XXVI - (Re)Começo

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- Tem certeza que não quer passar a noite aqui? - sua mãe perguntou quando eles terminaram de descarregar seus pertences do carro. - Você pode continuar a viagem amanhã.

Era verdade que ficar aqui seria poupar uma noite num hotel, mas que levaria a um caminho de onze horas no dia seguinte, a mudança de fuso horário iria jogar contra ele. Além disso, ele estava com pressa para conseguir sair de Wyoming.

- Tenho certeza.

E na frente do duplex de sua tia, com o vento soprando um pouco menos que em Warren, sua mãe o abraçou pela primeira vez em anos. Ele nem se lembrava da última vez. Isso o fez se sentir bem e ele estava feliz por ela ter um novo começo na vida também.

- Eu te amo, filho. - disse ela, recuando para olhá-lo nos olhos. - Tenha cuidado.

- Eu te amo, mãe. Se cuida também.

Ele voltou para o Mustang e se despediu. Não restava nada além dele e uma fita, oito faixas que o lembravam de Nathan e uma longa jornada pela estrada, cada passo tirando um peso de seus ombros. Ele parou para passar a noite em North Platte. Seu quarto de motel era pequeno e fedia a fumaça, mas era barato.

Ele reabasteceu para estar pronto para sair de madrugada e depois, antes de voltar ao seu quarto, pagou dois dólares pelo telefone e discou o número de Nathan. Em menos de vinte e quatro horas, seria dele também.

O céu estava crepuscular e as estrelas começavam a aparecer e Cody pensou, quando o telefone começou a tocar, provavelmente ser a noite mais linda que ele já tinha visto. Nathan atendeu depois do segundo toque, a voz surpresa, Cody imaginando que ele não deveria estar acostumado a ouvir o telefone tocar em casa.

- Olá?

- Sou eu.

- Cody!? Onde você está? Meu pai não queria me dizer o que estava acontecendo, ele disse que fez o que pôde pra ajudar e eu senti que ele estava muito orgulhoso dele dizendo isso, mas ele não queria me dizer o que foi. Ele levou você pra estação de ônibus?

- Não, não. - Ele não pôde deixar de sorrir. - Ele me deu seu carro.

- O quê!? - Nathan riu. - Eu sabia que ele tinha um plano, mas ele continuou me dizendo que eu tinha que esperar pra ver, mas... - Ele riu novamente. - Onde você está?

- Nebraska, tenho o envelope que seu pai me deu, acho que vou chegar por volta das oito da manhã e depois...

- Você vai estar aqui!?

Parecia bom demais para ser verdade.

- Eu acho que sim.

Nathan começou a lhe dar instruções para encontrar o apartamento, mas ele não tinha nada para escrever e a ficha telefônica fora muito rápida, então a ligação foi cortada antes que eles pudessem se despedir. Mas nada poderia separá-los agora.

Ele voltou para o quarto e deitou-se na cama olhando para o teto, tão cheio de felicidade que nem mesmo a aranha na parede e a linha de formigas sob a pia conseguiu diminuir seu bom humor. Seu subconsciente decidiu fazer truques com ele.

Ele sonhava com estradas congeladas onde cada saída o levava de volta a Warren, o Mustang saindo da pista fora de controle, um caminhão caindo sobre ele, Logan no banco do passageiro enquanto Nathan estava fora de alcance.

Ele tinha um pequeno pensamento no dia seguinte e pelas próximas horas, estava convencido de ainda sonhar. Nebraska foi ficando para trás e no final de Lincoln Road, em Omaha ele sentiu sair do buraco negro onde ele ainda estava dirigindo e nunca sendo capaz de chegar mais perto de Iowa.

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