XX - Incondicional

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Embora Nathan fosse indiferente sobre as outras pessoas, Cody sabia que eles estavam brincando com fogo.

Ele tinha acabado de passar meio ano sem ninguém tentar fazer algo contra si e era um recorde. E estava convencido de que havia escapado no início do ano apenas graças à amizade de Logan, que não o salvaria agora. Mas ele fora feito para as situações adversas.

Tinha sido confrontado toda a sua vida e sabia quando abaixar a cabeça e calar a boca. Ele só teria que suportar mais alguns meses e estaria livre da Warren High School para sempre. Mas quanto a Nathan, era muito diferente. Ele pensou que estava agindo sutilmente, mas se traía demais. Estava perto demais. E lhe tocava muitas vezes e seu sorriso dizia um pouco demais.

No que lhe dizia respeito, isso não o incomodava. Cody estava acostumado a rumores e imune à palavra 'bicha', embora o termo fizesse Nathan se encolher. Mas ele tinha a intuição de que seu namorado nunca havia se envolvido numa briga. E seria um milagre se ainda fosse o caso na época da formatura.

Nathan continuou comprando revistas, embora a maioria regurgitasse a mesma coisa toda vez. Sim, pessoas heterossexuais podiam ter AIDS. Era tão ridículo que esta verdade continua a ser inédita, mas foi o caso. As revistas de janeiro e fevereiro retomaram o mesmo conselho cansado: prestar mais atenção a quem você dorme e usar preservativos.

Sua informação mais útil veio de uma cópia do The Times de 15 de fevereiro. Não era notícia nova com o tempo que levou para chegar, mas é melhor que nada. Começando na primeira página e depois se espalhando por várias, estava a informação que eles estavam procurando: fatos, teoria e mitos sobre a AIDS. E pela primeira vez, foram perguntas reais com respostas reais. Por exemplo:

Times:
"O vírus poderia ser transmitido por sexo oral?"

Especialista:
"Epidemiologistas federais acreditam que o vírus, presente no líquido seminal e nas secreções vaginais, pode entrar no corpo através de cortes ou membranas mucosas da boca e da garganta. No entanto, nenhum caso é identificado no momento."

Cody leu o artigo três vezes seguidas. Enquanto procuravam respostas, também buscavam um lugar para morar, esperando ler uma menção a comunidades homossexuais em outros lugares além de São Francisco ou Nova York. Mas não tiveram muita sorte se tivessem que confiar nos artigos, e Cody sabia que estavam certos, homens gays só viviam tranquilamente nessas duas cidades por toda a América.

- Esqueça as revistas! - Nathan disse no início de março, balançando uma em seu quarto. - Nós apenas temos que escolher um destino e esperar que tudo esteja bem.

No dia seguinte, porém, ele pegara um enorme atlas e o levara para casa. Sentaram-se à mesa da cozinha e começaram a virar as páginas.

- O que há entre Chicago e Wyoming? - perguntou a Cody.

- Dakota do Sul, Nebraska e Iowa.

- Nebraska não. A única diferença entre Nebraska e Wyoming é que eles têm mais milho.

- Dakota não parece melhor...

- Ok, e sobre Iowa?

Nathan deu de ombros enquanto sorria para ele.

- Não tenho ideia.

No dia seguinte, Cody perdeu a educação física para ficar na biblioteca da escola. Uma rápida visita ao catálogo contou-lhe que havia vários livros sobre Iowa. Dois parecendo particularmente promissores, ele vagou pelas estantes, passando o dedo pelas lombadas enquanto procurava.

Quando tinha uma pilha em seus braços, sentou numa das mesas ao longo da parede e folheou até encontrar informação relevante. E o que ele viu tirou seu fôlego. Algumas fotos mostravam colinas verdes, campos e outras cidades e pequenas aldeias, mas em cada uma delas se via muito verde.

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