Marcas do Passado

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- Então... Quer dizer que a sua mãe criou esse jardim para simbolizar a paz que é possível ter entre as espécies de sobrenaturais e humanos?

- Sim.

- Mas...a sua mãe não era uma vampira original?

- Não. A minha mãe era uma bruxa. A bruxa que criou a minha espécie e eu criei a espécie dos lobisomens.

- Uau! Então, é verdade! Os lobisomens foram criados por vampiros, no caso...por você!

- Sim! Certamente!

- Mas... Qual era o intuito?

- Ter servos.

- Hum...

- Mas algo deu errado...

- O quê?

- Eles se tornaram mais fortes do que nós, vampiros. Mais ágeis, mais habilidosos, mais selvagens e...- Viktor faz uma pausa.

- E...? -eu insisto curiosa.

- ...e mais amados e protegidos pelos...humanos. -Viktor praticamente cospe a última palavra. A minha boca se abre em forma de um "O".

Eu me sento e encaro o seu rosto. Seus olhos azuis levemente acinzentados encontram os meus. Vejo uma certa melancolia e inveja em seu olhar perdido.

- Viktor...? Você... Você tem...ciúmes do que os lobisomens se tornaram? Digo...eles têm o que vocês vampiros não têm.

Um silêncio se segue. Viktor volta a olhar para o céu. A sua mão, que repousava em minhas costas fazendo um carinho de forma delicada, de repente para. Ele se senta e surpreendentemente...

- Sim! Eu tenho ciúmes! - ...ele confessa! E continua dizendo: - Eu tenho raiva deles! Eu odeio eles! Esses seres...deploráveis e imundos me tiraram o resto de humanidade que eu ainda tinha quando decidiram matar o meu pai e tomar a minha mãe como mulher e mãe deles! E o pior: ela não quis voltar mais para o seu lugar, que era junto aos vampiros!

Eu arregalo os meus olhos e balanço a cabeça negativamente, sem acreditar no que acabei de ouvir. Contudo, não consegui entender muito bem o que ele quis dizer com "ela não quis voltar".

- Viktor...me desculpa, mas...como assim "ela não quis voltar"?

- Ela gostou de - literalmente - abrir as pernas para um cachorro e fazer descendentes com ele. -Viktor está com o rosto virado, sem me encarar. - E além disso, deu para esse pulguento, o meu lugar...no trono, mas...ele não ficou lá por muito tempo. Eu recuperei o que é meu por direito!

Levo minhas mãos à boca. Agora entendo o porquê de tanta raiva e frieza em Viktor. Pensei que ele fosse um lunático sádico mas...me enganei.

Eu uno as nossas mãos e entrelaço os nossos dedos, mostrando a ele que estou ao seu lado. Viktor observa a minha ação. Ele não se mexe. Parece que está petrificado assim como as suas memórias no seu coração frio.

Ele continua contando a sua infortúnia história. Eu fico quieta. Não quero estragar este momento de intimidade que está acontecendo entre nós.

- Há séculos, eu venho brigando pelo trono, que é MEU por direito. Essa rivalidade entre lobos e vampiros, começou daí: de quem deveria governar o mundo sobrenatural.

Eu engulo em seco. Um flashback de memórias invadem a minha mente. Todas as memórias a respeito das guerras que enfrentamos contra lobos e a forma como os outros sobrenaturais e até mesmo humanos se uniam contra vampiros, começam agora fazer sentido para mim.

- Viktor...agora tudo faz sentido! Eu pensei que todas essas guerras e fatos fossem... - sou interrompida.

- Invenção da minha cabeça? -a sua voz é fria e dura. Ele me olha de um jeito penetrante. Percebo que sua áurea está pesada novamente, como o de costume. Seus olhos estão vermelhos como pedras de rubi. Contrastam com a luz da lua crescente.

Eu separo as nossas mãos. Viktor ainda me assusta um pouco quando fica nervoso ou apresenta raiva. No entanto, percebendo o efeito que causou em mim, ele imediatamente me puxa para perto de si, suaviza a sua expressão e acaricia o meu rosto.
Num tom baixo de voz, ele me alerta:

- Helena, quero que tenha em mente que esta será a pior guerra que enfrentaremos juntos. Será a mais perigosa e mais desafiadora de todos os tempos. Não está relacionada apenas a matilha dos Mascaris e aos outros clãs de lobos que destruímos. Está relacionada a uma disputa por território e poder. Ser o líder ou não ser. Matar ou viver. Dominar ou ser dominado.

Eu engulo em seco mais uma vez. Meu coração acelera um pouco. Eu olho para o chão, sentindo-me um pouco tonta.

- Tem mais uma coisa, Helena...

- Diga-me! - eu tento parecer firme, mas em vão.

- Nesta guerra, você verá seres que jamais vira antes.

- Do que... Do que você está falando Viktor?

- Como você já sabe, os outros sobrenaturais sempre se aliaram aos lobos. Então, todos que tiverem poderes de ressurreição de mortos, criação de criaturas demoníacas por meio de carcaças ou seja lá que tipo de bizarrice saibam fazer, vão criar um exército poderoso contra nós.

- Temos bruxas ao nosso lado, não temos?

- Sim. Temos. Contudo, são muito poucas. Nem chegam a 100!

Eu abaixo a cabeça. Estava confiante, mas agora, estou começando a ficar com medo.

- Viktor...eu... O que vamos fazer...?

- Espere! É a última informação relevante que vou te contar agora, por isso preste muita atenção. -Viktor coloca o meu rosto entre as suas mãos e me olha fixamente. -O meu tempo está acabando. Tenho mais três dias para me preparar e eles não estão blefando. - quero chorar quando ele diz isso. Não quero perdê-lo
- Aquele lobo, que te intimidou em meu território, ele não é um lobo comum.

- Viktor...? Do que você está falando? Como assim ele não é um lobo comum? - minha voz tropeça e embarga. Sinto o desespero tomar conta de mim.

- Ele é o primeiro lobisomem que... - Viktor respira fundo. - ...a minha mãe criou e...foi com ele que ela se deitou e o que matou o meu pai.

- O quê...? Não! Como assim? Isso é impossível! Não tem como lobisomens viverem por tanto tempo! Não! Isso é inviável! Não é poss... - Viktor me interrompe.

- Helena! Acalme-se! Escuta-me! Ele vive, ainda, porque...

- Porque...?

Viktor solta o meu rosto e olha para a grama na qual estamos sentados. Eu não contenho o meu nervosismo e me levanto. Viktor faz o mesmo.

- Fala Viktor! - eu ordeno. Gritando à todo vapor. -Fale logo!

Ele me olha e finalmente diz:

- Porque ele também é um vampiro Helena! Ele é como eu por minha culpa! Eu o mordi na nossa última guerra, há milenios atrás! Eu o transformei na besta que ele é. -ele diz essa frase pausadamente. - Agora, é meu destino arcar com as consequências!

Eu caio de joelhos na grama, desabando-me em lágrimas.

--------- Ω -------

Dedico este capítulo a uma das leitoras que está sempre me incentivando a continuar a história.

E vocês aí, não fiquem com ciúmes, tah? O seu nome pode aparecer aqui na dedicatória. ;D

Saibam que cada leitora é muito importante para mim e para o meu livro! Amo os comentários e os incentivos de vocês!

Beijos e boa leitura morceguinhas!!!

Lua de Sangue - Is It Love? Viktor BartholyOnde histórias criam vida. Descubra agora