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Salão decorado e mesas coincidentes.

Conhecem aquela sensação de estarem enclausurados numa sala que, á medida que o tempo passa, vai encolhendo cada vez mais, esmagando-nos, em que não conseguimos sair por mais que gritemos ou esperneemos? A sensação de se quererem libertar de algo e não conseguirem, por seres pressionados e “perseguidos” por forças e sombras exteriores?

Pois, é assim que me sinto neste preciso momento em que tudo parece decorrer em camara demasiadamente lenta. Sentada numa cadeira, de frente para a minha secretária, onde muitas outras estão alinhadas.

Tenho a garganta seca e custa-me a respirar. Sinto o tremendo frio nas mãos e os meus olhos cansados de não dormir á semanas. A minha perna direita está sob a minha esquerda de modo impaciente, saltitando levemente de nervosismo. A minha esferográfica, já literalmente roída, na ponta a abanar por entre os meus dedos e o meu caderno ainda completamente em branco, apenas com as linhas azuladas traçadas no pedaço de papel.

Ele está de costas. Fortes e perfeitas costas. Largas e muito robustas, arquitecturalmente bem desenhadas e pormenorizadas sem falta de nenhum músculo bem definido. A sua camisa branca cobre-lhe o tronco por de baixo do seu colete apertado em tons de cinzento e da sua gravata mais escura.

Ele movimenta-se lentamente, elevando o seu braço direito, intervalando em segundos, para escrever no esverdeado quadro. As pontas do seu cabelo encaracolado baloiçam junto á sua testa á medida que se vai mexendo. Folheia o seu grosso manual de capa antiga acastanhada.

Tem uma caneca de café, fumegante, pousada na berma da sua secretária. Consigo apreciar, a marca húmida dos seus carnudos lábios na caneca. Provavelmente mais ninguém a consegue ver, nem mesmo os restantes alunos aqui presentes. Mas eu consigo.

O giz branco, ainda comprido, volta a embater no quadro, chiando de vez em quando, dando inicio a mais uma maratona de frases e conteúdos lecionados.

A sua cintura, tal como toda parte restante do seu corpo, roda para o seu lado oposto, ou seja, para os alunos atentos e silenciosos que, assistem á sua palestra de ideias e matéria inserida no programa educacional.

De rosto rosado, mãos cansadas e esbranquiçadas devido ao giz, apoiadas na pesada mesa de madeira, tronco debruçado na mesma, de olhar verde e intenso, rodeado por marcas escuras de cansaço, cansaço de lutar, direcionado para mim.

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02 de Agosto de 2013, Portland

O salão estava a encher. Cada vez mais chegava mais gente. Elegantes mulheres acompanhadas por homens igualmente vistosos. Vestidos formalmente e com rigor, em vestidos caros e em fatos dispendiosos com alfinetes de gravata reluzentes.
Uma sala adequadamente decorada entre a cor bordô e os detalhes dourados. Mesas dispostas pelo soalho de madeira clara, cobertas por toalhas brancas delicadamente bordadas. Sobre elas estavam copos altos, com bebidas coloridas até meio do objeto de cristal e pratos ainda vazios. Aperitivos e jarras de rosas vermelhas salpicadas com pequenas gotas de água no centro. Olhando o teto, as pérolas dos candeeiros, de diversos tamanhos tilintavam entre si, devido á aragem proveniente de três janelas abertas. Continham duas lâmpadas que iluminavam um suficiente espaço do salão, permitindo a visão do recinto por completo.

Uma enorme mesa, com cerca de quatro microfones e respetivas cadeiras almofadadas, estava no fundo do salão, com mais iluminação que o restante.
Havia também, por de trás dessa mesma mesa, múltiplos posters decorativos, com o livro da mãe estampado em grande plano por todo o comprimento do pedaço de papel.

O seu nome em letras maiúsculas douradas.

Mesas mais pequenas, com napperons encarnados, suportavam os exemplares do livro que iria ser lançado, esquematicamente organizados.

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