Bolinha de madeira

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- Não me lembro de ter dito o meu nome - pondero. Não nego que estou começando a ficar nervosa.

Ele ainda sem desviar os olhos vidrados em mim, ele responde:

- Você não disse.

Olho profundamente aqueles olhos grandes e negros por um tempo, analiso cada detalhe, não somente nele, mas também sobre toda a situação que vivemos até o momento. Meu coração queima, contraponto o gelar que corre pelas veias do meu corpo.

- Pai - concluo em um único suspiro fraco do ar que deixa meus pulmões, a adrenalina deixando meu corpo anestesiado. Eu tento me mexer, me aproximar, mas nada acontece, permaneço onde estou. E algo me diz que ele está igual a mim.

Em meio a nossa surpresa, nem percebemos meus amigos se retirando cautelosamente na intenção de nos dar um pouco mais de privacidade

- Como? - estou praticamente sem voz -... Você ainda está vivo - quebro o silêncio que se instalou entre a gente.

- É uma longa história - ele responde em uma expressão nada animada.

- Acho que temos bastante tempo - retruco.

Ele me analisa por mais alguns instantes, logo antes de seu olhar me dizer que ele me contará, dando-se por vencido pela minha convicção.

- Eu precisei fazer isso...

- Eu sei, pai - o interrompo -. Já conheço o herói do Chipe - ele precisa saber que não tenho raiva dele -, mas agora eu preciso conhecer Renzo Hawkins, o meu pai. O que te fez estar aqui?

Ele respira fundo.

- Eu não podia deixar a Bruxa continuar fazer o que estava fazendo e sabia que podia detê-la. Então fiz pesquisa, recolhi relíquias místicas que soube que poderia me ajudar, acredito que já tenha as visto e... - ele para e me observa com olhos lacrimejantes, transmitem dor, mágoa - Nina... eu juro que deixar você e sua mãe foi a coisa mais difícil que já fiz em toda a minha vida.

Ele não está me contando tudo.

- Pai! - ergo o dedo indicador, um sinal para que pare - Por que você está aqui? - enfatizo a pergunta - O que ela fez para você? - começo a ficar irritada por estar começando a me sentir lesada em relação tudo aqui.

Ele espreme os olhos em uma expressão de agonia. Engole à seco. É nítido o fato de que falar sobre isso é doloroso para ele... mas eu mereço saber.

- Ela raptou o seu irmão.

Não me movo.

Não consigo.

Sinto que o meu cérebro parou ao invés de processar a informação.

Permaneço estatística, mas ainda com o fio de voz que me resta, consigo indagar:

- Eu tinha um irmão? - ele balança a cabeça positivamente.

- Noah, eram gêmeos.

- Como eu nunca soube disso?

- Sua mãe e eu queríamos que tivesse uma vida normal, ao invés de viver em toda essa bagunça - ele gesticula ainda em sua auria nostálgica.

- Eu merecia saber... - protesto em dor, uma dor no peito como se tivessem arrancando minha alma do meu corpo, rasgado ao meio e devolvido somente uma metade. E realmente o fizeram. Meu irmão gêmeo, duas vidas ligadas, duas almas separadas.

- Acho que nenhum de nós merecia isso - ele ergue levemente os braços, indicando a nossa volta -, mas aqui estamos...

Um barulho de alguém correndo nos chama a atenção e um Kevin euforico entra com outros logo atrás.

Nina: A Lenda de ChipeOnde histórias criam vida. Descubra agora