Qual o problema dele

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Três meses antes do baile.

Ontem pela manhã, entrei na sala de Thomas e meu pai que estava com um leve sorriso. Fecha a cara, disfarça e se retira.

Sei que sempre dei trabalho. Entretanto, nunca foi ele a resolve-los.

Apesar de apenas dois anos de diferença. Thales foi quem se tornou minha referência paterna e se hoje sou um pouco mais centrado é para não desapontá-lo.

Meu irmão é meu herói. Porém, infelizmente, isso não me impede de sentir a falta que fez um pai presente.

Quando minha mãe nos deixou, eu tinha dezessete anos e estava no auge das minhas rebeldias. Segundo à própria dizia: Era meu jeito travesso de chamar à atenção. Mas se engana quem pensar que ela não me chamava para uma conversa séria. Ela fazia isso com louvor, e no final eu chorava de arrependimento por aborrecê-la.

Mesmo assim... Aos quinze eu conheci o gosto do álcool, aos dezesseis o do cigarro e antes da sua morte, o da maconha. Saí das drogas legalizadas para a ilícita, e se não fosse Thales me dar uma chamada, nem imagino onde eu estária. Participei de corridas ilegais e hoje participo de esportes radicais. Sou viciado em adrenalina. Acho que essa é a única forma de me sentir vivo. É isso ou me trancar em um quarto escuro e começar a lamentar minha vida de pobre menino rico.

Dinheiro para mim nunca significou nada. Enquanto minha mãe agonizava naquele maldito hospital, ele não me serviu para porra nenhuma.
Foram as piores duas horas da minha vida. Para no fim, o médico aparecer e dizer que ela não havia resistido. Naquela hora, eu percebi que perdia a pessoa que eu mais amava e que eu nunca tinha me dignado à dizer isso pra ela. Se não disse a ela, não direi a nenhuma outra mulher.

A dor daquele dia ainda me tira o sono. Eu já estava no hospital quando ela deu entrada. Doutor Márcio, que é o médico da família, estava me atendendo devido a um tombo de moto e me ajudando a encobrir isso do meu pai e da polícia. Pois na época eu era menor e como tal, não possuía habilitação.

Eu ainda segurei a mão dela, antes dela entrar para não mais voltar naquela maldita sala de cirurgia. Eu vi quando lutando ele abriu levemente os olhos e estes se encontraram com os meus. Escutei seus gemidos e me senti hipotente diante de toda a sua dor.

Seu peito banhado de sangue e toda uma equipe a sua volta não me impediram de deixar um beijo molhado de lágrimas em sua testa depois do médico me dar a triste notícia e eu invadir aquela sala fria. Seus olhos já não tinham vida. Seu coração já não batia. Sua testa e mão ainda estavam aquecidas.
Mesmo com aquele ar tão gelado.

É essa lembrança que me mantém acordado todas as madrugadas. Não durmo mais que quatro horas por noite. Fechar os olhos me faz sofrer.

Fiquei mais rebelde.

Foi Thales quem me aquebrantou um pouco. Se hoje amo Thomas, é graças à paciência e dedicação que Thales teve comigo. Amo meus irmãos e dou sem pestanejar a minha vida em troca da deles. Sei que ele assumiu da noite pro dia uma responsabilidade que não lhe pertencia e por isso ao término do ensino médio, aceitei fazer faculdade para deixá-lo orgulhoso de mim. Passei um ano inteiro estudando sem saber o que realmente eu queria ser. No entanto, ter uma mente fervilhando me guiou até o marketing.

Nunca ouvi um elogio vindo de meu pai. E o gênio, nem em minha formatura apareceu.
Por anos me perguntei se eu realmente era filho dele, mas há cinco, fiz um exame de DNA. Sem seu conhecimento. E este, jogou por terra minha dúvidas. O que somente me deixou mais aborrecido.

Hoje, faço tudo para ter um mísero minuto de sua atenção. Faço tudo para um dia receber sua aprovação. Mas parece que tudo isso é em vão.

Nem mesmo no dia que me encontrou desolado no corredor daquele maldito hospital, ele não me abraçou ou disse algo para me confortar. Ele somente me mandou para casa e disse que me ligaria para informar sobre o sepultamento da minha amada mãe.

Naquela noite passei me punindo. Por querer chamar a atenção de meu pai, deixei escapar os belos momentos com a minha mãe. Fui ingrato com ela. Respondia de forma ríspida as suas demonstrações de carinho comigo. Acho que de uma forma ridiculamente infantil eu tentava puni-lá por permitir que ele fosse tão indiferente à mim.

Olhando pensativo para o mar, ainda me questiono: -Qual o problema dele comigo?

Mais uma vez sem respostas, me levanto para passar na floricultura e buscar religiosamente um buquê de rosas amarelas.

Minha mãe me entregava rosas amarelas todos os sábados pela manhã. Me dizia, que elas representavam a alegria que eu tinha pela vida. Somente eu sei, como escondi bem minhas dores.
Para muitos, sou um rebelde sem causa e para ela eu era alguém que gostava de testar os limites.

Todos os sábados, depois de passar noites em claro com uma mulher qualquer. É aqui, de frente para o mar que acalmo minha alma conturbada.
Quantas vezes quis me deixar cair das Pedras do Arpoador.
*
Depois de um café reforçado na padaria do bairro. Volto para meu lar frio.
O pequeno condomínio onde eu moro. Tem quatro blocos, de quatro andares cada. Eu moro na cobertura e por isso tenho dois andares a meu dispor. Tem uma piscina na frente deles, junto a área de lazer para as crianças e a churrasqueira. Nunca usei a piscina e na verdade nem conheço meus vizinhos. Meu bloco é o terceiro e por este motivo passo perto da piscina para cortar caminho.

O sol mal nasceu. O local parecia estar vazio, meu escuto uma risada.
Olho na direção do som e sorrio com a ousadia daquele ser. Porém antes de entrar em meu prédio, me pego novamente observando aquela mulher de grande porte, jogada tão à vontade na espreguiçadeira, falando sorridente e alto ao telefone como se ela estivesse em sua cama.

Ela é negra e gorda. Na certa está aproveitando que neste horário não tem ninguém. Deve ser a filha do Severino. O porteiro.
Com certeza, isso deve entrar em pauta na reunião deste mês, dona Marluce. A síndica, não dorme em serviço.

Depois de chegar e colocar as rosas no vaso. Vou até a varanda e a vejo nadando livremente de um lado ao outro. Por um pequeno momento, senti inveja da sua aparente liberdade, de sua ousadia e falta de senso.

Em um certo momento. Já fora da piscina e com os cabelos bagunçados. Ela olha em volta e eu retorno pra dentro, me mantendo abrigado pela cortina. Isso não me impede de vê-la.

Ela ficou mais de duas horas no local. E eu acabei à espiando todo este tempo.
Me senti estranho ao constatar que eu esqueci até mesmo de ligar para Thales avisando que hoje eu irei ao orfanato.
Não sei o que me fez ficar horas olhando aquela mulher. Não foi cobiça ou desejo. Simplesmente o tempo passou e eu não percebi.

Melhor manter à distancia. Pois na certa, essa sem noção é problema.

🌻🌻🌻

Oi amores! Saudades!
Infelizmente creio que não conseguirei postar mais que uma vez por semana. Porém eu prometo tentar.

💐Vamos animar. Estou ansiosa pelos comentários e votos.
💋Beijos da Aline💋💋.

MEU VICIO🔞 Trilogia BAILE DE MÁSCARAS 2Onde histórias criam vida. Descubra agora