Adaga

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"Admito que sinto falta da carne infantil" pensa a bruxa ao entrar no templo onde seus filhos a esperava animados e apreensivos para o início do costumeiro ritual.

Shinay sempre apreciou o sabor da inocência dançando em seu palato após cada sacrifício de criança, mas sua felicidade durou poucos séculos graças à Renzo Hawkins. Agora todos esses passaram a serem feitos com homens e mulheres maiores de idade, onde já tinham a liberdade de se entregarem as garras da Bruxa Mãe por livre e espontânea vontade. Ritual esse onde sua frequência vem se reduzindo a cada ano. Não existe mais tantos crentes querendo se sacrificar por aí.

A dona as madeixas brancas adentra o cômodo de pedra, onde é reverenciada por seus quatro seguidores à se curvarem, mania da qual todos já tinham sempre que ela entrava em qualquer recinto. E alí, ao canto, já podia ver sua oferenda amarrado ao um poste de madeira. Também nota que o mesmo se encontra amordaçado, não é um sinal comum.

- A igreja de Yan Jin mandou ele como oferenda para a senhora hoje, vossa mãe - Vampira anuncia se colocando de pé e a olhando, agora de cabeça erguida.

- Oferenda da igreja? Ele não se ofereceu?

Isso já justificativa o motivo do homem já estar amarrado e amordaçado ao poste e não esperando pacientemente a benção do demônio da qual muitos chamam de "mãe".

- Não, senhora - Xima a responde e abaixa a cabeça. Não havia muito o que fazer.

- É mutante? - indaga, passeando os olhos negros por cada um de seus súditos.

- Sim - Berk a responde sem reverência alguma, deixando evidente sua intolerância para com tudo aquilo. Em alguns momentos, o comportamento arrogante do ruivo fazia a Bruxa pensar que ele não gostava muito dalí.

- Nelis, meu amor - chama o outro gêmeo -. Qual o dom da minha oferenda?

- Manipulação do metal, minha mãe - a responde com a fronte abaixada -. Foi um grande espadachim, dava aula para crianças de projetos comunitários em Chongqing.

- Então ele é Chinês? - ela vira levemente a cabeça, olhando para o oriental outra vez - Um irmão - sentia-se levemente decepcionada por isso. Não gostava de ferir nativos de seu país de origem, mas graças a Renzo Hawkins, ela não tinha as mesmas opções de antes.

E sem desviar os olhos do homem, e falando entre os dentes, ela dá a seguinte ordem:

- Preparem tudo.

• •

Pendurado, agora no alto do poste de madeira posicionado ao centro, no altar de sacrifício, jazia a nova vítima dos rituais macabros da Bruxa do Chipe.

Em um impulso, a mesma levita ao encontro do rapaz. E o olhando nos olhos, começa a balbuciar palavras incompreensíveis, ainda sem desviar os olhos do homem. Lá embaixo, Vampira, Corcunda Bob, Nelis e Berk acompanhavam a aquela oração tétrica, clamavam em tom mais baixo que a bruxa, a voz dela sempre se sobressaía. Sempre. O que para eles era um cerimônia linda, na verdade é um dos rituais mais assombrosos aos olhos de qualquer um em sã consciência.

- A BENÇÃO! - Shinay grita, interrompendo a oração de surpresa - Está dada - informa. Então beija o homem, beija-o nos lábios, um beijo da qual não foi correspondida. Poderia dizer que era culpa da mordaça, mas sabia que não. Ele não queria estar alí. Então ela se afasta, o suficiente para lhe falar - Está fazendo parte de uma coisa muito maior, filho meu - passeia com uma das mãos na bochecha do rapaz. E com a outra ela enfia mão no tórax dele. O mesmo tem o berro abafado pelos panos em sua boca, mas nada o impediu de arregalar os olhos daquela maneira... em pânico. A mão vai de encontro ao coração do rapaz, onde ela o apalpou. Era um coração forte.

- Desçam dele - ela retira a mão de dentro o moço ainda vivo.

Imediatamente todos lá embaixo se agilizam e com cuidado movem o corpo para o altar de pedra logo abaixo do poste de madeira e colocam o corpo agonizando sobre a cama de pedra.

- Contemplem outra vez, meus filhos. A adaga de Cain! - ela faz um aceno positivo de cabeça. Corcunda Bob se aproxima com uma caixa de madeira entalhada em mãos, esta era claramente uma relíquia, e é posta ao lado da mãe, ela abre, e alí uma belíssima adaga com lâmina de prata repousava sobre um acolchoado de panos escarlate de seda, tinha ao final do punhal, incrustada, uma grande pedra preciosa vermelha, todos, exceto o homem torturado, abaixam suas frontes em reverência à arma também. Mais um implorar abafado é vindo da vítima.

- Bob - ela chama de maneira serena -, onde, filho?

- Aqui, mamãe - ele aponta o dedo indicador bem na testa do rapaz - o ponto de comando dos poderes dele se encontra no lóbulo frontal.

Sem aviso prévio a lâmina atravessa a testa do homem.

Balbuciando outra oração, é notório a presença de feixes de luz deixando o crânio do homem e subindo por toda extensão do cabo até a ponta, parando sobre a pedra onde estava sendo concentrada a maior parte dos dons que alí estava sendo roubado, junto a vida dele.

- Meu Toten - ela continua, Xima a entrega uma grossa gargantilha feita de ouro, incrustada com diversos tamanhos, cores e formas diferentes de pedras preciosas. Tocando com a ponta do cabo da adaga, já retirada do banho de sangue, é transferido os dons para uma das pedras fixadas alí, na intenção de uso tardio.

- Está feito!

Uma reverência é feita por todos, até pela bruxa, que assim como sempre faz ao fim de todas as suas cerimônias, o homenageia com uma singela lágrima de gratidão.

Uma reverência é feita por todos, até pela bruxa, que assim como sempre faz ao fim de todas as suas cerimônias, o homenageia com uma singela lágrima de gratidão

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- Escrevam o nome dele na parede - ela comanda. E com a adaga coberta pelo sangue do rapaz é escrito o nome dele ao lado de outros milhares na mesma parede em Nina notara as escritas, duas noites atrás.

Com o punho cerrado, Shinay esmurra a testa do homem, quebrando o osso frontal e abrindo espaço no mesmo local onde havia encravado a adaga. Com a mesma mão ela afunda no encéfalo, arrancando a maior parte que consegue da carne e enfiando na boca, assim, drenando os últimos resquícios dos poderes de seu "irmão".

Só após terminar aquela bizarra refeição, ela ergue a cabeça, dando um aceno positivo e limpando a boca com o dorso da mão.

- Bom apetite, meus filhos - ela dá um passo para trás antes de atacarem a carcaça ensanguentada e se alimentarem como lobos famintos. Xima, com seus dentes afiados, ajuda Corcunda Bob a rasgar a carne, para que o desengonçado também possa comer bem.

Shinay resolve colocar sua gargantilha, na intenção de sentir outra vez todo o poder armazenado alí, agora com um a mais. O que ela não esperava, era que a super audição furdada em uma outra cerimônia e guardada no colar lhe desse a oportunidade de ouvir os passos de quatro jovens petulantes em sua casa à alguns metros dalí. E graças ao super olfato dado também no colar, já conhecia bem de quem se tratava. Estavam na porta da caverna onde havia os prendido outra noite.

Com um estalar de dedos, seus súditos param a refeição e a observam, esperando o comando, até a mesma dizer:

- Pegue-os.

Nina: A Lenda de ChipeOnde histórias criam vida. Descubra agora