Máscara de Gás

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- Já até sinto o calor do seu sangue escorrendo pelas minhas mãos - a bruxa dá um passo em minha direção com um sorriso diabólico.

- Mamãe, ele irá nos matar se fizermos algo com ela - Vampira se aproxima apressadamente e coloca a mão sobre o ombro da mulher.

- Cale-se, Xima - ela ordena, e a morena abaixa a cabeça.

- Gente, não querendo interromper - Morg se pronuncia, praticamente sem ar -, mas se não se importam, podem pelo menos largar a minha garganta enquanto se resolvem? - pede com a voz estrangulada pelas mãos dos gêmeos em seu pescoço.

Com o acento positivo de cabeça da bruxa, os gêmeos largam a loira, que cai no chão tossindo, a arrastam para o lugar de antes e a prende nas correntes outra vez.

- Mas tem razão, filha - a bruxa continua, referindo-se à Vampira, depois volta a me encarar e sorri -. Entretanto, ela não só nos dará os poderes que queremos, como será o nosso passaporte para fora daqui. Seremos livres outra vez, meus filhos! - ela pronuncia a última frase em alta voz, ergue os braços e dá sorriso cheio de esperança.

E os aplausos de seus seguidores ecoam pela caverna.

- De que porra eles estão falando? - Morg indaga, com o cenho franzido como o meu, mas eles não a escutam. Estão ocupados demais comemorando algo.

- Acho que não vão nos dar ouvidos, Morg - falo -. Só nos resta esperar.

• •


- Só precisamos dos olhos - a Vampira fala.

- Sim! Ela pode viver sem os olhos - o corcunda completa com sua voz nasal.

Já estou a ponto de ter outra crise de pânico ouvindo o grupinho dos assassinos em uma discussão para decidir o que fazer com a gente...

Com a gente não. Comigo.

Mesmo assim, eles falam e falam e eu não entendo nada.

- Gente, é impressão minha ou eles estão falando em arrancar os olhos na Nina? - Kevin comenta baixinho.

- Quando eu salvei ela noite passada daquele gêmeo esquisito - Morg explica, ainda no mesmo tom de voz dele -, ele estava tentando abocanhar um dos olhos dela, só não conseguiu porque se atrapalhou com os óculos...

Volto minha atenção para o grupo a frente assim que o ouço o nome "Hawkins" outra vez vir de lá.

- Ele irá aceitar uma filha cega? - um dos gêmeos questiona, não gostando da ideia.

- Quem sabe um dos olhos então? - o outro opina em seu costumeiro sorriso perverso.

- Ele irá aceitar o que dissermos! - a morena fala, já sem paciência - Nós a temos nas mãos! Podemos fazer o que quisermos com ela...

- Ok, já chega - ignoro os burburinhos deles e olho para meus amigos outra vez. Falo baixo -. Nos precisamos sair daqui. Agora.

- Como agora? - Morg me olha como se eu estivesse ficando doida.

- Eles não vão demorar muito para agir - explico -. E alguma coisa me diz que se algum de nós sair vivo daqui por eles, serei somente eu.

Hitan dá uma outra olhada neles e ainda estão entretidos em suas conversas. Então volta a olhar para nós.

- Eu tenho um plano.

• •


- Isso vai terminar em um dilúvio de merda - Morg resmunga, ficando em posição. Ela será a distração.

A loira tenta se posicionar de uma forma em que consiga usar seus poderes sem ocasionar o desmoronamento da caverna. Quando finalmente encontra o ângulo ideal faz um aceno positivo de cabeça para nó

- Aê, idiotas! - Kevin chama a atenção deles, todos param de falar e o encaram sem entender muita coisa.

Rapidamente tapamos os ouvidos.

- SCREEEEE

O soar do grito da Morgana causa um leve tremor no recinto, fazendo pequenas pedras e areia se desprender das paredes e teto.

- Ei! Pare! - o corcunda Bob anda na direção dela, apavorado, na tentativa de fazê-la parar, mas antes que ele a alcance, Hitan faz um movimento rápido com a corrente que o mantém atado e pretendo o homem pela garganta, fazendo um leve estrangulamento. E o pobre homem começa a chorar pedindo socorro. Sei que Hitan não está machucando ele, mas ele está com medo.

Morg para de ecoar.

- Solta a gente! Agora! - mando.

Eles apenas ficam parados olhando para nós. Hitan aperta mais a corrente em volta da garganta do center, que grita mais em desespero.

- Mamãe, por favor - ele implora à bruxa, que o observa com um olhar indagado, parece estar cogitando a importância dele.

Em um suspiro derrotado, ela diz:

- Solte-os.

Os gêmeos e a Vampira vem em nossa direção, e com uma única chave, abre todas as algemas das correntes.

- Para trás! - mando, me colocando na frente do Hitan com o Bob. Morg se põe na nossa frente e Kevin ajuda Hitan a arrastar o homem na direção da saída.

A entrada dessa caverna é bem mais estreita e difícil que as outras, o que estranhei, esta é cheias de estalactites e estalagmites pelo corredor rochoso que nos leva à nossa liberdade.

- O meu filho! - a bruxa cobra - Me devolve.

Já estamos há uns cinco passos da saída, então Hitan o solta.

- Espera! Não! - grito, mas já é tarde demais. Um dos gêmeos o pega rapidamente e o leva de volta para perto dos outros.

- O que foi?! - Morg me olha assustada.

Dou-me por vencida, olhando para os assassinos à frente com a sensação de peito fazio.

- Lembra a caverna que desentoa de todas as outras no diário do meu pai? Aquela à beira de um penhasco? Que não é possível nem subir e nem descer sem equipamentos de alpinismo?

- Mas que droga - a Morg diz entre dentes, logo antes de todos nós darmos uma passo para trás, nos virarmos e olharmos para baixo, a noite fria traz tanta neblina que nem dá para ver direito a mata lá embaixo. A parede rochosa que liga a entrada da caverna até o chão é tão íngrime e com pedras afiadas que talvez nem um alpinista profissional conseguiria chegar até aqui escalando.

• •


- Foi uma reviravolta lamentável - Hitan comenta, dando de ombros. Sentado no chão com a gente, todos acorrentados mais uma vez, desta, com as mãos para trás.

- Quase infartei pra nada - Kevin resmunga.

- Não podemos desistir ainda - falo baixo.

- Estou aberta a idéias - Morg diz, com olhos vagos, fixos à frente.

- Eu não sei, talv...

E um estrondo é ouvido. Abaixo a cabeça com o tremor. Por um momento, tenho a certeza que tudo vai desmoronar em nossa cabeça.

- Puta que pariu, puta que pariu, puta que pariu e puta que pariu - Morg não para dizer essas palavras feias.

Os restante que estava em pé também cai no chão, e os seguidores se esforçam para proteger a "mãe" deles.

E gás começa a invadir o interior da caverna. Um gás branco.

A última coisa que vejo é uma silhueta masculina a usar óculos de visão noturna e máscara de gás entrar antes de eu apagar outra vez.

Nina: A Lenda de ChipeOnde histórias criam vida. Descubra agora