Covil

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Desperto sem saber onde estou outra vez.

Me movo devagar, mas ainda solto um grunhido com a pontada aguda de dor que sinto na cabeça ao me sentar.

- A bela adormecida acordou - uma voz masculina diz, e não posso deixar de notar o claro tom de deboche em sua voz -. Só faltava você.

- Amiga, você está bem? - ouço a voz da Morg, o que me faz abrir os olhos e erguer a cabeça, encontrando-a ao meu lado, junta aos meninos. Todos alí parados, me observando.

De alguma forma, eu me sinto aliviada por eles estarem bem, mas também preocupada pela situação em que estamos - com os pulsos atados por grandes correntes sujas presas no chão rochoso da caverna iluminada por tochas de madeira contrariando o breu da noite lá fora.

Uma mulher da qual ainda não conheci se aproxima de mim. Ela me analisa de forma sádica com grandes olhos verdes que ostentam pupilas verticais, que ganham destaque em sua pele negra de tom claro.

- Uma pena não termos nos uma apresentado antes. Pode me chamar de Vampira - ela diz, passando as longas e pontudas unhas pelo meu cabelo -. E nós vamos nos divertir muito.

- Xima! Dá um tempo! - um dos gêmeos diz irritado enquanto passa por nós, indo à algum lugar.

O outro ruivo, que antes estava a roer um osso, sentado num canto, se põe prontamente de pé com um sorriso no rosto e começa a caminhar na nossa direção com os braços abertos, como se fosse abraçar alguém. Quando alcança a distância desejada, seu sorriso se alarga.

- Sejam bem vindos ao nosso covil - ele saúda e se inclina para frente, ainda com os braços abertos. De alguma forma, o seu sorriso consegue ser mais aterrorizante do que amigável. E esse sangue escorrendo pelo canto da boca não ajuda.

- Porra, cinco estrelas esse covil aqui heim - Hitan ironiza.

- Mas foram belas as suas palavras, só perdeu para o silêncio - Kevin completa.

- Doentes! - Morg impõe, de forma ríspida por entre os dentes, e isso só causa o expandir do sorriso psicopata do rapaz. Seguido de soco forte no rosto da minha amiga, a ponto de derrubá-la.

- Morg! - chamo, me abaixando para ajudá-la a se levantar com a pouca mobilidade que tenho. Quando ela levanta a cabeça, olha o gêmeo outra uma vez de forma raivosa, cuspindo um pouco de sangue em seguida.

Hitan e Kevin não se pronunciam enquanto a ajudo a levantar. E logo vejo porquê.

Os gêmeos e a Vampira já se encontram de costas para nós, estão de mãos dadas olhando na direção de uma das entradas do covil.

Muito estranho.

- Ela chegou - o ruivo que disse antes para a morena se calar anuncia baixinho.

- Quem? - Kevin sussurra, mas não obtém a resposta. Até vermos o tecido vermelho da barra do vestido começar a se manifestar das sombras.

Sua pele pálida é coberta por um kimono vermelho de cetim, que contém delicados detalhes minúsculos. Seus longos e lisos cabelos brancos alcançam as panturrilhas, calmamente jogados para trás.

- Tenho que admitir - Morg fala baixinho próximo ao meu ouvido -. É um exemplo de cabelo sem frizz.

A mulher para bem na frente deles. E sorri.

- Disse que teriam algo para mim, crianças? - indaga, ansiosa. Até que seus olhos param na gente - Ah! - seu sorriso aumenta - São mutantes? - não dá para saber se ela perguntou para eles ou pra gente.

Ela caminha até nós e para, voltando a caminhar vagarosamente à nossa volta, olhando fixo para cada um, observando com um olhar penetrante os meus olhos, os da Morg ao meu lado, Kevin ao lado da loira e Hitan ao lado do Kevin.

Nina: A Lenda de ChipeOnde histórias criam vida. Descubra agora