Ilha

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Morg e eu não dormimos muito durante a noite, pelo péssimo motivo da minha amiga ser muito coruja. E se Morgana West não dorme, ninguém dorme.

- Morg - a chamo, na tentativa de acordá-la, enquanto olho o relógio -, já são dez para às oito - escuto ela dar um gemido em protesto por eu pertubá-la -. Vamos nos atrasar para o café da manhã. Nikau e os meninos já estão nos esperando lá fora.

- Hum... Já estou indo - informa em sua voz sonolenta, antes de se virar para o lado da janela e cobrir a cabeça com o travesseiro.

Bom... vou ter que tentar despertar ela de outra maneira.

• •

Após fazer cócegas na loira até ela acordar e me dar um soco no nariz, terminamos de nos aprontar e encontramos os rapazes do lado de fora. E com só cinco minutos de atraso. É uma vitória.

Com uma toalhinha sobre meu nariz ensanguentado, sigo caminhando logo atrás de Nikau para onde será servido o café da manhã, até chegarmos numa bifurcação. Ao lado direito, é uma trilha bem fechada que leva montanha acima, da qual nem é possível ver direito caminho acima com tantos arbustos e galhos insistindo em cercar a vereda. A do lado esquerdo é aberta e limpa, e mais larga também, com o caminho traçado em tábuas de madeira, com algumas placas de pau pintadas de colorido indicando alguns lugares como: "restaurante", "café da manhã", "banheiro" e "praia", todos em inglês.

Vejo que Nikau seguiu pela esquerda.

- Espera - digo, fazendo o guia parar, juntamente com meus amigos, que me olham confusos.

- Sim? - ele me olha.

- O que tem lá em cima? - aponto para a trilha ao lado.

Ele olha meio sem entender a minha pergunta. Ainda com a expressão confusa, olha para a mesma e depois novamente para mim.

- Essa é uma parte mais remota daqui, não tem nada que interessaria a vocês lá. A diversão fica por aqui - ele indica o caminho que estava indo antes de eu interrompê-lo.

- E não podemos ir lá por quê? - indago.

Ele franze o senho, ainda confuso com meu interesse repentino para com aquele lado. Não culpo ele. Qualquer grupo de jovens de férias iria procurar o lazer da ilha, da qual era o trabalho dele nos mostrar.

Mas não somos qualquer grupo de jovens de férias.

- Vocês podem ir - Nikau responde por fim - Nada aqui na ilha é proibido para os turistas.

- Então se eu quiser andar peladão por aí, tudo bem?! - Kevin questiona com um tom irônico, logo antes de cruzar os braços na frente do peito e jogar o quadril para o lado, como sempre costumava fazer quando estava sendo debochado.

Nikau abre a boca para responder, mas como se o universo respondesse por ele, no mesmo instante, um senhor idoso e de pele bem clara sai por detrás das plantas que compõe a trilha ampla totalmente nú e com um óculos de sol com o design da bandeira dos Estados Unidos.

Ponho a mão rapidamente sobre a boca para conter minha risada. Ele passa por nós todo sorridente e nos cumprimenta com um "Hello", da qual respondemos com a mesma palavra.

- Nem pense em andar pelado, Kevin - Morgana diz entre dentes. Logo depois do mesmo inclinar a cabeça para o lado e soltar um "hum", claramente considerado em fazer o mesmo.

- Pelo bem de um futuro menos traumático - Hitan completa.

Depois que o senhor já está à uma certa distância, Nikau continua a nos explicar.

- Lá se trata da área de maior interesse entre pesquisadores. Como botânicos e historiadores - esclarece -. No caso de quererem ir, eu posso chamar o guia daquele lado para levar vocês.

- Por que você mesmo não leva a gente? - Hitan questiona curioso, antes de mim.

- Porque é mais perigoso - replica -. Tem muito animal selvagem e precisa de um guia com treinamento para instruir vocês.

- Um guia center? - Morg rebate. Só não consigo saber se foi bem uma pergunta.

- É o mais indicado no caso de precisar de proteger vocês em algum momento - nosso guia assente.

Nos entreolhamos e nada dizemos. Não precisa ser dito. Alguma coisa muito curiosa acontecia alí.

- Tudo bem? Podemos continuar? - é a vez do nativo nos questionar.

- Claro - respondo, sorrindo para ele, mais esclarecida -. Desculpe.

- Tranquilo - ele diz em um sorriso sincero dando as costas para mim e descendo trilha abaixo.

• •

- Nina. Olha - tirando os olhos da Morgana a fotografar algumas flores exóticas da ilha, me viro para Hitan assim que ele me chama, o encontrando parado, apontando algo na direção das montanhas com os olhos arregalados e a outra não fazendo sombra por sobre o rosto. Olho onde sua indicação aponta procurando algo... até que também vejo.

É a caverna do desenho do meu pai.

Aquela que está fora dos padrões das outras. Tiro minha mochila das costas e pego rapidamente o diário de dentro dela, folheando rapidamente até parar na página do desenho que os mostrei no barco vindo para cá. Ergo o livro para comparar o desenho com a realidade e ter a minha certeza.

- É ela - digo baixinho.

Não estava localizada no topo da montanha, mas ainda assim, em uma parte bem íngreme entre alguns pequenos penhascos. É impossível chegarmos lá sem equipamentos de escalada... Ou um center capaz de nos ajudar.

Mas não significa que não possamos chegar perto.

- O que vamos fazer? - o loiro me pergunta assim que abaixo o diário.

- Ainda não sei... - respondo baixinho, sem tirar os olhos da caverna, hipnotizada. É a primeira pista que temos desde que chegamos aqui.

- Vocês dois? - escutamos Nikau chamar a gente com um sorriso animado estampado em seu rosto - Não vem? Quero mostrar o lugar mais arrepiante daqui.

Nossa pausa de 10 minutos havia se findado.

- Claro - sorrio. Olho para Hitan, que assente, e volto a caminhar com ele ao meu lado.

Não sei o que nosso guia vai mostrar ou onde nos levará, mas uma coisa é certa: Nada do que Nikau apresentar para a gente pode ser mais assustador do que onde o diário do meu pai nos portará.

Nina: A Lenda de ChipeOnde histórias criam vida. Descubra agora