Katana

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Ressonando tranquilamente estava Renzo Hawkins.

- RENZOOOOO!!! - é acordado pela voz que mais adorava no mundo, mas não estava doce como de costume, mas sim em desespero.

Em um salto ele deixa sua cama e corre escada abaixo encontrando sua esposa encolhida no chão e, muito, muito sangue.

- Ana! - ele, já com seu coração apertando de desespero, chama pela esposa que não se move para mais nada além dos espasmos musculares de seu corpo. Em um pulo ele a alcança na intenção de socorro, mas antes que sua mão lhe tocasse, a presença repentina de alguém passando muito rápido por ele, um vulto, o chama atenção. Renzo corre atrás do que viu e ao adentrar na cozinha dos fundos avista Shinay entrando em um portal de luz, estendendo a mão para pegar as de outro que estava a sua espera. Ela não o vê, nem sequer olha para trás, mas o homem viu muito bem o suficiente para sua vingança...

... Renzo também se lembrou da promessa que fizera junto de sua esposa na última vez que a viu - logo após sua recuperação das agressões da Bruxa -. Ambos prometeram salvar o mundo daquela mulher, mesmo que para isso seus lábios nunca se encontrassem novamente.

• • •

Toda aquela aflição da noite de tormenta que passara vem com força total em sua consciência, entregando toda a adrenalina necessária para gerar o impulso que faz Renzo Hawkins levantar com sangue nos olhos.

A lâmina da katana ainda cravada alí em seu abdômen, estanca o sangue de jorrar de seu novo ferimento. Entretanto ele não se importa, e rapidamente segue um longo passo para trás - antes que Shinay aprofunde ainda mais o golpe - e com um giro seguido de um chute, ele acerta a lâmina estendida, que leva o objeto ao chão, e com outro golpe ele acerta suas pernas fazendo-a cair. Antes que ela se erga, Renzo chuta sua face quase desmaiando a bruxa.

Mesmo desorientada, Shinay percebeu que deveria passar menos tempo tentando se levantar - pois sempre preferia lutar de pé - e mais tempo atacando antes que ele desse outro golpe, Shinay invoca a lâmina mais uma vez, desta penetrando o tornozelo de Renzo que grita surpreso com a sensação tremenda de sua pele sendo rasgada outra vez. Ele se ajoelha com apenas um dos joelhos sobre o chão e agarra a katana, tentando tirá-la daí antes que dessepasse o seu pé, mas Shinay também estava concentrada em manter a lâmina ali, exatamente onde estava, e se levanta rapidamente antes dele, que continua de joelhos.

- Eu tenho quinhentos anos de idade, Hawkins! - ela esbraveja, inconformada - Já comi centenas homens como você no café da manhã; valentes e tolos! Me diz como você será capaz de me vencer - não foi exatamente uma pergunta, foi um desafio. Ela lhe dá um tapa em na face - Me diga o que fará Renzo! Hum? Eu já tirei tudo de você! Sua liberdade. Sua família. Já matei centenas de milhares que você jurou proteger, mas nunca fez nada! Me diga o quê te motivará a fazer algo dessa vez?!

- Sabe algo mais motivador do que não ter saída, Shinay? - ele lança a katana em um movimento forte, tinha conseguido retirar em um breve movimento de distração no meio do discurso dela.

Mas ela em esperteza se lança para o lado, Renzo corre a diante seguido de um rolamento no chão para recuperar a arma que jogou. Shinay vai atrás dele, mas antes que o alcance, ele se vira já empunhado o objeto.

Renzo crava a lâmina prateada na cavidade abdominal de Shinay. Uma ponta de esperança de que sua luta havia se findado brotava no peito do homem - e de todos alí -, mas ao contrário, da expressão de derrota que esperava ver no rosto da chinesa, lhe veio um sorriso lateral.

- Para alguém que me conhece tanto, deveria saber que só me pode ferir de verdade pelo coração, Hawkins - a bainha da katana por onde Renzo segurava se abre na parte inferior e a lâmina parte dali em um movimento rebote, cravando outra vez o abdômen dele. No mesmo lugar que na Bruxa.

