Nina: A Lenda de Chipe

Mesa de piquenique

Hora do intervalo. Envio uma mensagem de celular para os meus amigos para que me encontre na "nossa" mesa. É uma mesa de piquenique que fica na área gramada do campus em frente à cantina principal. Escolhemos aquele lugar por se encontrar extremamente no centro na universidade, então fica no meio do caminho para todos, já que fazemos cursos diferentes. É o lugar de nós nos encontrarmos sempre que temos algo urgente para falar e que tenha de ser dito pessoalmente... E honestamente, esse é de longe o assunto mais urgente que já falamos até hoje naquela mesa desde que Morgana contou que quebrou o nariz do Brice por tê-la chamado de vadia.

Sento-me em um dos bancos e espero. Como toda boa e tradicional mesa de piquenique, esta também tem dois bancos largos de madeira acoplados à mesa. Fazendo com que quem se sentasse, ficasse de frete para o outro ou exatamente ao seu lado. Tiro meu celular da bolsa, checando minhas mensagens. Todos viriam. Isso é bom.

- Código marrom - escuto a voz de Hitan próxima à mim. Levanto a cabeça e vejo ele sorridente se sentando no banco da frente -. Você nunca mandou esse código antes. Deve ser algo bem sério.

Essa de código era meio ridículo. Mas foi ideia do Kevin, diz ele que era para selecionar a urgência dos nossos assuntos, quando amarelo significa xixi e marrom significa "É uma merda bem grande", palavras dele, não minhas.

- É um código muito marrom - respondo rindo, sinto meu rosto enrubescer um pouco. Meio tímida com o significado de tudo.

Por alguma razão, falar dessas coisas que são tão comuns, deixa a maioria das pessoas receosas por dizê-lo ainda.

- Espero que seja mesmo. Me tirou dos meus assuntos de imensurável importância com os centers para me ter com uma mera humana - provoca ele, fingindo soberba. Com certeza, Hitan é o mais dramático de todos nós.

"Center" é o nome que demos aos nossos mutantes, ou seja, os que tem super habilidades. Muitos de nós, não gostam desse termo, pois a maioria deles já se acham o centro do universo, e dá-los uma referência assim, só faz mais jus para que pensem dessa forma.

- Você fala isso, mas também não tem super poderes - implico, dando um sorriso irônico.

- Ah! Qual é! Eu sou um enfermeiro - põe a mão no peito de forma auto suficiente e ergue o queixo -. Eu salvo vidas. Isso já é um super poder.

- Primeiro: você é um estudante de enfermagem que ainda nem começou a estagiar - ouvimos a voz da Morgana atrás de Hitan, que nem precisa se virar para saber quem é e já revira os olhos. Ela continua falando enquanto se aproxima e se senta ao lado dele, com uma perna de cada lado do banco, e põe a bolsa em cima da mesa -. Segundo: quem salva a vida é o médico! Você só ajuda a tratá-la depois.

- Sem graça - o Hitan se emburra. Fazendo um bico e cruzando os braços.

- Na verdade, não necessariamente - escutamos Kevin se aproximar e é a vez da Morg revirar os olhos, ela não gosta muito do Kevin, ela reclama que o constante bom humor dele acaba com o humor negro dela. E, segundo a própria, humor negro é seu jeito de se comunicar com o mundo -. Os enfermeiros salvam muitas vidas também, apesar dos médicos serem os mais reconhecidos - ele se senta ao meu lado e morde o seu sanduíche.

- Obrigado, Kevin! - Hitan estende os braços para frente, indicando o amigo com as duas mãos em agradecimento - Pelo menos eu estou me especializando na área - diz com ênfase no "eu" no intuito de me provocar.

- Bobagem! - retruca Morg - Amiga - se vira para mim -, pode continuar salvando o mundo com um livro de cada vez.

Ela se refere ao fato de eu estar escrevendo uma pesquisa científica sobre Amoras e suas propriedades curativas. Exceto pela minha amiga, todos ou outros acham que é bobagem eu escrever algo assim, sendo que sou somente uma estudante de letras, e que devia deixar isso para os profissionais na área, como os cientistas e médicos.