Diário

18 2 0
                                    

- Qual é o problema de vocês? Quando é que irão embora? Hã? Não posso ficar salvando vocês - a voz de homem é a primeira coisa que ouço antes de recobrar totalmente os sentidos, o que acontece aos poucos.

Abro os olhos e vejo que estou jogada em cima do Kevin, ele também está acordando. Me levanto devagar e o ajudo.

- Desculpe, senhor - Hitan pede, ajudando a Morg que está dando tapinhas na calça escura para tirar a areia.

Noto que estamos em outra caverna, mas posso ouvir ao longe um som de água caindo, tem alguma cachoeira aqui perto. Na certeza da que estamos bem, aproveito para conhecer o homem que nos salvou. Ele já aparenta estar entrando na meia idade, mas ainda assim, é muito bonito, cabelos e olhos negros como os meus. E está parado à nossa frente com uma postura autoritária e braços cruzados.

- Foi você que nos ajudou da outra vez também? - Kevin questiona.

O homem apenas assente positivamente, com uma cara nada boa.

- Obrigado - ele agradece em um sorriso cauteloso -, mas o senhor me deve dezessete sanduíches.

- Você me deve a sua vida. Acho que estamos kits - rebate com uma voz de indiferença, dando de ombros, com seu olhar sério que já notei ser bem presente nele.

Kevin abre a boca, mas antes de ressonar algo, pensa um pouco e a fecha outra vez.

Ok. Não estamos sendo produtivos aqui. E vejo que este homem não está disposto a dialogar muito com a gente.

- Realmente lhe somos gratos, senhor - me pronuncio outra vez -. Mas se não se importa, temos que voltar para nossa missão.

- Espera! - ele me interrompe, erguendo o dedo indicador para que eu pare - Vocês irão voltar para lá? - ele aponta na direção da saída com um olhar incrédulo -. São suicidas por acaso?

- Às vezes eu acho que sim - Morg comenta nada animada.

- Vocês nem sequer sabem com o quê estão lhe dando! São turistas aqui!

- Então explica pra gente! - peço em um tom de voz alto. Ele me olha por um instante - Por favor.

Ele suspira, cedendo, talvez esteja com pena da gente. Se encosta em uma das paredes rochosas com os braços ainda unidos. Aproveito e dou uma olhada em volta. No chão se encontra pilhas que coisas; cobertores, mantimentos e utensílios pessoais, fora alguns pequenos móveis e muitas armas brancas, como lanças, zarabatana, punhais, facas, uma katana e arco e flechas. Ele mora aqui.

- O pessoal que atacou vocês são um pouco... desorientados.

- Desorientados? São psicopatas! - Morgana dispara, com o tom de voz mais alterado dessa vez devido a sua revolta.

O homem suspira e continua.

- A líder e a chinesa de cabelos brancos. A chamada Bruxa.

- Sabemos quem ela é - concluo para evitar perda de tempo com explicações desnecessárias. Ele me olha por um segundo e prossegue.

- Certo. O restante foram resgatados por ela. Possuem uma gratidão bizarra e tão grande por ela ao ponto de fazerem tudo o que ela mandar. Até darem suas vidas se necessário.

- Resgatados? - Hitan indaga com curiosidade - Quer dizer que eles não são daqui?

- Eles são considerados aberrações pela sociedade - dispara o olhar na direção de Hitan -. Sofrem de um transtorno chamado antropofagia, e ao invés de procurarem por ajuda, aceitaram sua condição, resolveram procurá-la e estão aqui com ela.

Nina: A Lenda de ChipeOnde histórias criam vida. Descubra agora