Capítulo 47

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Nós os dois dissemos. Ambos expulsamos aquelas palavras que já não tínhamos coragem de dizer, até cinco dias atrás. E esse foi o tempo que se passou desde que eu vi o Harry pela última vez. Aqueles poucos segundos finais estavam gravados no meu cérebro, repassando cada detalhe pequeno de como ele silenciosamente formou as palavras nos seus lábios, “Eu amo-te”.

Foi uma frase frequentemente usada. Tão usada que parece ter pouco valor atualmente. Mas vindo de Harry ganhou um novo significado. Além da sua família eu duvido que ele já tenha dito essas palavras a uma outra pessoa. Talvez ele nunca desejara esse tipo de ligação com alguém, cheia de emoções, muito íntima. Amar outra pessoa.

As palavras do Harry tinham-me dado um novo tipo de força que eu não sabia que existia. Uma que me permitiu suprimir o medo pesado que habitou no meu peito quando o som de passos apressados se aproximou de mim. Eu estava a voltar da casa de Zoe, a noite envolta numa escuridão assustadora. Os meus dedos arrancaram a latinha da minha mala. Eu não queria ser vítima de intimidação novamente.

"Vai embora!" Eu gritei, virando-me para enfrentar o perseguidor.

A minha mão direita firmemente pressionou a lata, o braço estendido, como eu apontei para a figura atrás de mim.

"Merda."

Foi só então que eu reconheci as feições um pouco em pânico. Harry deu um passo atrás, enquanto esperava que eu abaixasse a minha arma. O meu coração acalmou-se, aliviado por não estar a ser obrigada a enfrentar um estranho.

"Isso é spray pimenta?" Ele falou em incredulidade. A pequena lata foi puxada, Harry lendo o rótulo enquanto eu tentava acalmar a minha respiração. "Onde arranjaste isto?"

Ela foi transferida de volta para mim e eu deixei –a cair de forma segura dentro da minha mala.

"O pai da Lucy trabalha para a polícia." Expliquei. "Tu não devias ter vindo para cima de mim."

"Eu não vou cometer esse erro outra vez." Ele brincou.

Mesmo através do seu tom brincalhão, era óbvio que o meu gesto defensivo surpreendeu o Harry. Mas conforme os segundos se passaram, um silêncio percetível pairou sobre nós. As poucas mensagens que havíamos trocado pareciam mais fáceis do que uma ligação, pelo menos não éramos pressionados a falar. Agora que eu estava diante dele eu não sabia o que dizer. A última vez que nos tínhamos falado corretamente, nós confessamos o nosso amor. O que fazer depois disso?

Olhei para o Harry, cujo lábio inferior estava entre os dentes, uma indicação do seu nervosismo. Eu fiquei mais confortável em saber que ele estava da mesma forma que eu.

"Vamos..." Ele fez um gesto para que continuássemos a andar.

"Sim".

Enquanto caminhávamos eu secretamente observei a sua mão hesitante, sem saber se tentasse segurar a sua ultrapassaria os limites que agora existiam entre nós. Para mim não havia limites, era apenas o medo do Harry.

"Eles perceberam, Harry." Eu de repente falei.

"O quê?" Seu tom mostrava a sua confusão. "Quem notou o quê?"

"As discusões, as disputas nas pub." Eu balancei a cabeça levemente, continuando a caminhar ao lado dele. "Eles estão a aumentar e os policiais notaram. Olha, Harry, eu só quero que tu sejas mais cuidadoso. Eu já lhe disse antes, que não vou visitá-lo atrás das grades e eu continuo a pensar assim."

"Tudo bem." Ele respondeu simplesmente.

"Só isso?"

Eu estava à espera de um protesto, a confirmação tranquila de Harry levou-me a parar no meio da calçada. Ele virou-se para mim, ainda olhando um pouco cauteloso. O calor da sua mão moveu-se para agarrar a minha, mas caiu quase instantaneamente de volta ao seu lado.

"Eu não te vou perder." Harry fez uma pausa. "Se isso significa que eu tenho que ser mais contido, então eu estou disposto a tentar."

Fiquei espantada com o seu raciocínio. A natureza obstinada do Harry era uma das suas características mais ousadas, ele achava difícil cumprir as instruções das outras pessoas. Nunca foi de ir em conjunto com a multidão.

"Obrigada."