- Não seja por isso - a voz conhecida suspende a atenção do moreno, mas o que realmente o faz parar, é ver o rosto paralisado e os olhos arregalados de Shinay, que olha para Renzo e o brilho do pânico é estampado neles. Renzo desce mais o olhar e encontra uma ponta de flecha vazada no centro do peito da Bruxa, no coração, a mesma oscila em soluço pesado, Renzo a solta, ela cai, revelando a silhueta de sua Nina contra a luz da lua na entrada da caverna que até então estava escondida da visão de Hawkins pelo corpo da Shinay. A mesma estava em uma posição empoderada segurando firmemente seu arco em punho.

- Nin - um sussurro desacreditado do Kevin é ouvido por todos em meio ao silêncio ensurdecedor que foi instalado no seu retorno surpresa.

Parado atrás de Nina, estava Nelis e Berk, eles haviam a resgatado na queda? Por quê?

- O quê? - Nelis olha sem parar para os lados, completamente confuso, até seus olhos se fixarem no irmão -. Você! - ele avança com irá, mas antes de qualquer outra reação, Berk o acerta com um ganho de direita no maxilar, levando o ruivo à inconsciência.

Renzo a empurra com os pés, fazendo-a ficar de barriga para cima. Se alguém retirasse a flecha, ela ainda teria alguma chance de se recuperar. Renzo estava se certificando de que isso não acontecesse. Mais uma vez a katana era apontada para ela, ele posiciona a mesma no centro do peito dela, mas antes:

- Me responda uma coisa - Shinay pede, fraca, e sem a mínima esperança na voz -, vai doer?

- Você merece a dor?

- Sim.

Nina corre até o corpo quase que totalmente entregue à morte, a ancestral a observa, esperando o que a morena tinha para falar. Nunca falara para ninguém, mas ela já havia sonhado com esse momento algumas vezes, com o seu fim, mas nunca vira o rosto daquele a derrotaria, e agora podia, era melhor do que ela imaginava, de certa forma se sentia bem. Sabia exatamente o discurso que viria a seguir, já sonhou com ele algumas vezes, e adorava ouvi-lo... por mais masoquista que fosse.

Nina se curva, aproximando seu rosto da chinesa e dizendo:

- Shinay Chi, a mãe dos esquecidos. A bruxa. A lenda de Chipe. Ainda com quinhentos anos de idade. Já derrotou os mutantes mais terríveis das últimas décadas, e ainda assim, perdeu para uma adolescente usando um arco e flecha. E sabe por quê? Porque você mexeu com a minha família. Você subestima o poder de um sentimento de vingança só porque é vindo de um humano. Mas é isso que pessoas sem saídas fazem, Shinay: elas lutam. Você nunca sabe quão forte você é até que ser forte é sua única escolha. Estamos quites agora.

- Está errada. Eu sei muito bem como é esse sentimento... - olha para cima e suspira - Ainda não - a chinesa agarra a nuca de Nina e a aproxima de maneira violenta, onde morde-a bem no pescoço. A jovem berra desesperada tentando se soltar, mas só consegue sua liberdade após um chute que Morgana dá na cabeça da chinesa -. A única à altura para me derrubar - ela diz, quase sem vida, a parte mais intrigante, é o fato de haver um tom positivo em sua voz - pensei que seria seu pai - ressona a última fala em um sussurro -. Eu escolho você.

Ela fecha os olhos, se entregando a guerra perdida, e Renzo empurra a lâmina dentro dela, e a mantém lá, ele esperava pelo líquido vermelho começar a jorrar pela boca, mas surpreendentemente, Shinay simplesmente se desintegra diante dele, como pó, simplesmente sendo levada pelo vento. Estava feito.

"A lenda do Chipe está morta".

Isso foi a última coisa que Renzo pensou antes de desmaiar no chão, chamando a atenção de todos presentes, ou dos que estavam acordados, pelo menos.

Porém, mal sabia eles que naquele momento, outra lenda se iniciava.

Nina: A Lenda de ChipeOnde histórias criam vida. Descubra agora