Embarcação

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Meus amigos afirmaram que não me deixariam ir até o Chipe... Não sozinha. Assim, aceitando o meu convite.

Suas reações foram a mais diversas uma das outras, mas no fim o resultado foi o mesmo: todos embarcando em um avião de Queensland para Tuvalu.

"Está fodidamente enganada se acha que vou deixar você ir para o fim do mundo sozinha" sorrio, me recordando da primeira resposta, que foi a do Hitan.

"Bom... Para mim, ou é ir para o fim do mundo com meus amigos, exceto Kevin, é claro. Ou ficar em casa brigando com meu irmão pelo controle da TV. Tirando o fato que vocês irão precisar de uma center para protege-los. Tô nessa!" Morg conclui em seguida, mas tenho certeza que ela está vindo mais por curiosidade do que por altruísmo.

"Vou manter vocês informados sobre as novidades daqui por SMS" e essa foi a resposta do Kevin.

E depois de dizermos que lá não tem sinal de celular e o uso de aparelhos eletrônicos são controlados, foi que ele disse que não iria mesmo. Para um estudante de engenharia robótica, ficar sem eletricidade é o mesmo que ficar sem ar. Mas depois a Morgana ameaçou pegar o cachorro dele para trazer com a gente e ele topou para deixar o cão em paz.

Agora estamos em um grande barco pesqueiro, finalmente à caminho da ilha Chipe... E a única coisa que consigo pensar é o quanto o meu estômago se retorce em ansiedade... E talvez um pouco de medo também. O guia da ilha já está pronto para nos receber e nos apresentar a mesma, onde vamos conhecer e experimentar a cultura dos povos que vivem lá também.

E fazer as nossas pesquisas por conta própria por fora.

Tento pensar em outra coisa que me faça acalmar já que não consigo dormir, ao contrário do Hitan desvalido ali do lado. Talvez eu deva começar finalmente a prestar atenção no que o Kevin tanto me conta sobre o projeto dele. Não consigo ouvi-lo por causa do nervosismo, mas agora preciso para me distrair e não acabar entrando em pânico e me atirando na água.

- E ela é capaz de projetar esses orbes...

- Espera - o interrompo -. Ela já faz isso? - indago.

- Então... - ele prossegue, incerto. Inclinando um pouco a cabeça para o lado e arqueando as sobrancelhas em uma expressão pensante - Ainda estou trabalhando nisso. Mas esse não é o ponto, Nin! Esses orbes fazem com que, imediatamente, a pessoa atingida entre em um sono profundo por alguns minutos... Mas podem se tornar horas com algumas melhorias! Que pretendo conseguir com patrocínios - ele diz, de uma forma mais empolgada que o normal. Quase pulando no acento do barco, logo antes de dar uma mordida no seu sanduíche de atum.

- Olha, Kevin. É uma ideia incrível, mas tem certeza? - digo, preocupada.

Meu amigo é muito inteligente e tenho certeza de que ele é capaz de fazer isso dar certo, mas tudo o que tem de inteligente, tem de atrapalhado. Ele poderia acertar a si mesmo com a própria arma ou, na pior das hipóteses, cair em mãos erradas.

- Pensa um pouco, Nin. Se funcionar, eu posso modificar para outras funções. Com isso eu vou poder mostrar para o mundo todo que não é preciso nascer um center para poder fazer coisas incomuns.

- E para quê você quer ter super poderes, Kevin?

- E por que alguém não iria querer? - rebate, de boca cheia.

- Bom... - olho para cima, observando as nuvens, analisando meu pondo de vista antes de dizê-lo - Às vezes eles são uma benção, mas também podem ser uma maldição - digo por fim, lembrando de muitos casos catastróficos de acidentes que aparecem às vezes nos jornais.

- Por exemplo? - questiona.

- Uma bruxa demoníaca mafiosa em uma ilha remota no mundo pode querer te raptar para te devorar - Morg aparece do nada, interrompendo nossa conversa. Pega o sanduíche da mão do Kevin e dá uma mordida -. Nossa, isso tá bom - aprova o lanche.

Hitan continua babando deitado sobre uns cobertores no canto.

- Onde tava? - pergunto à minha amiga.

- Flertando com o capitão - devolve o sanduíche -. Kevin tá falando da "manopla de camomila" que nunca dá certo? - debocha, fazendo aspas no ar sobre o nome que inventou.

- Escuta, eu tô trabalhando nisso, ok? - Kevin retruca, ficando emburrado com a implicância da loira.

- E desde quando ser um suco de maracujá ambulante é um super poder?

- E pelo menos não pode machucar ninguém - Kevin retruca, se referindo ao poder da Morg.

- E quem falou que eu não gosto de machucar as pessoas - se apoia na mesa, inclinando na direção do Kevin de forma intimidadora.

- Ok, galera - interrompo. Evitando uma suposta futura discussão. Se bem que acho o Kevin incapaz disso -. Vamos mudar de assunto, já?

- Tipo o quê? Obrigar o Hitan a tomar banho? - Morg fala enquanto se senta ao lado de Kevin.

- Isso seria um assunto de utilidade pública - rio -, mas quero que deem uma olhada nessas montanhas - abro o diário na direção deles apontando alguns rabiscos. Era o desenho de uma montanha onde havia vários círculos feito de forma aleatória em torno da entrada de algumas cavernas desenhadas alí - Olhem essa caverna. Conseguem ver a semelhança entre elas?

Kevin franze o senho notando também.

- Elas seguem um mesmo padrão - comenta.

- Exato. Exceto por essa - mostro uma caverna com a entrada bem maior, porém mais complexa. Se ela fosse mesmo como na imagem, precisaríamos de equipamentos de segurança para não nos machucármos ao entrar na mesma.

- Então já sabemos por onde começar a procurar - Morg conclui. E sorrio para ela em concordância.

• •

- Tudo bem, crianças - o co-capitão fala enquanto se aproxima da mesa que estamos -. Estamos na metade do caminho. Em cerca e duas horas estaremos lá - o homem alto e negro informa, com um sorriso simpático, que retribuo.

- Obrigado - Kevin agradece por nós e o homem se retira após assentir.

- Acho que vou fazer como o Hitan e tirar um cochilo - me levanto, indo em direção aos leitos improvisados que Hitan fez com nossos cobertores, me segurando nas paredes instáveis da embarcação que balança de acordo com as oscilações do mar - ...ou pelo menos tentar - digo, ainda pensando em minha ansiedade e se ela era mesmo tão necessária assim.

• •


- Nin - escuto a voz de Kevin distante me chamando -, chegamos. O guia está nos esperando - ele me chacoalha levemente na intenção de me despertar.

- Hum - murmuro, sonolenta -. Tá bem, estou indo - ao me levantar, percebo o quanto eu dormi ao ver quão tarde é -. Parece que foi bem mais que um cochilo.

Nina: A Lenda de ChipeOnde histórias criam vida. Descubra agora