Ilha (parte 2)

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Ao passarmos por grandes muros de pedra, olho em volta, admirando o enorme espaço que aquelas antigas colunas insistem em proteger. É uma grande arena. Tão antiga quanto os muros. Com arquibancada também em pedra e o centro ainda de terra batida. Onde vemos alguns homens carregando madeira e as empilhando de forma calculada no centro da mesma.

- Uma fogueira - Morg observa animada... só que animada do jeito "Morgana", que é basicamente olhar para alguma coisa e sorrir -. Que acolhedor.

Como se a loira tivesse apertado um gatilho, Nikau abre o sorriso mais entusiasmado que eu já vi alguém dar na vida.

- Essa noite terá uma apresentação da tribo Hragiasz aqui - ele começa a explicar -, é a tribo mais antiga da ilha. E estão todos convidados - junta as mãos na frente do peito olha para cima, parecendo se recordar de algo -. Tem danças originárias, lendas, brincadeiras e comida nativa.

- É como uma social - Hitan conclui, parecendo não muito enérgico com o evento.

- Social... - Nikau diz, parecendo ter dúvidas - Não sei o que é isso, mas se chegar perto do que temos aqui, com certeza é muito bom - sorri -. Todos da ilha estarão aqui. Os Hragiasz já não fazem uma apresentação tem uns três anos, vocês tiveram sorte em ter a oportunidade de ver. Será épico! - comenta, sem desfazer o sorriso - Bom, meus inocentes visitantes, neste lugar onde estão, no passado, era da qual se traçava grandes lutas até a morte entre líderes das três tribos para decidir quem iria governar a ilha pelo ano seguinte. Era tudo decido na briga.

- Nasci na época errada - escuto Morg comentar consigo mesma. E tenho certeza que os outros também.

- Até os centers? - Kevin pergunta com a mão levantada.

- Naquela época não existiam muitos centers na ilha, e os que tinham, eram escondidos ou deportados para sua própria segurança. Mas após um tempo, passaram a ser escolhidos para guardar e proteger os vilarejos e moradores.

- Proteger do quê? - Hitan pergunta antes de mim.

- Da bruxa - Nikau responde -. Mas isso será contado melhor durante a apresentação esta noite - encerra o assunto -. Vamos andando. Tenho que mostrar nossas fontes naturais termais.

- Ouviu isso? - me aproximo rapidamente de Morg, tocando seu braço.

- Não trouxe biquíni - responde sem dar importância.

- Não. Não tô falando das fontes - seguro delicadamente seu braço de forma que retarde seus passos e peguemos uma certa distância dos rapazes -. Nikau disse que todos da ilha estarão na apresentação da tribo.

- E daí? - ela diz sem entender - Não é porque todo mundo vai que nós temos que ir também.

- Não é isso, Morg - suspiro -. É a chance perfeita pra subirmos aquela trilha e explorarmos por nós mesmos - consegui a atenção dela -. A gente nunca vai descobrir o que viemos procurar tomando banho em água aquecida por alguma câmara subterrânea de calor no subsolo da ilha.

- Como vamos fazer isso? - indaga, mais interessada.

• •

- Se quisermos ir lá, é só a gente solicitar o guia, oras - Kevin fala logo antes de dar uma grande mordida em sua maçã.

Após a exploração na manhã, resolvemos vir ao restaurante almoçar. Já que o almoço não estava incluído no pacote que eu fiz, então pagaríamos por ele.

- Claro! Para nos dizer onde pisar, o que pegar e até onde ir - Morg ironiza com a cara debochada que sempre costuma fazer aos comentários inocentes do Kevin -. Se toca Kevin! Se a gente vai ir a fundo nisso, temos que o fazer sozinhos.

- Tem razão - Hitan se pronuncia, concordando com a loira -. Achei engraçado o que Nikau falou. Que podemos ir aonde quisermos, mas nunca disse se podemos ir sozinhos.

- Que bom que alguém entendeu - Morg joga as mãos para cima e se vira para mim após rolar os olhos -. A propósito, amiga, você paga o meu almoço.

- Qual é, Morgana? Você é rica - Hitan rebate.

- Meus pais são ricos - corrige -. Eu sou só mal acostumada.

Dá de ombros antes de pôr uma batata frita na boca.

- Galera - chamo após engolir minha fatia de abacaxi -, a gente tá muito perto de descobrir alguma coisa.

• •

As chamas altas que atingem metros de altura anuncia à todos que a fogueira foi acesa e que a apresentação iria começar. Sentados na arquibancada de pedras, começarmos a prestar atenção junto a outros telespectadores curiosos. Não tem muito turista aqui, mas já é o esperado já que não se trata de uma ilha reconhecida.

- Há muitas luas atrás - uma nativa aparece por detrás das chamas, dando início à lenda mais famosa do Chipe. A lenda da Bruxa -. Aqui, na remota Ilha Chipe, uma bruxa vivia, que aterrorizava aldeias. Espalhava escuridão e caos - ela faz movimentos de ondas com os braços, os jogando para cima -. E aqui, bem onde vocês estão sentados, era onde nossos ancestrais de refugiávam da demônia de cabelos brancos, clamando aos deuses para que os muros fossem capazes de a deter.

A partir daí, um grande tambor posicionado ao fundo começa a ser tocado, e o que era só um conto se torna uma cantiga. Alguns outros indígenas entram em ação começam a dançar a lenda da bruxa. Até um grande dragão feito pelas artesãs nativas, composto por outros participantes da apresentação que estavam por debaixo dele, começam a passear ao redor dos que compunham outros personagens. Muito parecido com o folclore chinês e seu dragão. Talvez porque a bruxa do Chipe, na verdade era chinesa.

Dou uma olhada ao redor. Todos estavam extremamente focados na dança.

É a nossa deixa.

- Gente - chamo meus amigos, que também fazem parte da atenta platéia -, temos que ir. Agora.

- Só porque eu tava gostando - Morg reclama, puxando Kevin pelo colarinho da camisa, já que ele não havia prestado atenção quando eu chamei.

- Se abaixem - aviso baixinho logo antes de começarmos a subir as escadas de pedra para que ninguém nos veja.

Com o tronco curvado para frente, subimos as escadas o mais rápido que podemos até passarmos pelos espessos muros que cercam a arena, pegando a trilha que nos trouxe até aqui logo em seguida, e que também leva até à outra onde parei Nikau mais cedo.

- Chegamos - Morg diz ofegante, assim que nos aproximamos da entrada a trilha fechada.

Paramos os quatro, um ao lado do outro, na entrada da mata. Olhando apreensivos o breu daquele lugar. Posso sentir meu coração pulsando em meus tímpanos e a adrenalina em meu corpo adormecendo meus punhos cerrados.

- Vamos logo! - Kevin chama, correndo na frente, e isso já é o suficiente para sairmos do nosso transe, pegando o impulso de irmos logo atrás.

Sorrio. Feliz por estar aqui com meus amigos. Não escolheria mais ninguém no mundo para estar aqui comigo.

Agora sim estou pronta para explorar o Chipe.

Nina: A Lenda de ChipeOnde histórias criam vida. Descubra agora