Amuleto

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- Tá na hora do Rush! - Kevin esfrega as palmas das mãos de forma entusiasmada.

- Sabe que vamos morrer, né? - Hitan rebate com o humor em completo contrário do amigo.

- Não vamos morrer - Morg contradiz.

- Que certeza temos?

- Dessa vez temos um plano.

- E ela já nos conhece e está preparada pra gente.

- E não esquece o Toten armazenado com centenas de poderes - resolvo participar da conversa.

- Vocês são muito pessimistas - Morgana coloca a mochila nas costas onde havia posto dois socos inglês, cada um de nós havíamos pegado uma das armas do meu pai, esperamos ele sair para caçar e arrumamos nossas mochilas rapidamente para voltarmos ao covil da Bruxa.

- Nós vamos morrer - Hitan se dá por vencido.

- Bom, pior que isso não pode ficar - argumento com ele.

- E eu pretendo recuperar minhas manoplas também, amigo - Kevin comenta na tentativa de animá-lo.

- Estamos mortos - o loiro lança as mãos para o alto e senta, dando-se por vencido.

- Bom - começo -, se essa for a minha última noite. Sou grata por estar lutando com vocês - digo sorridente. Sinto a necessidade de dizer isso à eles.

- Olha, esse humor passiva-agressiva não combina com você, Nina - Morg diz por fim - Vamos?

• •

Naquele corredor mortífero de estalactites, andamos passo a passo, pé pós pé e em fila indiana. Tomando cuidado para não chamar atenção de alguém. Mesmo a gente contando que não tenha ninguém lá.

- Alí! - Kevin aponta para algum lugar na caverna e diz em um sussurro - minha manopla!

A mesma estava sobre uma rocha usada como mesa próximo a entrada da parte onde estávamos presos, tudo alí ainda estava uma bagunça devido a explosão que papai causou. Kevin prossegue em disparada em direção à dela, mas Hitan o barra com o braço e o diz, ainda sem tirar os olhos da entrada à frente.

- Ainda não temos certeza se é uma armadilha, Kevin. Vamos esperar mais um pouco, na hora certa você a toma de volta.

- Próximo passo? - indago, retomando ao objeto principal.

- Implantar os explosivos em cada canto desse lugar - Morgana relembra, pegando sua mochila.

- Acha mesmo que isso vai funcionar? Ela é poderosa demais - Kevin volta às inseguranças dele.

- Ela só é poderosa o bastante com aquele Toten! Sem ele, ela é apenas uma sensitiva. Uma sensitiva com capangas, mas ainda sim, só uma sensitiva.

- E o que impede ela se sentir a gente aqui?

- Peguei isso do meu pai - ergo um amuleto, com um pingente de madeira verde entalhada em uma forma incônica - isso irá nos inibir dos poderes dela enquanto estivermos dentro de um raio de três metros de distância desse pingente.

- Já estamos perdendo tempo aqui, galera - Hitan adverte -. Temos explosivos o suficiente para explodirmos a Torre Eiffel. Apenas vamos implantar os necessários e darmos o fora daqui logo.

- Parece que não tem ninguém, vamos pegar sua manopla, Kevin - digo e ele sai na frente para calça-las.

- Real, vocês estão querendo muito morrer - congelo onde estou notando que a fala não veio de nenhum dos meus amigos.

A voz do Berk chama a atenção de todos. E ao nos virarmos, encontrando ele parado bem em nossa frente, acompanhado de Xima.

- Onde está o Renzo? - ele continua.

- Viemos sem ele - Morgana o responde, tomando posição de defesa.

- Isso explica muita coisa - ele dá de ombros -. Sinto em dizer que sem ele as chances de vocês estão reduzidas drasticamente.

- Eu não sinto nada - Xima se intromete, inclinando o tronco para a frente em posição de ataque e mostrando as presas, também ouço a inspiração de Morgana ao meu lado, se preparando para atacar também.

Volto o olhar para Berk que parece avaliar as opções, ele também sabia que a qualquer movimento da Xima, iríamos reagir, e em um disparo rápido de movimento do ruivo vejo meus amigos caindo um à um, como aquela noite na cachoeira, até a minha vez de apagar.

• •


- Eu não sei vocês, mas eu já estou cansado de passar vergonha - Kevin fala.

Nos encontramos novamente pela, sei lá qual vez, presos pelos pulsos com correntes, e a Morgana amordaçada com algum tipo de focinheira de metal. Método esse para a loira não usar mais o grito supersônico.

- Não contávamos que eles chegariam tão cedo - argumento.

- Por isso análises são fundamentais antes de agir para a queda de um inimigo - Hitan rebate a mim -. Eu adoro "dizer eu te disse". Então: eu te disse.

- Não se preocupem, titio Renzo vai sentir a nossa falta - Morg fala com um estranho otimismo... E intimidade também.

- O que aquele cara fez na sua cabeça? - Kevin indaga, também estranhando a reação da loira.

- Voltamos a estaca zero outra vez - Hitan prossegue -. E agora demos a esses otários explosivos suficiente para destruir a ilha. E não fomos nem capazes de deter sequer os capangas da aspirante à deusa Cibele.

- Nossa mãe não é uma aspirante! - Xima o repreende.

Seus olhos revelam vanglória, adoração em falar da Bruxa, seus olhos brilham em admiração apenas na citação do nome da Serial Killer.

- Ela é uma deusa! Ela nos compreende. Não somos dignos, ela é a peça que faltava em nossas vidas, nos completa. Encontramos a felicidade com ela.

- Essa felicidade aí é bem triste heim, fia - Morgana rebate em um claro tom de chacota.

- Tudo é uma piada para você!

- Ela é uma psicopata! - Hitan protesta - Se vê superior à todos vocês e os manipulam à acreditar que realmente é. E com isso, transforma vocês no carrasco dela!

- Ela é superior à todos nós! - a Xima grita - não somos dignos nem de olhar para ela, mas a humildade dela é maior que a gente, o mínimo que podemos fazer, é adorá-la!

- Se vocês repararam bem, deu para ver a noção fugindo dela lá atrás - Morg sussurra com uma cara de incredulidade mediante à todo aquele absurdo.

Xima nos olha com desdém.

- Não sei porque ainda perco meu tempo com vocês! Não entendem.

- Eu entendo... - Kevin se pronuncia pela primeira vez na discussão, seus olhos fixos no chão. Me assusto. Nunca o vi tão sério em toda a minha vida - Eu sei como é andar pela rua e as pessoas te olharem com ódio gratuito só por você ser como é, te julgarem sem te conhecer. Te chamarem de marginal e te culpar apenas pela sua aparência, às vezes querendo te agredir por isso também, colocando a bolsa pra frente depois de enxergarem a cor da sua pele, enfiando sua cabeça na privada da escola alegando que você tem cor de merda. E o pior é quando você realmente passa a acreditar ser uma - ele finalmente ergue a cabeça e olha pra ela - Mas adivinha, Vampira - se inclina para frente -. Não vai melhorar com você se escondendo atrás das outras pessoas. Não somos culpados por nascermos como somos, mas somos responsáveis pelo o que fazemos com isso.

O olhar oscilante da morena revela o quão sem palavras ela ficou.

Meu coração está despedaçado. Como alguém poderia fazer mal a Kevin? Ele é tão inofensivo.

Ainda sem falar nada, seus olhos se comunicam com a gente. Tristeza. Os olhos lacrimejam em dor. Ela suspira, pisca algumas vezes e então dá as costas para nós, se retirando daqui.

Nina: A Lenda de ChipeOnde histórias criam vida. Descubra agora