Um sorriso tímido foi exibido antes de desaparecer rapidamente, transformando-se numa cara divertida. O seu lado lúdico era uma parte do Harry que eu rapidamente aprendi a amar e eu tinha a sensação de que eu era uma das mais privilegiadas em vê-lo.

"Vamos lá, a exposição do Sean começa daqui a 40 minutos e tu ainda precisas de te trocar. Eu sei quanto tempo vocês mulheres levam para ficarem prontas."

"Eu fico fora disso." Eu repreendi.

A sua risada fez-me sorrir.

"Sim, sim."

Mesmo depois de quebrar o gelo o nosso contato foi mantido no mínimo. Enquanto andávamos a minha cabeça virou-se para olhar o Harry. Eu não tinha tido tempo para absorver completamente a sua aparência, até agora, o seu tronco numa camisa branca revelada pelo blazer aberto. Ele usava calças jeans pretas, com um par de sapatos que eu nunca tinha visto ele usar antes.

"Eu gosto do teu cabelo."

A normalmente incontrolável bagunça estava puxada para trás da sua testa, o estilo mais liso sugerindo que seus dedos haviam passado por lá várias vezes.

"Obrigado." Ele riu sem fôlego.

***

Tínhamos sido calorosamente recebidos na porta por minha mãe, que nos ofereceu comida antes dela sair para o trabalho.

"Eu vou começar-me a arranjar." Eu informei.

Harry acenou com a cabeça quando comecei a subir as escadas, sem saber se ele estava a ser convidado a seguir. Mas ele não tem chance de fazer isso. A minha curiosidade despertou-se quando a minha mãe falou baixinho o nome de Harry, numa tentativa que se revelou bem sucedida na captura da sua atenção. Ele permaneceu na sala com ela quando eu secretamente adotei um assento no topo da escada.

"Tu já deves ter notado, é difícil não notar, mas a Bo levou um golpe significativo no rosto." Eu segurei a minha respiração enquanto esperava que ela continuasse a conversa. Eu não esperava que ela levantasse essa questão com o Harry. "Ela disse-me que caiu, mas eu não estou certa de que é o caso. Não estou a duvidar que tu não cuides dela, Harry. Eu só estou preocupada. Tu vês mais ela do que eu no momento, eu só queria perguntar, tu podes ficar de olho nela?”

Eu tinha esquecido a preocupação da minha mãe, acreditando que ela havia comprado a minha mentira.

"É claro que eu vou. Não precisa de se preocupar. A Bo está segura comigo." Harry respondeu.

"Obrigada."

Eu saí da minha posição, descendo as escadas.

"Harry, podes vir-me ajudar a escolher um vestido?"

***

"Tu gostas deste?"

A sua atenção lançou-se de volta para mim, colocando o seu telemovel ao lado dele no edredom. Eu tinha forçado-o a observar algumas trocas de roupa, fixando a escolha sobre os últimos.

"Esse é bonito." Harry acenou para o material verde.

"Tu disseste isso sobre os quatro." Eu bufei.

"É porque tu ficas linda com todos eles."

A sua resposta fez-me questionar se a sua mãe e irmã o tinham treinado para situações como esta, onde algumas palavras simples poderiam significar uma questão de vida ou de morte para um homem. Ou talvez apenas ter que dormir no sofá. A minha expressão insatisfeita forçou Harry a avaliar as escolhas novamente.

"Aquele roxo."

Ele apontou para o vestido pendurado do lado de fora do guarda-roupa. Os rapazes são realmente esquecidos. Eu queria que ele escolhesse um, mas não aquele. A julgar pelo olhar perplexo no seu rosto eu podia ver que ele ia precisar de alguma ajuda. Eu levantei o cabide um pouco mais dando-lhe um pequeno sorriso enquanto eu o mexi ligeiramente. O material vibrou com o movimento, as sobrancelhas de Harry confusas.

"Hum, o azul marinho."

Graças a Deus.

"Sim! Eu gosto desse também."

Ele sorriu para mim, orgulhoso de sua decisão guiada.

"Boa escolha, Styles."

Harry tinha ido à casa de banho enquanto eu terminava a minha maquiagem, suspirando pesadamente e penteando o meu cabelo uma última vez. A escova foi colocada ao lado quando a voz familiar da minha mãe chamou o meu nome.

"Bo!"

