Ainda que relutante, sentei-me, mas por dentro...eu ainda estava de pé!

---------- Ω ----------

Nas horas seguintes, o jantar foi servido. Estava realmente delicioso, mas a minha irritação com aquele imundo era tão grande, que dei apenas duas garfadas e me impedi de continuar a refeição. Viktor estava realmente disposto a me bajular. Ele pediu para que fizessem o bolo de nozes, que por sinal, era o meu favorito, deu-me suco de abacaxi com hortelã, o meu preferido também, ofereceu-me uma bandeja cheia de doces, todos decorados com lindas florzinhas de cristais de açúcar. Confesso que ele quase conseguiu, mas toda vez que me lembrava da cena de horror da morte de minha mãe e de minhas irmãs, meu estômago embrulhava e eu imediatamente, jogava tudo ao chão. Viktor, finalmente, perdeu a paciência, levantou-se, aproximou-se de mim e, com a sua velocidade sobrenatural, arrastou-me até o meu enorme quarto, e jogando-me ao chão me disse:

- Por hoje... JÁ CHEGA! VOCÊ SE COMPORTOU MUITO MAL! FICARÁ TRANCAFIADA AÍ POR UM MÊS! Até lá, aprenderá a se comportar e a agir como uma...serva.

Ele saiu batendo a enorme porta do quarto e me deixando em um grau de desespero imensurável.

--------- Ω ---------

Os dias passaram, e eu estava cada vez mais triste e mais revoltada. A minha tática de não comer ou não aceitar nada do que ele me oferecia, teve que ser interrompida, pois os "servos" dele estavam sendo punidos pela minha "pirraça", como ele mesmo disse.

A punição deles era terrível. Eu escutava os gritos que ecoavam por todo castelo (sim! Viktor tinha um castelo e era onde eu estava vivendo). Eu afundava o meu rosto nos travesseiros de penas de ganço e tampava os meus ouvidos numa tentativa em vão, de não ouvir o sofrimento daquelas pobres almas. Com pena deles e temendo pela minha própria vida, achei melhor dançar conforme a trilha sonora aterrorizante chamada Viktor Bartholy.

Lua de Sangue - Is It Love? Viktor BartholyOnde histórias criam vida. Descubra agora