Capítulo 32

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    Contando e recontando as linhas do teto, concluo que Niki está a vinte minutos dentro do banheiro. Quem demora vinte minutos para fazer as necessidades? Bem, talvez ele tenha decidido tomar um banho. Mas como eu não ouço o barulho da ducha, que por sinal, faz um barulho chato do caralho, começo a me preocupar.

    Levanto-me e pego um roupão no armário, fechando-o sobre o meu corpo. Caminho até o banheiro e quando abro a porta; o meu coração dispara. Nikolas está caído sobre o chão, apagado. O nariz sangrando. Corro até ele e tento reanima-lo. Porra. À quantos minutos ele teria "caído"? Quando entrou?

     Eu não posso chamar a inspetora. Nós seríamos punidos, sem contar o fato de ele estar nu. Mas também não posso o deixar nessa condição, e o meu coração está batendo tão forte que eu o posso ouvir de tanto desespero.

— Merda Niki. Não faz isso comigo. Acorda. — Seguro o seu rosto, e nada.

    Pego o seu pulso, checando a pulsação. Está normal. Mas o seu nariz não para de sangrar, começo à pensar em hemorragia e tudo de ruim, isso me deixa mais desesperada ainda.

     Levanto-me rápido e pego papel para limpar todo o sangue, segurando com cuidado a sua nuca. O seu corpo começa à tremer e então ele abre os olhos, piscando lentamente.

— Porra, seu idiota — coloco a mão sobre o meu peito, aliviada — você sabe o caralho do susto que você me deu? Merda.

     Abraço-o com força. Ele retribui desajeitado e o meu coração ao invés de se acalmar, acelera mais ainda.

— Convulsão — ele murmura baixinho.

    Eu o olho.

— O quê?

— Convulsão. Eu tenho convulsão as vezes. É tipo refluxo, sempre tive, desde moleque.

— Eu quero matar você! Seu babaca.

    Bato no seu peito e ele ri baixinho, me abraçando.

— Desculpe. É um problema que eu tenho.

— Você não precisa pedir desculpas por isso — ajudo-o a se levantar — mas você já foi a um médico? Pode ser algum problema de saúde...

    Ele confirma com a cabeça, colocando uma mexa dos meus cabelos atrás da minha orelha.

— Relaxa. Eu estou bem agora.

— Você devia ter me contado que tinha isso...

— Não é o tipo de coisa que se sai contando por aí — ele dá de ombros e cambaleia um pouco para trás. Eu seguro-o e o olho séria.

— Vamos tomar um banho e almoçar. Você precisa comer alguma coisa!

— Tudo bem, mandona.

     Reviro os olhos.

— É para o seu bem... — o puxo para a segunda cabine.

     Ligo a ducha na água quente e tiro o meu roupão, pendurando-o sobre a parede fina. Sinto os seus braços rodearem o meu corpo e um beijo ser depositado no meu ombro.

     Passo os meus braços a volta do seu pescoço e fecho os olhos, sentindo a água quente se chocar contra o nosso corpo agarrado. Quando de repente, eu ouço a porta do banheiro ser aberta. Abro os olhos rapidamente e encaro-o aflita. Fodeu.

— Por que você não foi a aula? — Ana pergunta.

     Niki e eu nos encaramos com os olhos arregalados. Eu posso ouví-la, enquanto ela faz xixi. Ele segura um riso. Faço um sinal de silêncio e ele assente.

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