XIX - Compromisso

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As aulas recomeçaram após o réveillon e eles se acomodaram numa rotina confortável. Todas as manhãs iam para a escola juntos e todos os momentos que não eram dedicados a aulas, Tomahawk ou sono, passavam juntos.

Eles iam para a casa de Nathan enquanto seu pai estava no trabalho e eram muito cautelosos sobre o que faziam, pois Nathan estava com medo de seu pai os surpreender. Se a mãe de Cody estava fora, iam para a casa dele. Às vezes, se o tempo permitia, eles encontravam uma estrada deserta e Nathan o deixava dirigir seu Mustang. Cody tinha sua licença, apesar de nunca ter dirigido um carro antes.

Nathan passou a ensiná-lo a prática por algumas semanas. Mas, como a grande maioria dos adolescentes, ficavam ansiosos pelos fins de semana. Nas noites de sexta e sábado, com Cyndi fora, eles tinham várias horas após o final do turno de Cody, antes que Nathan tivesse que ir para casa, e passavam a maior parte delas no quarto de Cody.

Nathan finalmente entendeu por que todo mundo era empolgado com sexo. Eles nunca tinham ido além de preliminares e não pareciam querer se aventurar além disso, especialmente por terem muitas maneiras de agradar com suas mãos e bocas.

Nathan achava que já se habituara a Warren, mas aproximar-se de Cody trazia os piores lados da vida na pequena cidade. As passagens do trem eram raras, mas quando ele atravessava o trilho, sacudia toda a casa. A polícia abordava Kathy e Pete com tanta frequência que Nathan sabia ser um milagre ter conseguido esconder sua relação com Cody de seu pai por tantos dias.

Era só uma questão de tempo até que ele tivesse de averiguar uma denúncia de agressão doméstica e ver a caminhonete de seu filho estacionada na frente da casa vizinha. No final de janeiro, Vera bateu na casa de Cody para perguntar se ele havia visto Ted.

- Normalmente eu o vejo passar pela estação pra ir à loja de bebidas, mas faz três dias que não o vi e ouço seu cachorro latindo do meu quarto.

As bochechas de Cody estavam pálidas, seu olhar se deslocando para a casa mais distante.

- Não o vi, não.

Vinte minutos depois, o pai de Nathan e outro oficial bateram a porta de Ted, mas sem obter resposta tiveram que arrombá-la e a ambulância chegou a seguir, sem uma luz intermitente ou sirene. O cachorro foi colocado no carro da polícia. Algumas perguntas cautelosas de Nathan na hora do jantar confirmaram que o velho morador havia sido encontrado morto lá dentro.

Ele aparentemente havia se embebedado até a morte no início da semana. O cachorro havia sido enviado para um abrigo em Rock Springs. Nathan esperou insensatamente que a pobre fera não fosse sacrificada, mas ele não teria como saber o que aconteceria com ela.

Além disso, duas meninas engravidaram no ensino médio e pararam de estudar, enquanto outras famílias se mudavam para longe, e ele ouviu Brian se gabar na aula de inglês que ele havia conseguido comprar cocaína de um amigo do pai dele. Quanto mais cedo ele e Cody pudessem deixar Warren, melhor.

Era algo que eles falavam quando ficavam presos no quarto dele porque sua mãe estava lá, ou enrolados no sofá quando ela estava fora. Eles passaram horas conversando sobre o que poderia acontecer depois da formatura. Nathan sabia que seu namorado economizava cada centavo, mas também que não se acumulavam tão rápido quanto ele queria.

Mesmo que eles nunca falassem sobre isso, ele suspeitava que o garoto estava pagando as contas da casa. Ele reduziu seu consumo a dois ou três cigarros por dia, porque simplesmente não podia gastar vários dólares por semana para manter seu hábito.

Eles concordavam que devia haver lugares no mundo onde a homossexualidade não era tida como um crime. Os dois ouviram piadas sobre São Francisco e, quando estavam enrolados no sofá, as luzes e cortinas escuras tão fechadas que ninguém conseguia vê-los do lado de fora, falavam com voz abafada sobre outros lugares que podiam ir.

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