O meu estômago anda às voltas, é aquele tipo de sensação horrível, de choque, que não consegues controlar. Ele está a olhar para mim, à espera de algum tipo de reação e o que consigo fazer é apenas parecer um coelho apanhado pelos faróis ligados de um carro. De todas as coisas parvas em que pensar, quero apenas saber se é falta de educação no olhar. Ele deve estar habituado a isso, não é uma imperfeição ou uma tatuagem vergonhosa que tu podes esconder sob a roupa, ou tê-la como uma desculpa de um momento de quando se é adolescente. É uma sensação poderosa, que ajuda a se inteirar na situação e no ambiente ao seu redor. Eu não consigo imaginar o quão perdido ele se tornou.
"Tu..." Eu calmamente começo antes de recomeçar. "Tens alguma coisa para eu secar a água?"
As minhas mãos tornam-se parcialmente escondidas pelas minhas costas, porque eu não consigo impedi-las de tremer. Tenho a certeza de que ele está decepcionado com a minha primeira reação, mas a sobrancelha cai antes de resmungar sobre algo na cozinha. Eu sigo atrás dele, a observar atentamente os movimentos dele para tentar determinar o quão extensa é a sua deficiência. A curta caminhada não ajuda muito, porque esta é a sua casa, ele está mapeado mentalmente no interior e, provavelmente, poderia andar com os olhos fechados de qualquer das maneiras.
É completamente normal como ele mexe nos armários quase vazios, além do facto óbvio de que ele é cego. Porra! Tosso de nervosismo e o Harry torce a cabeça, como se eu estivesse a pedir a sua atenção. Talvez é como olhar através de um vidro embaciado, ou, talvez, o olho esquerdo dele só vê silhuetas escuras. Se ele fechar o olho direito, o que vê ele? Eu não acho que seja uma boa hora para perguntar, já que ele voltou à sua busca pela cozinha. Em qualquer outro momento, eu teria reclamado com ele pelas canecas sujas deixadas espalhadas pela banca da cozinha. É um pequeno santuário caótico de tigelas de cereais usadas, alimentos incrustados nas panelas e um monte de utensílios espalhados.
"Como?"
Com uma toalha de mesa na mão, o Harry parece uma criança que acabara de ser perguntada sobre o objeto partido que ficava acima da lareira. Provavelmente, não é a melhor forma de perguntar, mas não há porquê de ter rodeios. Ele sabia que eu iria perguntar.
"O quê?" Ele responde.
Há uma natureza arenosa na forma como que ele está, quase como se não estivesse habituado a alguém a ser tão direto. Ou talvez seja o facto de eu não vacilar em manter o contato visual. Ainda é ele, apesar de frio e desligado como se tornou.
"Como aconteceu isso?"
Sem demonstrar qualquer emoção, ele respondeu:
"Com uma faca."
A revelação faz com que eu sufoque um riso fraco. Não tem graça, mas não posso nem começar a dizer que ele não tem mais interesse em manter uma conversa comigo.
"Eu podia ter adivinhado isso." A imagem de uma lâmina a cortar a cara do Harry aumenta a tensão na minha voz. "Então, porquê? O que aconteceu, Harry?"
Ele pega num saco plástico antes de voltar ao quarto. A água espalhou-se desde o seu ponto inicial tornando a limpeza no chão de madeira um pouco mais ampla. É só quando o Harry se baixa em frente à sujeira que ele fala novamente.
"Eu disse coisas que, provavelmente, não deveria ter dito."
Tenho cuidado para não pisar no lugar errado enquanto caminho até o lado desarrumado da sua cama. Enquanto ele absorve a água, estou a decidir se quero saber de detalhes, ou se é melhor não me envolver mais em algo que eu não deveria saber.
"Por quem?"
"Eles dão-te -" Harry pausa, olhando cuidadosamente para mim antes de continuar a pegar nos cacos de vidro. "Era uma coisa nova." Ele diz baixo. "Consegues um pouco dos comprimidos de graça para te viciares para eles se certificarem de que vais querer mais."
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Dark - Tradução PT
FanfictionBo, uma frágil rapariga que acaba por apaixonar-se por alguém que nunca esperava, Harry.