Meus pés descalços cruzaram o tapete à porta do meu quarto, abrindo-a para encontrar olhos desesperados em preocupação.

"Mãe, o que se passa?"

"Onde está o Harry?" Ela olhou em minha volta.

"Ele está na casa de banho. O que está a acontecer?" Eu disse. "Mãe." Falei pegando a sua mão.

"Eu pensei que vocês estivessem lá fora."

A sua declaração deixou-me confusa.

"Não, está escuro lá fora e estamos a preparar-nos para sair para a exposição de Arte."

"Isso era o que eu pensava." Ela confirmou baixinho para si mesma. "Bo, eu acho que está alguém lá fora. Eu estava na cozinha… há um homem no quintal."

Scott infiltrou a minha mente inquieta. O quão furioso ele parecia por não ter terminado a sua tarefa. E se ele tivesse descoberto onde vivemos? O meu pai saberia o que fazer, ele sempre teve cuidado com coisas como esta. Mas a minha mãe e eu éramos inúteis. Ela estava totalmente alheia à situação em que a sua filha se encontrava. Eu não queria que ela se preocupasse. Mas se Scott estivesse aqui ele iria magoar-nos às duas.

O meus pensamentos distraíram-me da presença de Harry enquanto ele saiu do banheiro. Eu estava muito envolvida na situação atual.

"Está tudo bem?"

A sua voz assustou-nos, arrastando a minha atenção para enfrentá-lo.

"Há alguém no nosso jardim." Eu.

A mensagem que eu estava a passar chegou alta e clara e eu sabia que o seu primeiro pensamento refletiu o meu. Scott. O seus olhos escureciam, alternando entre as duas mulheres que estavam na frente dele.

"Eu vou ver."

Eu não tive tempo de reagir quando o Harry passou pela porta, descendo a escada rapidamente, fazendo-me correr para alcança-lo. Eu estendi a mão, agarrando o seu blazer.

"Harry." Eu implorei.

Ele virou-se, a nossa altura era igual, já que eu ainda estava num degrau. Ele sabia que eu não queria que ele saísse para ser consumido pela paisagem preta do jardim escuro.

"Fica com a tua mãe."

A minha ansiedade era clara, desesperado para que ele não fosse. Mas a determinação em que seus olhos se suavizaram quando ele levantou a mão, tirando os fios de cabelo que cobriam a minha visão e os colocando atrás da minha orelha. Eu absorvi o seu suspiro leve quando ele quebrou a barreira invisível que existia entre nós.

"Tu estás muito bonita nesse vestido."

A sua voz era suave e calmante, uma tentativa de me distrair.

"Eu quero que fiques aqui dentro com a tua mãe."

Eu engoli a minha apreensão quando uma figura pôde ser vista no topo das escadas. O pequeno sorriso tranquilizador que Harry usava chegou à minha mãe quando ele olhou além de mim.

"Tem cuidado." Minha voz quebrou.

"Eu tenho."

Sentamos e esperamos impacientemente no fim das escadas. Lacunas eram deixadas entre os olhares preocupados para fora da janela da cozinha. O feixe de luz emitida a partir da vela que Harry carregava enquanto examinava o jardim pelo intruso. A sensação pegajosa da mão de minha mãe fechada em torno das minhas quando ela retornou o meu gesto reconfortante mais cedo. Quando um estrondo foi ouvido, ambas nos levantamos, aliviadas ao ver Harry trancar a porta mais uma vez.

"Não está ninguém lá." Ele confirmou.

"Obrigado por verificar, Harry."

Ele acenou para a minha mãe, dando-lhe um sorriso com covinhas. Eu apressadamente diminuí a distância entre nós, passando os braços ao redor da sua cintura e apertando. Não foi uma reação imediata ele colocar o braço em volta de mim, ele não estava à espera do meu gesto repentino.

"Bo, está tudo bem."

Meu abraço foi devolvido como eu inalei o seu cheiro forte, enterrando o meu rosto no seu peito. A extensão da sua mão direita esfregou contra o meu corpo quando ele se curvou para beijar o topo da minha cabeça. As minhas bochechas estavam a formigar quando eu recuei, consciente de que estávamos a ser observados pela minha mãe.

"Bem, vocês não são o casal mais fofo? Oh, porra, eu estou atrasada para o trabalho."

Eu não pude deixar de rir quando ela involuntariamente mudou o humor. A suas mãos frenéticas pegaram na mala do hospital antes de se virar para nós.

