XXII - Interrupção

361 67 1
                                    

O pai de Nathan não foi trabalhar no dia seguinte. Ele o ouviu andando de um lado para o outro na cozinha, falando ao telefone pelo que pareciam horas.

Seu estômago protestou com veemência, exigindo seu café da manhã, mas ele permaneceu em seu quarto, incapaz de lidar com o confronto que o esperava no andar de baixo. Seu pai chamou para o almoço, depois para o jantar, mas nunca se sentou com ele para comer. A única vez que lhe dirigiu a palavra foi para perguntar os nomes dos meninos envolvidos na agressão.

Ele mal lhe olhava e Nathan voltou para seu quarto. Ele o manteve em casa no dia seguinte e depois. Tanto que Nathan começou a se perguntar quanto tempo isso duraria. Ele teve a impressão de estar na prisão, por deixar seu quarto apenas durante as refeições.

Pelo menos a dor física de seus hematomas estava diminuindo, enquanto o inchaço no rosto desaparecia e ele não havia mais urinado sangue. Seu corpo se curava, embora não fosse o mesmo para seu coração. Na quinta-feira, ele finalmente quebrou o silêncio.

- Alguma coisa vai acontecer? - Ele estava sentado perto do hambúrguer que seu pai colocou na sua frente. Enquanto estava do outro lado da cozinha lavando os pratos, fazendo questão de ignorá-lo. - Você perguntou os nomes dos caras que nos atacaram, falou com eles ou não?

Seu pai suspirou, mas não se virou para encará-lo.

- Eu não posso fazer muito. Não tenho permissão para investigá-los. Tive que dar o arquivo pra outro oficial e, em casos como este, é a palavra deles contra a sua. E um deles tem um tio que trabalha para o escritório do xerife. - Ele balançou a cabeça. - É complicado, mas pra resumir, não acabou em "é necessário que a juventude defenda suas convicções sozinha".

Nathan refletiu em suas palavras enquanto olhou para suas costas.

- Você acha que eu merecia mesmo assim, certo? Isso é o que eu ganho sendo gay?

- Eu não acho que você mereça. - ele disse calmamente. - Mas quer você goste ou não, às vezes é isso que você consegue ao insistir em ser diferente.

Nathan não lhe perguntou nada depois disso, porque não tinha certeza se poderia suportar ouvir sua resposta. Na sexta, seu pai o surpreendeu ao chegar ao seu quarto um pouco depois das três. Deitou-se na cama e ficou olhando para o teto enquanto escutava a cópia da fita que ele fizera para Cody no Natal. Nathan sentou-se rapidamente e desligou a música enquanto ia para sua cadeira de escritório.

- Vou te mandar pra outro lugar.

Então foi isso. Uma frase simples, mas que caiu como uma bomba em sua vida.

- Eu não quero ir.

- Não é uma discussão, já tomei minha decisão.

- E pra onde você vai me mandar? Pra casa da mamãe?

- Não. - Havia algo no jeito que ele negou. Na tensão de seus ombros e suas mãos apertadas em seu colo.

Nathan só recebera um telefonema de sua mãe desde a noite em que Greg o atendeu, mas sempre achara que as coisas acabariam quando voltasse para casa. O que agora nem ele queria mais.

- Você falou com a mamãe, certo?

Seu pai assentiu estranhamente.

- E?

Ele suspirou, sacudindo a cabeça.

- Não há razão pra você saber as coisas que ela disse.

Ele engoliu em seco, doendo muito mais do que com os golpes que sofrera nos rins.

- É tão ruim assim?

MarginalOnde histórias criam vida. Descubra agora