Aproveitamos o restinho dos dias que o pacote de viagem nos proporcionava, apreciamos as férias no Chipe enquanto meu pai se recuperava, mas dessa vez o propósito era somente esse: curtir. Sem assunto de mortes, negócios ou perseguições. Só curtimos a ilha tão linda que não nos preocupamos em ver antes por causa da nossa missão suicida. E quer saber? Valeu a pena cada segundo!
Agora estamos voltando na mesma embarcação da qual viemos. Próxima parada? Tuvalu. Lá pegaremos o avião de volta para nosso país.
Observo papai e Kevin se entretendo no assunto das manoplas, estão sentados à mesa de jantar e Morgana ao lado de Kevin comendo um de seus sanduíches:
- Como exatamente elas funcionam? - indaga meu pai entusiasmado sentado ao lado de Kevin.
Desde que nos acomodamos na embarcação, meu pai se mostrou interessado pelos dispositivos e só está se empolgando a cada informação extra que recebe sobre as mesmas.
- Quando eu giro os pulsos - Kevin continua -, engrenagens são ativadas para gerar energia cinética, o gerador que absorve essa energia produz partículas orgânicas, por isso são capazes de afetar o organismo humano. Agem glândula pineal estimulando melatonina. Rebaixa as atividades fisiológicas e neuromusculares, pondo o afetado para dormir. E tudo isso desenvolvido em nanotecnologia. Por isso consegui produzir tanta coisa em um dispositivo pequeno.
- Isso é fantástico! - bate as mãos na mesa - Pense em como mais isso pode contribuir para avanço de tratamentos médicos! Podemos utilizar a mesma técnica para estimular a endomorfina à liberar maiores quantidades de endorfina em pessoas com depressão. Ou as suprarrenais para liberar dopamina! Claro que deveria passar por testes rigorosos e algumas modificações, pois os raios de energia da sua manopla é programada só para estimular o encefálo, certo?
- É...
- Mas o princípio é o mesmo! E como os orbes localiza a glândula? - meu pai está tão empolgado que não é capaz de deixar Kevin terminar suas falas.
- Pela identificação... - o menino é interrompido outra vez.
- É claro! Pela identificação do tipo de tecido... E talvez pelo contorno encefálico único também! - ele suspira, nunca vi uma pessoa tão entusiasmada em toda a minha vida - Kevin, o que você criou aqui pode acabar com mal de Parkinson. Podemos também aplicar novamente esse processo para trabalhar no coração. Não liberando hormônios, obviamente, mas para trazer estimulos cardíacos ou torácicos em paradas cárdio respiratórias, poupando a equipe de saúde das realizações de massagens cardíacas!
Eu posso até ver o que Kevin está pensando. Ele está com vergonha por ter criado as manoplas no motivo fútil de querer ter poderes também. Elas são ainda mais incríveis sob o olhar de um visionário.
- E isso é só o começo... - papai prossegue - Eu mesmo faço questão de patrocinar a sua pesquisa. Irei reabrir o meu laboratório em pesquisa histórica onde realizávamos datação por carbono de fósseis e outras relíquias antigas. Tenho o espaço e alguns equipamentos para que comece. Também tenho amigos que vão adorar fazer parte.
Kevin chorou.
Esse era o sonho dele desde que entrou para a faculdade: receber seu tão sonhado patrocínio.
- O-obrigado, senhor! Muito obrigado! Prometo não decepcioná-lo - Kevin une as mãos frente ao peito como se fizesse uma prece de gratidão.
- Uma genialidade como a sua não pode ficar parada. Não pode receber limites, Kevin. Me surpreendo como não tenha conseguido ajuda antes...
- O mundo está mais focado nos centers, senhor.
- Não mais, menino, não mais! Fui um dos pesquisadores histórico-científicos mais influentes da minha época quando estava na ativa. Eu, pequeno Kevin, irei te colocar no topo.
- E ele nem é center - Hitan completa com bom humor. E isso faz papai voltar a atenção para ele.
- E você? Qual a sua intenção com a minha filha?
Hitan engasga imediatamente com a própria saliva. Dou leves tapinhas em suas costas na intenção de ajudá-lo.
E o olhar do meu pai permanecia sério sobre ele.
- Somos apenas amigos, senhor.
Seguro minha risada o máximo que posso, mas acho que não contí o sorrisinho no rosto.
- Tem sentimento aí - meu pai conclui, apontando o dedo para nós, mas não dá mais atenção e vira para frente, voltando a conversar com Kevin que fazia cafuné na cabeça da Morgana encostava em seu ombro.
- Ai - resmungo baixinho, chamando atenção do loiro.
- Que foi?
- Meu pescoço ainda dói - reclamo relembrando da mordida que Shinay me dera algumas noites atrás.
- Depois de todos os esses dias já deveria ter parado. Já até cicatrizou.
- Não sei mais o que tá acontecendo. Preciso de outro analgésico! - me irrito.
Hitan pega a caixinha de medicamentos de seu bolso e tira um para me entregar.
- Não pode ficar se medicando assim, assim que voltarmos, você vai ao médico.
- O que acha que pode ser?
- Não quero causar alarde, mas da forma demorada que cicatrizou, como cicatrizou e por ainda doer, minha sugestão que é tenha sido envenenada - me assusto -, mas ainda precisamos fazer exames. Você não vai morrer por isso. Não tem sinal de inflamação ou necrose. Provavelmente seu sistema imunológico conseguiu dar conta do principal - ele dá um tampinha em meu ombro - seu sistema imunológico center!
É tão estranho isso. Eu? uma center? Estou tão surpresa que a ficha nem caiu. Talvez nunca caia, já que meus poderes não produzem nenhuma reação espalhafatosa, como os de Morgana, não preciso aprender a controlá-los. Eles estão alí, mas é como se não estivessem.
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Nina: A Lenda de Chipe
RandomEm uma realidade onde existe mutantes, Nina Hawkins acabara de perder sua mãe para a tuberculose. E é prosseguindo em sua nova vida que ela descobre que pode não estar tão sozinha quanto pensa ao encontrar uma suposta pista sobre o paradeiro de seu...