4 - A fuga.

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Costa do Caribe, algumas horas antes.

-- Auxilium! Auxilium! -- A garota gritava, ouvindo a risada grotesca do homem sujo e enorme ecoar no vento.

-- Garota estúpida! Aqui ninguém te escuta. Não há ninguém. -- Informou, segurando em um dos seios da mesma. A garota arregalou os olhos e deu um passo para trás bruscamente, se livrando daquelas mãos imundas de cima de seu corpo.

O homem voltou a dar um passo adiante, deslizando as mãos em uma de suas tranças antes de se abaixar e inalar o perfume do cabelo da garota.

-- Não me deixaram fazer nada com você lá dentro. -- Ele disse a ela, percorrendo os olhos por seu corpo nu, corpo esse que havia ficado exposto graças a ele instantes atrás. -- Tudo porque você está sendo guardada por nosso tenente, escrava. -- Disse, olhando para trás para checar se ninguém vinha. -- Não entendo como um corpinho tão gostoso possa ainda ser virgem e tudo porque aquele imbecil não me deixava te tocar.

A garota franziu o cenho, afinal, ela não entendia uma palavra sequer do que o homem dizia, entretanto, presumia que o que ele falava não era algo bom, visto o desejo estampado em seus olhos. Ela murmurou baixinho ao sentir seu pé latejar, seus olhos desceram para os mesmos enquanto o homem cuspia grosseiras palavras incompreensíveis por ela. Seus pés estavam completamente sujos, porém isso já era de costume para ela, o que chamou mesmo sua atenção e a apavorou foi ver que um de seus dedos sangrava muito, sua canela tampouco estava diferente daquilo, uma vez que o homem lhe arremessou coisas conforme ela tentava fugir, após ele arrancar brutalmente sua roupa e lhe bater.

O estômago da garota embrulhou, ela tinha horror a sangue desde que vira seu pai ser cruelmente assassinado por um dos homens naquele navio. Ela entendia que antes de morrer seu pai oferecia o próprio corpo de forma voluntária e seus serviços em troca de eles jamais encostarem em Camila, mas aparentemente o novo tripulante não compartia da mesma ideia.

Ela só não entendeu o porqué de manterem-na viva após terem feito o que fizeram com seu pai, afinal, o homem era de mais utilidade do que ela. Ele fazia de tudo um pouco, enquanto ela apenas limpava o convés com o esfregão e servia as pessoas de grande autoridade dentro do navio. Ela reprimiu um soluço quando sentiu a áspera areia daquela ilha tocar a ferida de seu pé e pediu mentalmente por ajuda, já que sabia que ninguém entenderia suas palavras.

Seu estômago então roncou, fazendo-a se lembrar na mais inoportuna hora de que não comia havia dois dias.

-- O Barba Negra está próximo, precisamos avisar ao tenente Maynard! -- Um homem apareceu eufórico no topo do navio, fazendo o outro lhe olhar apavorado. -- Hey! O que está fazendo com ela? -- Indagou irritado. -- Nós não devemos tocá-la, são ordens do comandante!

-- Eu... Uh... -- O homem disse, incerto de suas palavras. -- E por que não? -- Ele perguntou.

-- São ordens! -- O outro repetiu. -- Não questionamos ordens, apenas a cumprimos! -- Disse firmemente. A garota mordeu seu lábio inferior fortemente e, sorrateiramente, deixou seus olhos olharem ao redor.

-- E se a dividirmos? -- O outro insistiu. -- Há semanas não vemos uma mulher, homem! -- Argumentou. -- Poderíamos fazer com cuidado para não deixar vestígios.

-- Ela está fugindo! -- O homem do topo do navio gritou, vendo o outro, que estava embaixo, olhar na direção de onde a garota havia estado minutos antes. Ele então, meio desorientado, se virou para começar a segui-la. -- Deixa-a ir! -- Gritou enfurecido o do topo do navio. -- Precisamos sair agora; precisamos avisar o tenente sobre o Barba Negra!

-- Ela está machucada, eu a alcanço rápido. -- O homem debaixo disse.

-- Não! Precisamos sair agora, e será você o que irá comunicar ao comandante que perdeu uma escrava por não obedecer suas ordens. -- Disse imponente. -- Suba já aqui porque agora podemos acusar o Barba Negra de pirataria e finalmente ter sua cabeça decapitada. -- O homem debaixo bufou contrariado, porém assentiu, olhando para trás apenas para ver a figura da moça, nua, se afastando apressadamente antes de ele começar a subir no navio.

[...]

Seus pulmões ardiam, seus pés sangravam ainda mais e sua boca estava seca. A moça não sabia quanto tempo havia corrido no dia anterior, só sabia que havia subido em uma árvore durante a noite e passado todo o tempo lá; usara uma folha para não deixar suas partes íntimas terem contato com os galhos ásperos e assim que o sol começou a surgiu ela desceu e voltou a correr, no fundo ela dera graças aos céus de nenhum dos rapazes ter seguido ela.

Exausta, ela se jogou na areia da praia e respirou fundo fitando a imensidão do mar. Ela analisou as águas límpidas, uma vez que ninguém habitava aquela ilha, não poluindo aquela bela praia. O barulho das ondas sempre lhe encantava do navio, mas dali de onde ela estava era muito mais real o som e ela só se dera conta naquele mesmo instante, estando sozinha e em paz. A brisa fresca daquele horário amenizou um pouco seu calor, porém, a areia lhe estava pinicando, esse fora o motivo de ela ter se levantado e, com certa dificuldade, caminhado até a água.

Uma careta se formou em sua face quando a água salgada lhe tocou os pés machucados, mas bravamente ela caminhou até um pouco mais fundo e jogou água em seu corpo, removendo a areia das partes mais improváveis. Seus olhos encararam a água por uma fração de segundos até que ela fechou as duas mãos unidas, formando uma cumbuca, e as encheu com água, levando-as até seus lábios. Ela sabia que seria ruim, mas já não aguentava a sede. Fazendo uma careta, ela bebeu tudo, levando mais um punhado até a boca e engolindo.

No meio pela sua busca de cessar sua sede, seus olhos captaram um ponto preto no meio de tanta areia e aquilo chamou sua atenção, fazendo-a caminhar para fora do mar e em direção àquilo. Ela piscou confusa, afinal, ou estava ficando louca ou podia jurar que aquilo ali no meio de uma ilha deserta era um chapéu.

Será que mais alguém esteve por ali? Deveria, ela, voltar a escapar de alguém? Perguntas e mais perguntas assombravam sua mente conforme ela se aproximava incerta, afinal, quão azarada seria ela se aquilo realmente fosse um chapéu? Chapéu significava pessoas e pessoas significava fuga. Ela não queria mais fugir.

O canto da sereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora