O Amanhã Não Nos Pertence

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Hoje é o dia que Mystery Spell mudará para sempre! Será ótimo terminar o primeiro dia do ano com um banquete de sangue fresco servido nas ruas e becos dessa cidade que se tornará o perfeito covil do Drácula, que no caso, será o MEU covil! Não mais humanos, não mais mortais insuportáveis perambulando por esta cidade que é nossa (dos sobrenaturais) por direito. Hoje, tudo será nosso, outra vez!

Arrumo o meu terno no meu corpo e decido dar uma volta pela cidade antes que o caos se instale só para ver a cara das pobres almas que terão suas vidas ceifadas por mim através dos dentes afiados de meus aliados. Quero contemplar a inocência e a ingenuidade desses humanos que acreditam que dominam tudo só por saberem álgebra e as leis que regem o Universo. Patéticos! Como são patéticos!

Saio de minha "humilde" residência e caminho tranquilamente pelas ruas de Mystery Spell. Olho ao redor admirado da beleza desta cidade que será só minha em breve e mal posso esperá-la para uni-la às outras que já são e que serão minha. Até aceno para algumas pessoas no caminho. Quem diria! Eu sendo "simpático" com humanos... Mal sabem eles... 

Ao chegar no centro da cidade, entro em uma cafeteria e me sento num local que me dê uma visão privilegiada do local. Enquanto finjo ser um qualquer e aguardo o garçom imprestável me trazer um "chafé", ouço um casal rindo consideravelmente alto e isso me incomoda um pouco. Surpreendo-me quando vejo quem é o casal.

"Helena e... Peter... Mas que audácia! Quando eu a cidade for toda sitiada e eu dominar tudo, Helena voltará a ser a minha serva e Peter terá a sua cabeça empalhada e pendurada na sala da minha casa!" - eu penso, enquanto os fuzilo com o olhar.

Eu sei do acordo que fiz! Sei das consequências! E sei também que eu não precisaria transformar uma cidade inteira num exército de vampiros, mas é assim que eu funciono: destruindo a tudo e a todos, ainda que, eu precise destruir uma parte de mim para que eu consiga o que venho buscando a anos! Ainda que eu precise me separar da mulher que eu jurei amar. Ainda a amo, mas no nosso mundo, amor de mais é perdição e um tremendo fracasso para alguém que busca sempre ser o melhor e mais temido!

Luto contra mim mesmo, mas desisto em não me concentrar no que estão conversando. Tenho certeza de que logo notarão a minha presença. Não tem como notar!

- Peter, como vamos ter uma noite romântica se você só quer saber do seu piano? Assim não dá! Não tem como competir com a sua amante! 

- Amante??? Que amante??? - ele indaga irônico.

- A música! O tempo todo você fica fissurado nela! Até quando estamos assim, conversando, dá pra ver que você está se "comunicando" com ela de uma certa forma.

- Ah! Pare com isso, Helena! Não posso fazer nada se você é a culpada por me fazer escrever músicas sobre você e sobre como me apaixonei por você! Você está facilitando essa relação adúltera! HAHAHA! 

- Bobo! -ela joga um papel amassado nele, que ri muito.

Eles riem feito hienas do deserto e eu sinto o meu sangue ferver! O meu relacionamento com Helena tinha momentos de descontração, mas...não eram assim...leves, relaxantes e cheios de parceira. Até o melancólico do Peter parece mais feliz, mais confiante!

Sinto-me incomodado com o fato deles não me notarem. Além disso, há um bando de crianças fazendo barulho e destruindo o lugar, mas eles não parecem se importar.  Estão tão entretidos um com o outro que parecem esquecer o mundo ao redor.

Por fim, as hienas se levantam e deixam o local, passando pela mesa em que estou sentado sem esboçar qualquer reação de alerta ou coisa do tipo. Fico tão irritado que quando, finalmente o garçom chega, recuso a bebida hedionda e decido também deixar a cafeteria.

Lua de Sangue - Is It Love? Viktor BartholyOnde histórias criam vida. Descubra agora