Manopla

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[Essa música que se encontra na multimídia é meu som preferido no mundo. Diz que todos nós podemos ser heróis, onde estivermos e com as dificuldades que tivermos. Coloquei aqui porque resume muito bem o que nossos bebês estão passando. E o que ainda passarão. Boa leitura.]

Esperamos anoitecer e partimos até  nossos bangalôs para preparamos nossas coisas. Não que o que temos faça muita diferença, mas agora já temos uma ideia do que pode estar à nossa espera, diferente de ontem, que nos preparamos somente para a exploração, e por isso só levamos água e agasalhos. Hoje estamos auxiliados com cordas, ganchos e tampões de ouvido — no caso de Morg precisar gritar — que compramos na loja de conveniências da ilha, e comida também. E não deixamos faltar remédios e curativos, claro. No fim, só faltou melhorar nossos trages de "super heróis", onde o meu se baseou em uma grossa legging preta com uma blusa de manga comprida da mesma cor, uma jaqueta com estampa camuflada e botas curtas de couro sintético. Morgana em sua calça jeans, também preta, uma regata da mesma cor e uma jaqueta vermelha do mesmo material que a calça e tênis cano alto. Hitan e Kevin usam calças jeans clara, a diferença é que o loiro usa uma blusa como a minha enquanto o negro um cardigã preto sobre uma camisa social xadrez.

Como a Morg diz: "é a cara do Kevin estar sempre apresentável como o nerd que é em qualquer ocasião".

A diferença agora é que ao invés uma ocasional camisa do Star Wars, ele optou pelas de mangas compridas. Aqui faz muito calor durante o dia, mas sabe fazer frio à noite.

Hitan fotografou o mapa exposto na recepção da enfermaria e o usaremos para nos guiar dessa vez, o que nos ajudará muito no caso de precisarmos sair da trilha. Quem diria que um celular nos ajudaria até em um lugar onde não pega sinal?

- Eu não acredito que você trouxe essa porcaria para cá! - Morgana protesta em alto e bom som, me assustando.

Me viro e a vejo olhar na direção de Kevin.

De novo não...

Olho para meu amigo e o vejo debruçado sobre sua o mochila, tirando algo de lá. Me aproximo, procurando ver o que tanto incomodou a loira.

A manopla do Kevin.

- Ela teria sido mais útil lá do que guardada aqui - ele responde se referindo à noite passada, sem dar muita importância à opinião dela.

- Claro... - ela concorda com ironia - Se funcionasse - era clara a intenção dela de chateá-lo.

- E quem disse que não funciona? - Kevin se põe de pé, arqueando uma das sobrancelhas. E me fazendo juntar as minhas.

- Você já conseguiu? - pergunto, um pouco surpresa - Você disse que ainda não tinha conseguido.

- Eu disse que precisava de ajustes - me corrige.

- E ainda precisa? - é a vez de Hitan perguntar, estava ficando interessado. Ele nunca deu importância para o fato de Morgana não se dar bem com Kevin, desde de criança. Mas quanto a mim? Bom... era que sempre eu que apartava as discussões.

- Sim - responde, abaixando a cabeça um instante para calçá-las -, mas nada que me impeça de usá-las. A manopla funciona com a absorção da energia cinética, causando a movimentação de moléculas e partículas dentro dela com um gerador específico que eu desenvolvi com nanotecnologia.

- Gerando energia térmica - comento analisando com cautela cada palavra que ele diz.

É brilhante!

- Isso - ele continua -. Nas palmas encontramos os sensores térmicos, onde se concentra em uma temperatura específica, que varia de corpo para corpo do qual eu aponto, por fim, gerando os orbes que, ao atingir a vítima, se instala na glândula pineal estimulando uma quantidade excessiva de melatonina. Variando negativamente as atividades fisiológicas e neuromusculares, pondo qualquer pessoa em um sono profundo.

- Espera - Hitan pede -, desde quando você entende de nanotecnologia? Ainda está no terceiro período da faculdade.

- Kevin é super dotado. Lembra? - comento.

- E tenho memória fotográfica - ele completa -. Trabalho nas manoplas bem antes de ingressar na universidade.

Um silêncio ensurdecedor toma o quarto quando Kevin para de falar. Olho para o lado e vejo a Morg de uma forma da qual eu diria... curiosa.

Ela está sem palavras.

Eu nunca a vi assim antes. Nunca pensei sequer que fosse possível. E muito menos passou pela minha cabeça que seria o Kevin que o faria.

- O problema é que ainda demora muito para recarregar - ele conclui.

- Quanto tempo? - Hitan prossegue.

- Em média uma hora. Só precisarei dar um jeito potencializar a ação de absorção da energia cinética. O que eu não faço ideia de como e nem tenho recursos para isso.

Por isso ele disse que precisava de patrocínio.

- E quantos tiros temos por carga?

- Cinco. Por cada mão - suspiramos apreensivos.

É muito pouco, mas tudo o que temos.

- Só tente não errar - peço, me aproximando e depositando um beijo na bochecha dele, que passa o braço pelo meu ombro, me abraçando.

- Não tenho essa pretensão - ele diz, sorrindo para mim.

- Eu espero que não haja a necessidade de usá-las - falo com certo pesar na voz, deixando meu medo aparente.

- Vai ficar tudo bem, Nin.

Mesmo com o tom positivo na voz, nem ele mesmo acredita nisso.

- Ok - Morg se pronuncia -. Nina tem o diário. Hitan, o mapa. Eu, meus poderes. E Kevin, os brinquedinhos dele. Mais alguma coisa?

- Sabe, estou achando que você está insegura pela a ideia de poder perder o cargo de mais poderosa do grupo, Morgana - Hitan alfineta a loira, tenho certeza que ele só está falando isso para dar uma força ao Kevin, mas isso não impede a loira de não gostar nada do comentário.

- Não viaja, Hitan! - a loira protesta, irritada.

Olho em volta. Todos estão prontos.

- Vamos acabar com isso.

• •

Ainda não consigo acreditar que tivemos a audácia que voltar aqui depois de tudo o que nos aconteceu. Acredito que nós nem estamos mais aqui pela necessidade de desvendar algo, mas sim, por curiosidade, ou talvez um reprimido sentimento de vingança, queremos saber mais do que nos feriu ontem.

E o bom é que dessa vez não tem gêmeos psicopatas atrás da gente.

Por enquanto...

Cautelosamente, nos aproximamos do pico de terra onde os encontramos noite passada. Verificamos se não tinha ninguém dessa vez. Tudo limpo. E com as lanternas, jogamos um pouco de luz pela mata para ver se não se tratava de alguém de tocaia esperando por nós. Ao termos certeza,  nos abaixamos detrás elevação para olhar o que se escondia alí atrás, o que os gêmeos faziam tanta questão em guardar. E...

Minha nossa!

Nina: A Lenda de ChipeOnde histórias criam vida. Descubra agora