"Fico feliz por saber que tudo está bem, divirtam-se na exposição de Arte." Ela rapidamente disse, olhos examinando a cozinha por qualquer coisa esquecida. "E hum, o que falamos." A sua preocupação foi dirigida para Harry.

"Eu tenho tudo sob controle." Ele assegurou.

"Ah, e vocês podem ficar juntos esta noite, você é mais que bem-vindo para dormir aqui, Harry. Certo, ótimo. Eu estou indo. "

Eu nunca tinha visto a minha mãe mover-se tão rápido, quase a correr para a porta da frente, a fim de entrar no seu turno a tempo.

"A tua mãe é engraçada." Harry riu.

Seu tom de voz mudou segundos mais tarde junto com o seu humor, segurando o meus braços e conectando os nossos olhares.

"Tu não precisas mais de te preocupar, eu vou cuidar de vocês as duas. Eu vou resolver isto, Bo".

A sua declaração foi firme, algo sobre a maneira como ele se expressou fez-me acreditar que ele tinha a certeza de cada palavra. O meu coração aqueceu-se ao saber que ele estava disposto a cuidar tanto de mim, quanto da minha mãe. Nós estávamos sem o meu pai há tanto tempo, parecia bom ter alguém a olhar por nós.

"Tu prometes-te." Eu lembrei-o da nossa conversa antes, o acordo de que ele conteria a suas atividades violentas.

"Eu não esqueci." Harry calmamente falou. "Mas agora temos que ir." Fui informada quando ele olhou para o seu relógio.

***
Nós chegamos ao estúdio de Arte. As pessoas do lado de fora a absorverem a fumaça dos cigarros enquanto conversavam. A ignição foi desligada, Harry e eu tiramos os cintos de segurança. Eu observei-o a sair do carro, os meus dedos testaram a maçaneta da porta do passageiro. Para minha surpresa, ela abriu-se. Fiquei um pouco confusa quando o Harry me ajudou a descer, os meus pés tocaram o chão. Ele não percebeu o facto de que a trava de segurança não funcionou, apertando o controle do carro e guardando as chaves no bolso.

"Estás pronta?" Ele perguntou.

Eu balancei a cabeça, segurando o seu braço enquanto ele nos levou através de um pequeno grupo de pessoas fora do local para dentro das portas de vidro do edifício. Havia um número de rostos que reconheci, mas eu fiquei grata por Harry nos apresentar de novo, os seus nomes haviam fugido da minha memória. Diverti-me ao ver o Harry propositadamente a fugir de algumas pessoas que eu sabia que ele achava, em suas palavras, “artistas arrogantes”. No entanto, a descrição não tinha qualquer semelhança com Sean, que nos cumprimentou animadamente.

"Tu gostas-te?"

"De quê?" Sorri.

"Olha para baixo."

Nós seguimos as suas instruções, mergulhando a cabeça nas cores salpicadas pelo chão. A nossa tela tinha sido colocada sob um painel de vidro grande, permitindo aos clientes traçar os desenhos com os pés.

"Uau".

"Sim, essa é a reação que eu tenho." Ele sorriu. "Estou muito satisfeito com o resultado, muito obrigado por terem feito isso por mim."

"Não tem problema." Harry deu um leve toque nas costas dele.

Conforme as pessoas se moviam, mais da paisagem sob nossos pés era revelada, pegadas criando trilhos, alguns um pouco mais deslustrados do que outras. A diferença entre as nossas pegadas era óbvia, diferentes cores e tamanhos. Olhei mais de perto para encontrar as fotos que tiramos aleatoriamente na galeria. Eu não imaginava que elas ficassem tão bem juntas, os retoques de Sean criaram algo bastante surpreendente.

Foi quando Harry passou para o lado, que eu notei o que ele estava a olhar com confusão nas suas feições. De repente, senti-me excessivamente quente, as minhas bochechas a corar. Não havia dúvida da marca do corpo de Harry, a tinta transferindo a sua imagem para o branco. Eu só rezava para que ninguém notasse as marcas roxas de joelhos que haviam sido deixadas ao lado da sua perna. As marcas eram evidências de que atividades haviam acontecido no estúdio deserto.

Harry subtilmente pigarreou, tentando não parecer tão culpado quanto eu me sentia.

"Eu vou, hum, preciso falar com algumas pessoas."

