Quando você estuda em uma escola cheia de pessoas ricas, rapazes lindos e garotas magras o seu único desejo é se encaixar em uma desses grupos. Jéssica sabia que não tinha como ficar rica, seu pai até tentava jogando na Mega-Sena, mas isso era um sonho impossível. Ela não era um garoto e em nenhuma hipótese um deles iria namorar com ela. Não com aquele corpo. Jéssica odiava suas curvas, para ela, sua bunda era grande demais, seus peitos cheios demais, sua barriga era enorme e sua altura não ajudava. O cabelo preto não era liso nem cacheado o que a irritava, pois tinha que viver com ele amarrado. Algumas espinhas estavam querendo aparecer e só faltava um óculo e um aparelho para ela se tornar a "Betty - A Feia". É claro que ela não era assim, mas era assim que ela se via.
As aulas complementares tinham terminado mais cedo, mas ela tinha que esperar o irmão para voltar para casa. Enquanto isso foi até a sala de computadores da escola e foi pesquisar sobre remédios para emagrecer. O plano de Jéssica era simples: comprar o melhor remédio, emagrecer, alisar o cabelo e arranjar um namorado. Ela só tinha treze anos, mas na sua cabeça isso era melhor coisa que podia acontecer.
O primeiro site que acessou listava os melhores remédios para emagrecer. A matéria era super-tendencioso, mas a garota não percebeu e leu sobre cada medicamento, os benefícios, como tomar, os resultados e os, pequenos, efeitos colaterais. Mas o melhor mesmo foi ver as fotos de antes e depois, isso deixou Jéssica com os olhos brilhando. Ela teria o corpo tão sonhado em pouco tempo. No final das contas ela optou por comprar o que foi sugerido pela colunista, usou o cartão de crédito adicional que o pai tinha lhe dado para momentos de emergências. O saldo era apenas de R$ 300 e era para durar o mês todo, mas ela decidiu gastar todo o limite com o remédio.
— Jéssica Torres.
Jéssica pulou da cadeira e olhou assustada para a professora Lúcia. Ela estava em sua frente e, felizmente, não conseguia ver o monitor. Jéssica fechou todas ambas enquanto sorria e cumprimentava a professora.
— O-oi professora Lúcia.
— Quero te fazer um convite. — Jéssica sorriu concordando — Você sabe o quanto a turma de Design Gráfico é disputada, não sabe? Mas eu dei uma olhada no convite que você fez para uma garota da sua turma e acho que você leva jeito.
— Obrigada.
— E por isso quero que você faça parte da minha turma ano que vem.
— Mas é só para alunos do terceiro ano e eu vou para o segundo.
— Eu vou dar um jeito nisso, não se preocupe. Preciso de alguém com potencial para me ajudar no concurso do ano que vem.
— Concurso?
— Todo ano a sede do Mistykas faz um concurso com os alunos. O melhor aluno faz o design base de alguns flyers e a escola vencedora ganha recursos para investir em tecnologia.
— Entendi.
— Posso contar com você ano que vem?
— Claro, claro.
Jéssica respirou aliviada e se afundou na cadeira. O próximo ano tinha tudo para ser o melhor da sua vida. Nada poderia dar errado.
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Diego Torres estava entrando no vestiário após o treino quando escutou alguns rapazes falando sobre uma tal festa no dia seguinte. Geralmente, ele não ligava para essas festas, era o típico lugar que ele não gostava de ficar: uma casa cheia de adolescentes sem cérebros e bêbados. Mas dessa vez foi diferente, ao escutar o nome de Sofia seus olhos e ouvidos ficaram atentos ao assunto.
— O Nicolas não vai deixar você chegar perto da Sofia. Disse Paulo Salvino, cujo pai era promotor de justiça.
— Cara, eu e o Nicolas somos irmãos. Comigo o assunto é diferente! Disse Carlos Passamani.
Carlos era o melhor amigo de Nicolas, um perfeito babaca ricaço: alto, pele branca como a neve, ombros largos, barriga travada, olhos verdes e careca. Tinha a fama de mulherengo e adorava isso. As únicas coisas que ele amava era a si mesmo e o seu sobrenome.
Diego vestiu a toalha e entrou no box perto de onde os garotos conversavam. De uma forma estranha ele estava decidido a tentar se aproximar de Sofia.
— Ele quase socou o Felipe no treino.
— O Felipe é um babaca, o melhor que ele sabe fazer é dar festas.
— Que festa?
Diego perguntou dentro do box e torceu para nenhum deles reconhecer sua voz. A relação com os caras da sua idade não era muito boa.
— A festa do Felipe. — Respondeu Paulo — Todo mundo vai.
— Na casa dele, ne?
— Mas é claro, mané. E se você for use roupas que não sejam da doação. Disse Carlos.
Diego bufou baixinho e saiu do box.
— Seria muito estranho eu aparecer por lá?
— Fez o dever de matemática?
Diego não estranhou a pergunta, a relação com Carlos era de ódio recíproco e troca de deveres de casa, na verdade, ele fazia a tarefa de Carlos e em troca recebia dinheiro.
— Está na minha mochila.
— Ótimo. E se quiser ir a festa passa no shopping antes, ninguém precisa saber que você é pobre.
Diego entrou embaixo do chuveiro e pensou sobre suas roupas. Não era algo que ele ligasse, mas com certeza Sofia ligava. Por mais ridículo que fosse, Danilo tinha razão: ninguém precisava saber que ele é o filho do caseiro.
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Elite BSB
Novela JuvenilOlá elite de Brasília! Já teve a estranha sensação de que nada pode ser feito aqui ou alguém descobre? Sempre tem alguma notícia sobre os corruptos do Congresso Nacional, desvio de dinheiro ou operações da polícia federal com nomes engraçados. Poi...