XVI - Conforto

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Nathan se viu sentado no chão da cozinha, Cody chorando enrolado contra o seu peito. Foi doloroso de testemunhar ou sentir todo o seu corpo tremer com a força de seus soluços ou como ele se contentou por mantê-lo sentindo-se estranhamente em paz.

Segurá-lo em seus braços parecia tão natural quanto respirar. E não sentiu a pontada de terror estranho que tinha lhe tomado quando tocou Christine ou o desconforto quando dançou com Stacy. Isso veio a sua mente várias vezes até que as lágrimas de seu amigo começaram a secar.

Foi natural. Mesmo depois de quase quinze minutos, seus rins começaram a fazê-lo sofrer. Pela primeira vez, notou a quanto tempo estava sentado, torcido contra o armário, mas não pretendia perturbá-lo. Nathan olhou para o triste estado de sua casa e seu coração afundou por ele mais uma vez.

Mesmo na penumbra, era fácil ver que o chão não tinha visto um polimento durante anos e que o linóleo estava rachado e os cantos retorcidos. Várias portas do armário estavam tortas nas dobradiças, uma desaparecida completamente, revelando uma fileira de latas de sopa e um pote de manteiga de amendoim.

Nenhum salgadinho ou biscoito para Cody, que não deveria ter Coca-Cola ou Pepsi na geladeira. Outro exemplo de coisas que ele tinha certeza em sua vida. Finalmente a respiração do moreno se acalmou, seu peito se contorcendo a cada poucos segundos. Nathan abaixou a cabeça e enterrou o nariz em seu cabelo escuro inalando o aroma de seu shampoo misturado com a acidez familiar do cigarro.

- Me desculpe. - Cody murmurou entre soluços.

- Pelo quê? Ficar triste? Você não precisa se desculpar por isso.

- Você sabe... - Ele teve que calar a boca para respirar fundo. Então sua voz foi ainda mais baixa. - Você sabe como isso aconteceu?

Nathan precisava pensar por um segundo para saber do que ele estava falando e perguntou.

- Como ele morreu?

Seu amigo assentiu contra seu peito.

- Você não ouviu na escola?

- Eu ouvi sobre um acidente de carro, mas... - ele balançou a cabeça. - Eu não queria ouvir mais. Achei que não queria saber, mas agora...

Cody engasgou, seus ombros tremendo, e Nathan se apressou em preencher esse vazio. E não precisava passar a informação dada por seu pai porque ouvira mais do que ele lhe dissera na escola.

- Ele estava voltando de Casper com Shelley. Você se lembra como nevou de repente ontem à tarde? Ouvi dizer que eles jantaram com os primos na esperança de que o tempo mudasse, mas esse não foi o caso. E como havia aula no dia seguinte...

- Ele deveria ter ficado.

- Eu sei.

- Ele não deveria estar naquele Camaro estúpido nesta época do ano.

- Eu sei...

- Se eu não tivesse concordado em pegar suas horas, se eu tivesse dito não, ele poderia não ter ido a Casper e nada disso teria acontecido.

Nathan não entendia realmente do que ele estava falando, mas isso não importava.

- Talvez, mas não é sua culpa. Você não poderia saber.

- Ele só queria que eu cobrisse ele...

- Você não fez nada de errado. Você não tinha motivos pra dizer não a ele.

- Eu queria as horas dele! Como eu pude pensar que isso seria mais importante que ele?

- Você não pensou isso. - Nathan balançou a cabeça esfregando as costas dele enquanto tentava descobrir o que poderia ter acontecido. - Ele te pediu um favor, não? E você disse sim. Isso é tudo. Você não tinha como saber.

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