Barco

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Quanto custam as palavras que são escritas?

Talvez um dia inteiro, em que as mãos acordam suando, o corpo desperta tremendo, os olhos pesam para abrir, e o coração já acorda disparado. Levanta, acorda pra vida! Tudo que eu queria era não precisar acordar pra ela. Não é cansaço, não é preguiça, é uma inquietude tão grande que parece castigo, é pensar em mil coisas e não se concentrar em nada, fazer tudo ao mesmo tempo e não concluir nada direito. É sentir o peso por cada decisão errada, achando que futuro é moldável na palma das mãos, como se eu pudesse ter domínio sobre tudo. É sentir que todos estão percebendo a sua inquietude e sentir medo de transparecer isso, medo de falar sobre isso, medo de ser incoveniente. É quando o nada torna-se sufocante como o tudo, é a espera pelo que nem mesmo se sabe o que é, é quando algo torna-se tão insuportável que é preciso se revelar em palavras. As palavras são como barcos, os barcos sempre nos levam a algum lugar, por mais que não se veja nada no horizonte. Cada sentimento e sofrimento é derramado como lágrimas até que se forme em rio, o rio corre e leva o barco e o faz chegar ao seu destino. Vivo no litoral, observando a passagem dos barcos a cada manhã, e no momento em que eles passam sinto que cada percurso é uma esperança de um destino. Esse é preço, cada texto é uma transcrição desse sofrimento, não é invenção, não é mentira, senão meu barco não teria rio pra navegar, e enquanto não chego lá aproveito a paisagem, sem saber onde isso vai me levar, aproveito o passeio.

Silêncio que se lêOnde histórias criam vida. Descubra agora