Roxa, Azul e Branca

114 9 7
                                    

-Sara? -minha voz é fraca e trêmula.

- Hum... Helena? Oi! -ela diz sonolenta.

- Sara...-eu mal consigo pedir ajuda.

- Helena, o que houve? -sinto preocupação na voz da minha única amiga.

- Sara...-a minha voz falha. -...Eu preciso de ajuda. -eu começo a chorar.

- Céus! Helena, o que houve? Onde você está? - ela desperta. -Diga-me onde você está e eu vou até você!

- Não! -eu soluço. - Eu vou...para a sua casa... -enxugo as lágrimas.

- Tudo bem... Você consegue vir sozinha?

- Sim! Estou em casa...

- Ok! Estarei te esperando.

- Obrigada!

Desligo o telefone e olho ao redor. A sala está um perfeito cenário de guerra. Tudo está revirado e quebrado.

Eu vou para o banheiro com muita dificuldade. Meu corpo inteiro está dolorido. Eu me olho no espelho.

Eu choro como uma criança. Exatamente como aquela criança que viu o coração de seu pai ser arracando de seu peito na sua frente e sua família ser morta.

Eu não deveria ter perdido o foco.

Há estilhaços de vidro por todo o meu cabelo, rosto, pescoço, corpo... Contudo, não faço o mínimo de esforço para tirá-los. Estou fraca demais.

Ainda vestindo a roupa da noite anterior, vou para o quarto e pego um cardigan qualquer e coloco sob meus ombros. Olho para a cama coberta por um lençol vermelho. Sinto lágrimas embaçarem a minha visão. O perfume de Vikt... Argghhh! Até falar o nome dele dói! O perfume dele ainda está no ar.

Arrastando-me, volto para a sala e saio de casa. Arrastando-me, vou para a casa da minha amiga em busca de socorro.

----------------------------¤

Assim, que chego na porta de seu apartamento, nem preciso bater na porta que a mesma logo se abre.

Sara arregala os olhos e tapa a boca com as mãos ao notar o meu estado. Sinto que vou desmoronar a qualquer momento.

- Oh, não! Helena! O que houve com você?!? -ela está assustada. -Não me diga que...-eu apenas balanço positivamente a cabeça e choro mais ainda. -Que horror! Entre!

Ela me abraça e acaricia o meu cabelo. Eu me afasto dela e a alerto para que não toque em mim, pois pode se ferir com os estilhaços de vidro.

- Não se preocupe, Helena. Eu tenho uma solução para isso. -ela me assegura. - Fique aqui. Já volto!

Ela sai em disparada para o quarto e a ouço revirar as coisas. Depois de alguns minutos, Sara volta com um saquinho roxo e se aproxima de mim.
Eu olho curiosa para ela.

- Não se preocupe. O que tem aqui dentro, eu costumo chamar de..."pózinho limpa tudo"! Você vai ver! Esses pedaçinhos de vidro vão todos sumir! -ela tenta me animar. -Está pronta?

Eu apenas assinto com a cabeça.

Ela abre o saquinho e derruba o tal pózinho nas mãos.

-Feche os olhos...

Eu faço como ela diz e ouço Sara falar umas palavras que não entendo, mas sei que são um feitiço. Sim! Ela definitivamente é uma bruxa!

- Pode abrir!

Eu abro os meu olhos e passo as mãos em meus cabelos para me certificar da eficácia do pózinho da Sara e me surpreendo com o resultado. Não há mais nada no meu cabelo e muito menos no rosto e no meu corpo. Eu sorrio e choro ao mesmo tempo, agradecida.

- Ei... Tudo bem! Tudo ficará bem!

O consolo que Sara me oferta é tão puro que me faz lembrar das minhas irmãs e da minha mãe. Sinto um aperto no peito e me agarro ainda mais no abraço dela.

- Helena, o que você acha de tirar esta roupa e ir tomar um banho? Posso preparar um banho bem relaxante e com propriedades anti-inflamatórias para você. O que me diz?

Eu murmuro um "uhum". Não tenho força para falar.

- Perfeito! Vou prepará-lo e volto num segundo! -ela me dá um beijo na bochecha e me olha com compaixão. Sara se afasta e vai para o banheiro.

---------------------¤

Meu corpo dói tanto que preciso de ajuda para tirar a roupa. Sara se aproxima de mim e vejo que ela me olha de um jeito assustado e com um olhar carregado de tristeza. Ela aponta para o meu corpo.

- He..Helena...? O que aquele traste fez com você?!?

Eu não fazia ideia do estrago até olhar para mim mesma. Passo as mãos por cada hematoma que ganhei da discussão com meu mari... Humpf! Com o ser que eu chamava de marido.  No meio do meu peito, bem na região do meu osso esterno, há uma marca roxa esverdeada... profunda. Herança do soco que me prostrou diante de... Me recuso a falar o nome dele.

Eu volto o meu olhar para Sara. Nunca a vi assim. Ela me olha em choque e balança a cabeça negativamente, de um lado para o outro como se não quisesse acreditar no que seus olhos estavam vendo.

- Helena... -sua voz é um sussurro.

E para me deixar mais triste ainda, Sara começa a chorar. Eu me aproximo dela e coloco as mãos em seu rosto.

- Não chore por mim, querida amiga.

- Não tem como! - ela soluça. - Se uma sofre, todas sofrem juntas!

Eu me comovo com suas palavras e deposito um beijo na sua testa. Sara sorri, segura as minhas mãos e olhando nos meus olhos ela me faz uma nova proposta:

- Tome o seu banho. Fique o tempo que quiser nesta banheira. Quando sair, vou preparar algo para você beber para que possa dormir. Está bem?

- Está bem. -eu respondo um pouco mais animada.

Sara me ajuda a entrar na banheira. Eu deixo o meu corpo imergir na água morna e respiro fundo. Flores roxas,  brancas e azuis são colocadas na água por Sara.

- Cada uma dessas cores tem um significado, uma energia a transmitir para quem estiver rodeada delas. A flor roxa tem uma energia de confiança. A flor branca, de paz e a flor azul, de calma e tranquilidade.

Eu sorrio com seu cuidado e a agradeço. Sara acende umas velas aromáticas e sai do banheiro. Eu fecho os meus olhos e sinto o meu corpo relaxar em poucos instantes...

---------------------------¤

Se uma sofre, todas sofrem juntas!

😚🌹💪

Lua de Sangue - Is It Love? Viktor BartholyOnde histórias criam vida. Descubra agora