"Ok."

Eu vi quando ele fez uma fuga, a altura do Harry incapaz de se misturar com os grupos de indivíduos.

"Bo, eu não tenho mais espaço para estas." Sean sorriu, entregando-me algumas fotos. "Eu pensei que tu irias gostar delas.”

Eu peguei as fotos, agradecida.

"Obrigada."

"Sean!"

Sua cabeça virou-se para a direção de onde o seu nome estava a ser chamado.

"Oh, desculpa, Bo. Eu vejo-te mais tarde. "

Quando eu fui deixada sozinha, olhei algumas das imagens, sorrindo para as caretas que Harry tinha feito e para as orelhas de coelho que eu tinha secretamente colocado atrás de sua cabeça. Uma foto exibia os nossos rostos cheios de tinta enquanto eu sorria para a câmara. Os olhos de Harry estavam fechados, longas pestanas espalharam-se quando ele pressionou os lábios na minha bochecha esquerda. Eu sorri lembrando das riscas pretas que eu tinha marcado na sua pele. O seu cabelo encaracolado numa bagunça incontrolável.

A imagem seguinte tirou-me o fôlego. Claro que Harry estava lindo, olhos brilhantes e covinhas. Os seus lábios rosados estavam espalhados num grande sorriso, a cabeça inclinada para longe da câmara. Se eu estivesse a olhar subjetivamente, não haveria dúvida de que a rapariga na foto estava totalmente apaixonada. Eu não estava preparada para o flash. A câmara tinha capturado um momento que eu só pensaria possível naquelas velhas fotografias em preto e branco, de casais reencontrando-se depois de um longo tempo separados.

"É lindo, não é?" Uma voz de mulher questionou.

Eu rapidamente coloquei as imagens na minha mala, despreparada para a companhia. Depois que eu me organizei, virei-me para ver uma senhora bastante grande ao meu lado. O seu cabelo curto grisalho estava ligeiramente espetado na sua cabeça. O vestido que ela usava chegava quase até ao chão, com alguns padrões artísticos. Fui distraída com o balanço dos seus brincos, enquanto ela esperava pela minha resposta.

"Oh, sim, eu acho brilhante."

"Sean tem um talento único."

Eu balancei a cabeça em concordância à medida que continuamos a observar o trabalho de arte pendurado na parede. No entanto, a calmaria na nossa conversa não durou muito tempo, até que eu ouvi a mulher murmurar em desgosto. Eu curiosamente segui as sua linhas de visão, surpresa ao pousar em Harry. Ele estava a fazer o seu caminho através da galeria para a parede oposta.

"Quanto a ele, esse menino nunca vai ser bom." Ela quase cuspiu. "Eu ouvi dizer que ele esteve numa quantidade inimaginável de brigas. Eles deveriam prendê-lo para nos salvar de todos os problemas."

O jeito que ela falou causou aborrecimento em mim. Ela não sabia nada.

"Você não tem o direito de julgar quem você não conhece." Eu respondi cortante.

A linha curva de suas sobrancelhas levantou-se com a minha discordância, obviamente esperando que concordasse com a sua opinião.

"Bem, certamente não é alguém que eu gostaria que uma filha minha namorasse." Ela falou com orgulho.

Eu tive o suficiente de conversa com aquela mulher sem noção nenhuma de moda.

"Bom, porque ele é meu namorado."

Os seus lábios vermelhos separaram-se com a minha declaração, os seus brincos ainda estupidamente balançando. Eu continuei em pé, virando-me momentos mais tarde, após pensar um pouco.

"Ah, e ele é muito bom no sexo".

"Como você se atreve!" Ela levantou a voz.

"Vá-se embora."

Eu felizmente afastei-me, procurando por Harry, que eu o tinha perdido de vista, no meio da multidão. Eu reconheci a bagunça do seu cabelo encaracolado instantaneamente, sua postura ereta enquanto ele calmamente examinava uma pintura. O blazer que usava tenso em toda a vasta extensão dos seus ombros. Tudo o que eu queria fazer era brincar com os cabelos da sua nuca.

Eu parei ao lado dele fazendo com que os nossos braços se tocassem levemente.

"Onde te enfias-te?" Harry perguntou.

"Eu estava a defender a tua honra."

"Sério?"

"Sim".

"Oh, bem, obrigado." Ele respondeu ironicamente.

