O canto da sereia

2 - Um barril de rum.

Costa do Caribe, 1718. Oito anos depois.

-- Oh, droga! -- A mulher loira, alta e com belas curvas reclamou ao sentir a água inundar suas grossas botas pretas. -- Eu as encharquei. -- Murmurou, sentindo um forte arrepio cruzar sua espinha ao sentir o quão fria a água se encontrava. A risada rouca atrás de si distraiu a garota, fazendo-a virar o pescoço em direção àquele som.

-- Não reclame assim, afinal, já fizemos isso mil vezes. -- A garota de olhos claros respondeu, ganhando um resmungo baixo de sua companheira. -- Agora chegue para o lado porque preciso descer e está escurecendo. -- Pediu, soltando os remos dentro do pequeno barco.

-- O Barba negra sempre nos manda averiguar o local pela manhã ou pela noite, a água é fria nesses horários. -- A loira falou, vendo a garota de olhos claros pular, o que causou alguns respingos de água por todos os lados. -- Oh, droga!

-- Dinah, pare de reclamar! -- A garota pediu, rindo ao ver a cara de irritação de sua amiga que tentava se livrar das gotas que havia atingido sua roupa. -- Ainda não escureceu totalmente. -- A garota nem respondeu, pois estava entretida demais em se livrar da água em suas calças. Ela bufou alguns instantes depois, erguendo sua cabeça para focar na garota em sua frente. Suas sobrancelhas se franziram então.

-- O que está fazendo, Lauren? -- A loira indagou ao perceber que a água não sairia de sua roupa, dando-se por vencida e deixando aquilo para lá. Ela viu a outra garota ajeitar o chapéu de três pontas preto, que tinha uma pequena caveira na frente, enquanto puxava o barco e caminhava para a areia do local.

-- Indo averiguar o território, ora. O que mais seria? -- Questionou, vendo sua amiga negar com a cabeça.

-- Não deveríamos esperar o restante do pessoal? Eles já estão vindo. -- Ela perguntou confusa.

-- Já ouviu falar em perigos? -- Lauren indagou. -- Dinah, se viemos primeiro devemos constatar que não há perigos e, caso haja, devemos voltar correndo para avisá-los de que aqui não é um bom lugar. -- Explicou, puxando o pequeno barco consigo. Assim que chegou na costa ela simplesmente respirou fundo e chacoalhou seus pés para livrar-se um pouco da água, mesmo que parte do pano de sua calça estivesse encharcado. -- Eu sei que para você não é fácil e tampouco legal vir primeiro, entretanto, foi uma ordem. -- A loira fez uma careta antes de olhar ao redor.

O estilo tropical do ambiente não se perdera e ainda que estivesse escurecendo era possível ver o estilo de árvores dali. Pela primeira vez Dinah sorriu, olhando meticulosamente cada canto daquela ilha.

-- Eu senti falta da terra. -- A loira falou mansamente, fechando os olhos para inspirar o ar fresco. -- Não posso sequer dizer quanto tempo ficamos sem terra à vista. -- Lauren riu e assentiu, percorrendo o local com os olhos.

-- Não se esqueça de que você que viu esse lugar de longe. -- Lauren disse animadamente. -- Aquela luneta nos proporcionou alegria.

-- Esquecer? -- Dinah indagou ironicamente. -- O Barba negra nos prometeu um barril inteiro de rum para quem avistasse terra firme. -- Relembrou. -- Eu vou cobrar aquele pirata sim ou claro. Jamais esqueceria. -- Lauren gargalhou ao ouvir aquilo, assentindo.

-- Bem, fique aqui e certifique-se de que esse barco não desapareça de vista. Amarre-o em algum lugar se for necessário. -- Lauren falou finalmente. -- Vou apenas dar uma olhada em volta.

-- Mas não lhe permito! -- Dinah disse seriamente. -- Está frio, ora pois. Eu vou e você fica aqui no vento. -- Lauren voltou a rir, negando com a cabeça.

-- Pois se digo que eu vou, eis que assim o farei. -- Lauren disse firmemente, fazendo sua companheira bufar e, rendida, assentir. Lauren, apesar de doce, era a pirata mais respeitada naquele lugar, até mesmo mais que o próprio barba negra. O homem era obedecido por medo dos outros, por puro terror. Já Lauren era obedecida por sempre cumprir sua palavra e por mostrar em diversas situações de perigo que ela estava disposta a dar sua vida pelos demais.