41: somos muitos, todos anônimos...

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Taehyung tinha o braço dado com o seu, quando saíram pela porta que permaneceria aberta até que voltassem, antes mesmo de Jin acordar. Afastaram-se uma casa, duas... a esquina não estava tão distante, todavia os pés já pareciam cansados.

— Meu primeiro crush foi quando tinha 12 anos. Eu não fazia ideia que eu era gay, mas não entendia porque estranheza em duas pessoas se envolverem, independente do sexo... — falou Taehyung.

"Foi muito constrangedor... Fazia oficina de dança, e naquele dia separaram os alunos porque ensinariam movimentos masculinos e femininos. Ele estava tão... bonito. Então, quando cheguei em casa, entendi o que era 'bater uma' e porque as revistas com mulheres não funcionavam pra mim. É, constrangedor...

— Por que está me contando isso? — Hoseok questionou.

Assoprava as mãos para aquecê-las, e o mais novo parou para esfregá-las antes de colocá-las no bolso dele e cobrir metade do rosto de Hoseok com o cachecol para que voltassem a caminhar. Ainda evitava os olhos do outro. Voltou a caminhar, com a mão na sua cintura e a cabeça deitada no ombro do outro que não se importava.

— Todas as pessoas de todos os lugares dizem que o amor é lindo, maravilhoso, a melhor coisa que pode acontecer, estar apaixonado é extraordinário!

"...Então fiz o que era esperado, e o maior erro da minha vida. Levei flores pra ele. — deu de ombros. — O amor é superestimado, sabe... — Taehyung.

— Como dar flores pode ser errado? — resmungou Hoseok.

— Éramos bons amigos, mas ao me ouvir ele não pegou as flores e me empurrou, sem força. Mas se afastou, e riu. 'Você não deveria estar aqui', foi o que disse. Como se eu não fosse um garoto ou o achasse uma garota, não sei bem... — contou. — Só que nenhum de nós é uma garota, e quando insisti que ouvisse novamente, porque talvez eu tivesse usado as palavras erradas, ele gritou.

"Claro que todos assistiram àquilo. Fui retirado pelo professor e recebi dispensa da escola, ligaram pros meus pais... Eles entenderam, um pouco em choque mesmo depois de me fazerem ouvir alguns gritos antes de conversarmos, mas... No dia seguinte como toda a escola não saberia? Meus amigos acho que ficaram com medo de que eu aparecesse com mais flores, pra eles dessa vez, e se afastaram. Minhas colegas... fingiram não se afastar, foram um pouco mais discretas.

"Fiquei sozinho na escola, e quando não pude mais fiquei sozinho em casa, me tranquei no quarto, isolado. Então... — riu de si mesmo — então precisei ir ao psicólogo pela primeira vez...

— Você tem depressão?

— Tive. Tive crises sim. Na verdade acho que pode voltar, se algo acontecesse ou não. Tenho driblado bem pra não ter mais crises...

— Está dizendo que vai embora?

— Não! Digo que não está sozinho e que não sairei daqui, Hoseok. Somos muitos, todos anônimos. Peço que não se deixe levar tão longe. Sei como se sente, como se tudo doesse como se não fosse passar. Seus pensamentos doem, seus sentimentos doem, e seu corpo também...

"Eu sempre andava com meus remédios, e a dor era tão grande em ver ele debochar com os amigos naquele dia, que eu quis dormir ali mesmo, na escola. Dormir o máximo de tempo possível, então não lembrei dos riscos e... quanto maior a dose maior o efeito...

Hoseok não soube o que dizer quando parou para olhá-lo, sentindo-se arrepiar sem ser pelo frio, tentando calcular o quão cansado estava e quanto suportaria antes de se sentir como o outro se sentira no passado. Taehyung sorria, parecendo tímido mesmo que o assunto fosse tão grave.

— Tentou se matar. — Hoseok constatou.

— É difícil convencer as pessoas de que isso não passou pela minha cabeça. — queixou-se Taehyung. — Eu não queria ir embora ou estar lá, eu não queria pensar no que fazer, ou em como reagiriam se eu saísse correndo, ou se eu batesse neles com todas as minhas forças, ou se eu os ignorasse, ou apenas chorasse... não queria lidar com aquilo, queria apenas dormir. Sequer contei os comprimidos!

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