A conversa das pessoas tinha um grande contraste com o nosso silêncio enquanto nós os dois olhávamos para a tela na parede. Respingos de tons escuros enchiam a pintura, criando algo que eu chamo de confusão em vez de Arte. Então, novamente, eu não tinha uma gota artística no meu corpo.

"Eu não faço ideia do que estamos a olhar." Eu admiti em voz alta.

"Nem eu." Harry riu. "Eu acho que está a representar a alma ou algo assim. Eu não tenho ideia de metade das coisas que estão aqui. "

"Isso faz de nós dois."

Eu achei que estava tão bom quanto qualquer outro momento, já que agora eu tinha ele a falar.

"Tu deixaste-me sair do teu carro sozinha." Eu brinquei, levemente empurrando o cotovelo nele.

"Eu estou a tentar mudar." Harry fez uma pausa, olhando para mim.

Os seus olhos tinham um senso de vulnerabilidade, mas rapidamente passaram para a próxima pintura.

"Eu percebi."

"Eu não te quero sufocar, quero dizer… Eu não quero assustar-te." Disse ele. "Eu estive a pensar sobre as coisas entre nós no último par de dias. Sobre o que temos, eu não quero que isso acabe."

"Nem eu." Eu admiti baixinho. "Mas tu não vais mudar muito, não é? Eu até gosto desse lado badboy que tu tens." Eu timidamente brinquei.

A sua risada trouxe um sorriso ao meu rosto. A sua risada era um dos meus sons favoritos.

"Eu amo-te." Harry falou baixinho, batendo na minha anca.

O blush nas suas bochechas era uma visão rara. Mas antes que eu pudesse reiterar os meus sentimentos o tom estridente da mulher de antes levou-me a desviar a minha atenção.

"É ela." Ela apontou o dedo para mim, notificando a segurança da minha presença.

Agarrei a mão de Harry, andando através da multidão para encontrar um local abrigado num banco. Ele sentou-se à minha direita, as nossas coxas se tocaram quando eu ajustei o meu vestido.

"Porque nos estamos a esconder?" Harry riu.

Segurei o seu ombro e inclinei-me no seu ouvido para deixar claro que as palavras eram apenas para ele.

"Eu também te amo." Eu sussurrei.

O meu sorriso incontrolável pressionou-se ao dele num beijo, os meus dedos perderam-se no seu cabelo enquanto os seus estavam na minha cintura. As inúmeras pessoas ao nosso redor não tomaram conhecimento da nossa sessão de amassos, a não ser uma.

"É ela, a que foi rude comigo!"

Harry afastou-se, diversão brilhando nos seus olhos quando ele olhou de mim para a mulher gorducha.

"O que disseste? Isso foi quando tu estavas a defender a minha honra? "Ele questionou.

Eu enruguei o meu nariz, rindo enquanto eu assenti.

"Eu colocaria os dois daqui para fora!" A mulher continuou a importunar o guarda que nos olhava entediado.

Eu a ignorei quando coloquei a minha mão na coxa de Harry antes de a apertar suavemente. Eu sabia que ele podia sentir as faíscas também, uma corrente correndo através dos nossos corpos.

“Leva-me para o teu apartamento.” Eu instruí.

"Com prazer".

A senhora tropeçou, agarrando o braço do homem ao seu lado para recuperar o equilíbrio quando Harry abrutamente se levantou. A minha mão foi possessivamente presa, guiando-me com ele. Ela parecia com medo, quando ele parou ao seu lado. A altura do Harry superando a dela.

"Com licença." Ele pediu.

A mulher deu um passo hesitante para a direita, abrindo um caminho para Harry para prosseguir.

"Vejo-te mais tarde, Ian." Harry casualmente disse.

"Tudo bem, Haz." O segurança respondeu.

Será que ele conhecia toda a gente? Eu refleti sobre isso enquanto eu rapidamente disse adeus a Sean, que estava cercado por um grupo de artistas. Logo estávamos no alívio do ar da noite, o meu corpo circulando para Harry enquanto ele se virou para mim.

"Eu mal posso esperar para te tirar desse vestido." Ele sussurrou.

Eu fiquei em estado de choque quando eu fui levantada para o calor familiar do seu peito, Harry começou a caminhar comigo nos seus braços em direção ao carro.

***

Dark - Tradução PTOnde histórias criam vida. Descubra agora