Eu tenho medo do escuro mas me escondo nele. Me escondo de olhares tortos e de dedos retos, me escondo de terrores matutinos e de sonhos proféticos. Me escondo de meus medos e espero que eles não me vejam, uso minha insignificância pra me tornar invisível. Uso a minha indisposição pra ficar calada e não ser notada, fico parada e espero que a vida se movimente por si só. Me cansam as responsabilidades, não as responsabilidades do mundo capitalista, mas a responsabilidade de ser eu, de ter que lidar com minhas atitudes e fazer as escolhas certas. As minhas escolhas não foram as certas pelo menos umas centenas de vezes, as vezes mesmo sabendo qual é a melhor escolha, ainda sim, escolho a errada. Impulsiva. Não me justifico e me escondo em justificativas, apenas estou sendo sincera com o escuro (estou sozinha agora) esperando que o som não se propague e meus pensamentos não cheguem a Deus. Medo. Uma vida paralisada de medo, terror, bagunça, desentendimentos e mal entendidos. Quando vou compreender as coisas? Quando vou me esforçar pra compreendê-las? Será que preciso de quantos anos a mais pra amadurecer? Já são 20 tentando controlar todas as faces do que sou, tentando conter o fogo que se alastra por onde quer que eu passe, uma intensidade que contamina e pode queimar. Um fogo que não se prende e não se limita há muito tempo, um desespero em forma de atitudes. Impulsiva. Como o fogo que perde o controle de por onde passa e o que consome. Domínio próprio. É tudo que desejo a mim, como me conter em uma caixa, em um pote de azeitona de perfeição, como um fogo domesticado e apascentado, mas não sei lidar comigo. Tudo que mais quero ser e fazer simplesmente não sou e não faço. Tudo que mais odeio e repugno faço e sou, desejo a outros e me deleito em erros e passos em falso. Quem sou eu? Há quem diga palavras bonitas de amor, dizem eles que sou amada, mas não consigo receber esse amor, não depois de tudo que já sou. Minha frustração é não conseguir viver esse amor, sabendo que ele foi a melhor coisa que já me aconteceu e está ali, a minha espera, e eu, simplesmente, não controlo o fogo da minha impulsividade e queimo a mão do meu amado. Quem sou eu pra machucar os outros? Minha vida é um ciclo, e não, não é de hoje, faz muito tempo que não respiro bem, respiro fumaça e fuligem daquilo que queimo. Já faz tempo que não me sinto eu (e talvez nunca tive liberdade para ser, talvez minha infância foi guardada em um pote de azeitona) e hoje já não consigo mais ser o que quero. Apenas queimo, queimo e queimo, deito e durmo, levanto para os pesos matinais. Meu pescoço se envolve de lágrimas que desesperadamente tentam apagar a chama, mas não conseguem. É como se a minha vida já tivesse tido seu fim, mas eu durmo e já é, de novo, um novo dia, e o que será dele? Eu já sei, tudo de novo outra vez e o fogo tanto me envergonha vai na minha frente.
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Silêncio que se lê
PuisiO silêncio guarda nossos sentimentos mais profundos, o silêncio fala verdades, emite certezas e incertezas. O silêncio é único que entende a confusão, que no meio do breu, se expande sorrateiramente ocupando o espaço da tristeza. Existem momentos qu...