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Eu já estava há tanto tempo naquele banheiro mas as lágrimas não paravam, eu me sentia violada, exposta ao ridículo. Eu queria morrer, queria acabar com tudo aquilo, a minha vida jamais seria a mesma, nada daria certo de novo e todas as cenas de humilhações que passei nesses meses reprisavam na minha mente e eu só conseguia pensar em como fui burra e cega.

Todos riam de mim, todos! Me xingavam, concordavam com o que estava colado nas paredes, gravavam vídeo das fotos coladas na parede e zombavam mais de mim, senti um enjoou e tudo o que eu havia comido subiu e só deu tempo de me virar pra privada.

Eu quero morrer.

A escola já estava calada e provavelmente as aulas já deveriam ter voltado... como eu olharia pro Neymar de novo? Como eu olharia pra todos na escola? E mais lágrimas caíam. Escutei a porta ser aberta e barulho de salto batendo no chão até a porta em que eu estava.

— Querida? — era a voz da minha mãe — Sou eu! Saia daí... tá tudo bem, viemos te buscar.

Abri a porta com pressa e me joguei nos braços da minha mãe, eu chorava sem trégua, era um choro que doía, machucava estar naquela situação.

Entrei na sala do diretor e meu pai estava lá, olhando todas as imagens e frases que descolaram das paredes e eu queria tanto me explicar, dizer que... eu não sei, eu nem sei o que dizer.

— Filha! — meu pai ao me olhar se levantou as pressas e me abraçou — Calma meu amor, iremos resolver, fique calma.

Minha mãe me deu um copo d'água e eu tomei sem demora, era confortante estar com eles mas ao mesmo tempo o peso nas minhas costas se fazia presente.

— Eu quero saber quais serão as providências porque eu fiz questão de colocar minha filha nessa escola porque eu sabia da responsabilidade e controle que tinham com essas crianças mas olha o ponto que estamos.

Meu pai questionou o Diretor Paulo com um tom grosso e alto, ele estava bravo demais e minha mãe pediu calma mas ele retrucou.

— Calma? Nossa filha está sendo exposta ao ridículo por esses moleques, ela estava trancada no banheiro, Patrícia! Jovens comentem suicídio o tempo inteiro e eu não quero que minha filha faça parte dessa estadística. Eu exijo soluções, diretor!

— Bom, primeiro peço que se acalme, vamos buscar imagens nas câmeras e

— Não. Não faça nada, diretor! Eu não quero voltar.

— Que? — minha mãe se assustou com a minha resposta.

— Como não vai voltar mais, Ayla? — meu pai me encarou enfurecido.

— Todos sabem que com a minha nota é impossível eu ser reprovada e eu nunca falto. Eu posso sim ficar em casa, faltam poucas semanas.

— Não, você não vai ficar sem a escola! Diretor, o que você vai fazer?

— Pai! Eu não quero e ponto. Essa escola não se importa com os alunos que sofrem bullying aqui. Não vai ser comigo que irão se importar... eu odeio esse lugar, odeio acordar e ter que vir, ser xingada por saber demais e tirar boas notas, por ser negra e ter cabelo crespo, por namorar um cara e ser exposta por toda a escola. No dia do jogo todos ficaram sabendo do vazamento das minhas fotos e vocês fizeram o que? Vocês donos da escola só se importaram com a merda do campeonato! Eu não quero pisar nesse lugar nunca mais, o que eu tinha pra fazer já fiz, agora só piso aqui de novo pra buscar meu diploma.

Sai da sala as pressas e com um ódio que jamais havia sentido. Me xinguei por ter desejado a morte por causa de pessoas podres, sem alma e que pisam e usam outras pessoas pra se divertir.

Entrei na minha sala de aula e a professora Bernadete se assustou com o barulho que fiz batendo a porta contra a parede, escutei meus pais gritarem no corredor mas eu só tinha um sentido.

