III - Empatia

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Nathan dissera que encontraria Cody depois do almoço, mas foi para o cemitério de carros assim que acordou. Passava das onze quando ele chegou e Cody já estava lá, com um maço meio vazio entre os dedos.

- O vento ainda está soprando. - disse Nathan, sentando-se.

- Bem-vindo ao Wyoming.

Ele nem olhou em sua direção. Era um novo dia e Nathan teve a impressão de começar do zero com Cody novamente. A cumplicidade que haviam compartilhado na noite anterior desaparecera ao amanhecer.

- Ouvi dizer que é melhor no norte do Estado. - ele tentou iniciar a conversa.

Cody suspirou em resposta e deixou cair um cigarro na palma da mão.

- Eu também ouvi falar sobre isso, mas não sei.

Ele enfiou o resto do maço no bolso da jaqueta e pegou um isqueiro. Nathan esperou enquanto se virava para acendê-lo, a mão formando um fino baluarte contra o vento.

- Há quanto tempo você mora aqui?

Cody exalou uma longa nuvem de fumaça, a outra mão apertando o isqueiro.

- Toda a minha vida.

- Bem, você vai se formar este ano, certo? Vai poder sair então, talvez ir pra faculdade...

 - Ah, sim, isso mesmo, faculdade.

Cody sacudiu a cabeça e se inclinou para se apoiar em seus joelhos. Nathan não tinha certeza do que ele queria dizer com isso, se ele insinuou que não tinha boas notas ou...

- Não saímos desta cidade. Eu te disse que é o buraco negro da civilização. Nós não podemos escapar. Você nasceu aqui, então fode uma garota, deixa um filho nela e depois morre. É assim que acontece.

- Ham... - Nathan não sabia nada sobre como ter uma visão mais feliz das coisas. - Você planeja engravidar alguém?

Cody deu uma risada que era desprovida de toda a alegria e viu como seu cigarro queimava entre os dedos.

- Tenho certeza que ninguém está planejando isso comigo. Não importa o que você me diga, não vai mudar nada. Você precisa de dinheiro pra sair daqui e tempo pra juntar, e aí quando finalmente consegue um já é tarde demais para o outro.

- Não me importo com o que você diz, eu vou partir o mais rápido que puder. Eu faço minhas malas na véspera da cerimônia de formatura e vou cinco minutos depois que eles colocarem o diploma na minha mão.

- Ir pra onde?

- Digamos que... supondo que, pelo menos durante o verão, para Chicago.

Cody franziu a testa enquanto olhava para ele, então Nathan apressou-se a detalhar:

- Tenho uma tia que mora lá. Ela é corretora imobiliária e possui algumas casas e apartamentos. Ela me disse que eu poderia morar em um deles enquanto estudo.

Mesmo que a mera ideia de enviar suas candidaturas para as várias faculdades em poucos meses diminuísse sua coragem. Cody esmagou a ponta do cigarro contra a parede da carroça e o atirou agressivamente contra o vento.

- Sorte sua.

Nathan o estudou por um momento; notou os joelhos deformados de suas calças um pouco curtas nos tornozelos, os braços de sua jaqueta que mostravam seus pulsos ossudos. Seus tênis tinham buracos em seus dois polegares.

Uma sensação de vergonha se formou em seu estômago quando finalmente percebeu que não eram as notas que ficavam entre Cody e a universidade. Ele pensou em Warren, suas ruas mortas, edifícios empoeirados, sem flores, sem alegria, sem emprego. Até as casas pareciam ter desistido e as pessoas não pareciam muito melhores.

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