Perder alguém nunca é bom. Por pior que a pessoa seja, ela é uma alma. Isso foi uma das lições que minha mãe deixou pra mim antes dela morrer.
Hoje é domingo. Pastor Michael me liberou de ir na igreja hoje, disse que eu posso ficar de luto por hoje. Claro que eu não vou ficar, afinal domingo é o dia do Senhor. Então eu tenho que levantar dessa cama.
Eu tenho mil e uma responsabilidades e eu não posso parar a minha vida por causa de um luto
Eu levantei já pensando em me deitar de novo. Parei em frente do espelho analisando meu rosto.
Eu chorei demais, credo.
Eu dei um sorriso, foi aquele bem aberto, tipo o do Firmino. A única diferença é que meu aparelhos não me deixa abrir a boca direito.Abri meu guarda roupa, procurei alguma coisa boa o suficiente pra vestir hoje. Nada. No final acabei escolhendo um vestido azul e uma sapatilha preta.
Depois que eu fiz tudo o que tinha pra fazer, fui acordar minha irmã. Eu já sabia que mais cedo ou mais tarde ela perguntaria pela nossa mãe e eu não poderia mentir para ela. Ela é uma criança esperta, mas ontem ao ver a mãe descer pelo caixão eu pude ver o quanto crianças sentem.
Eu sempre pensei que uma hora ela iria esquecer disso e levar a vidinha dela normalmente. Ou não.
- Bom dia meu anjo - falei sentando na cama dela e alisando seus cabelos. Tudo no rosto dela lembrava minha mãe. Ester era igual a minha mãe. - Tudo bem?
- Tudo - Foi um tudo meio vazio pra uma criança da idade dela. Ela ainda estava virada pra parede, como se ela não quisesse me olhar. - A mamãe foi com o Senhor Jesus né?
- Foi - Eu senti meu peito afundar pensando em como Ester levaria tudo aquilo. Ela tinha apenas seis anos, ela não suportaria perder a mãe tão cedo. - Mas olha, vamos na igreja com a mana? Depois a gente sai pra tomar um sorvete. - Tentei animar minha irmã naquele momento mas vendo que aquilo teria sido em vão.
- Eu não quero sorvete, mana. Mas vamos na igreja sim. - Ester levantou da cama se sentando ao meu lado. Eu passei a mão pelos seus cabelos me levantando e indo em direção ao banheiro com ela.
♡*♡
Quando eu entrei na igreja logo avistei meu pai conversando com um membro da igreja. Meu pai e minha mãe eram Obreiros. Meu pai sempre saía mais cedo que eu para ajudar nas coisas antes da primeira reunião. Me admirava ele ter enterrado a esposa num dia e no outro estar bem. Isso é o Espírito Santo. Ele te confortar mesmo em meio a dor.
A reunião passou rápido. Logo que acabou vi minha prima Tamar de longe que acenou para mim em sinal de espera. O líder do Força Jovem, grupo qual eu faço parte, nos reuniu para passar os recados da semana e orar conosco em favor dos jovens. Quando ele acabou a oração e bateu os olhos em mim ele e sua esposa logo me chamaram.
- Então Aninha, como você está? - O Obreiro Leandro foi direto ao ponto, mostrando sua preocupação.
- Eu estou bem. Eu só preciso de um tempo para recomeçar. - Eu o respondi sentido minha garganta se fechar para chorar.
- Então, a gente vai te dar um tempo pra você pensar. Pode ficar tranquila que o Ernani vai ficar cuidando da sua tribo até você se sentir melhor. Pode ser?
- Pode sim. Vou até gostar de dar umas responsabilidades pra ele. - Ri fraco olhando para o Obreiro Leandro e para a esposa dele, a Obreira Fernanda.
- Mas você não para. Acho que era só isso. Pode ir pra casa. - O Obreiro Leandro se levantou e apertou minha mão e eu sai.
No caminho para minha casa eu pensei em o que seria de fato um recomeço.
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Aliança
SpiritualAnna Verônica não esperava perder a mãe tão cedo e de uma forma tão repentina. Após a perda, a jovem tem que aprender a lidar com as emoções pós-perda e a controlar o seu "eu" emotivo. A jovem aprende a amadurecer e junto disso, a crescer com Deus