Sou jovem e sou tolo, tomei más decisões
Bloqueio as notícias, virei as costas para a religião
Não tenho diploma, sou um pouco ingênuo
Cheguei tão longe por minha conta
Mas ultimamente, essa merda não está me deixando bem

Na mesa da Giovanna ela ria sobre algo enquanto rabiscava seu caderno rosa e sem pensar muito peguei sua mesa com todos os seus materiais e joguei longe, a mesa bateu na parede e quase caiu em cima do Gil.

— VOCÊ SURTOU, GAROTA?

— OLHA O QUE VOCÊ FEZ COM A MINHA VIDA!

Peguei seus cabelos e puxei com toda a minha força, os alunos vieram me puxas mas eu tive força suficiente pra jogá-la no chão, eu iria matá-la hoje, não passaria de hoje. Senti os dedos do Neymar me tocarem mas não me impediram de parar.

Levanto a cabeça e o mundo está em chamas
Há pavor em meu coração e medo nos meus ossos
E eu simplesmente não sei o que dizer

— PARA AYLA, POR FAVOR! ISSO NÃO RESOLVE NADA!

— ME DEIXE EM PAZ! NÃO ENCOSTEM EM MIM! EU ODEIO VOCÊS, ODEIO TODOS VOCÊS.

Empurrei Giovanna que estava prestes a se levantar de novo e a joguei no chão, sua cabeça bateu no chão e sua boca sangrava e aquilo era energia para minhas veias, abaixei sua blusa e a puxei para baixo com todas as minhas forças, a blusa se rasgou e seus seios estavam a mostra

— COMO SE SENTE? SEUS PEITOS ESTÃO A MOSTRA IGUAIS OS MEUS NO JOGO E NO INTERVALO. NÃO É MARAVILHOSO?

— PARE COM ISSO, AYLA!

Meu pai me pegou no colo e eu me debati, todos filmavam, tiravam foto, tentavam ajudar a Giovanna como se eu fosse a vilã de toda aquela merda mas eu sei que não sou e isso basta.

Estou de joelhos, estou
te implorando, por favor
Estou quebrado, sozinho e com medo
Não sou um santo, sou mais um pecador
Não quero perder, mas
temo pelos vencedores
Quando tento explicar, as palavras fogem
É por isso que estou aqui hoje

Meu corpo doía, minhas lágrimas jamais parariam e aquilo era resultado de todos os anos sendo escrava desse lugar.

— Esse seu choro não é 1% do que eu chorei esses anos todos, Giovanna. A partir de hoje você vai saber quem manda.

— Já chega, Ayla!

Minha mãe gritou e eu sorri pra ela aliviada ao ver toda a bagunça que fiz, escutar o choro da Giovanna me confortava e me aliviava.

— Pronto mamãe e papai, podemos ir.

Entrei no carro e meus pais estavam calados, com certeza chocados com o que viram mas eu não me arrependia de nada.

— Era isso ou eu iria tomar remédios pra me matar hoje à noite. Eu nunca levei meus problemas pra vocês, são problemas inúteis mas eu estava guardando mágoas de anos e anos. Eu devo perdão pra vocês, mas não vou pedir perdão por algo que pra mim foi confortador.

Eles ficaram calados por uns minutos e o clima ficou tenso mas minha mãe suspirou e me deu esperança.

— Estou pensando no processo que os pais dela vão dar pra nós, mas antes um processo do que minha filha não saber se defender.

— Não concordo com nada do que você fez, Ayla. Mas não vou te julgar! Eu só não quero que esconda nada de nós, você diz ter sofrido na mão daquela garota por tantos anos mas nunca nos disse nada, talvez se tivesse contado teríamos te mudado de escola, conversado com a direção da escola... qualquer coisa.

Escutei meu pai conversar comigo e compreendi mas não me via falar dos meus problemas pra eles. São adultos, tem casa, filha e trabalho pra administrar... de qualquer forma, hoje o dia foi sinistro.

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música do capítulo:
Pray - Sam Smith

O clima tá pesadíssimo e eu to amando, comentem o que estão achando e o que acham q vai acontecer.

𝐁𝐀𝐃 𝐑𝐄𝐏𝐔𝐓𝐀𝐓𝐈𝐎𝐍 | 𝐍𝐄𝐘𝐌𝐀𝐑Onde histórias criam vida. Descubra agora