Capítulo 1 - Alguém me belisque!

4.2K 87 7
                                    

Deviam ser umas 5:30 da manhã quando meu celular despertou. Levantei da cama num pulo, apesar de ser só modo de dizer devo enfatizar que foi bem rápido, peguei tudo que precisava e fui para o banho matinal. Era início de julho a copa do mundo acabara e junto com ela minhas férias.

Enquanto tomo banho tento não pensar no fato que terei que ir embora do conforto que é a casa de meus pais e voltar para minha dura rotina como saxofonista numa banda de jazz relativamente famosa no Reino Unido. Tocamos em barzinhos e vez ou outra somos contratados para festas particulares. Moro em um bairro bastante conhecido em Londres, South Bank. É um bairro bastante movimentado, afinal abriga um dos maiores pontos turísticos de Londres a gigantesca roda gigante, London Eye. Moro em uma das ruas estreitas no quarto andar de um prédio com uns 10 andares. Interrompo a mim mesma, afinal pra quem não queria pensar já está bom demais.

Saio do banho e visto uma roupa bem confortável, pois a viagem é longa, sem contar as escalas. Assim que termino saio do banheiro e vou em direção à cozinha, desço as escadas e lá está toda minha família sentada em volta da mesa só me esperando. Segurei a emoção que me invadiu naquele momento, afinal alguém precisa estar firme né!? Sentei à mesa e todos me olhavam com caras de cachorro caído da mudança. Tentei dar uma golada no meu café para disfarçar, mas foi em vão.

- Ah qual é gente! Daqui uns 6 meses eu tô de volta, não precisa disso! Achei que já estavam acostumados. - Eu disse entre um gole de café e outro. Todos me olharam, mas ninguém disse mais nada.

Fazia 8 anos que eu morava no exterior, a principio fui para estudar mas acabei ficando. Conheci meus atuais amigos na faculdade e entre o terceiro e o quarto período decidimos formar uma banda e estamos juntos até hoje. E nesses 8 anos eu tento vir para o Brasil a cada 6 meses e é claro que as vezes acontecem imprevistos, mas quando venho é sempre a mesma coisa na hora da despedida.

Minha irmã mais nova Alice sempre fica muito triste quando vou embora. Apesar de brigarmos com frequência quando dividíamos o mesmo teto eu e ela somos muito apegadas. Mesmo hoje ela tendo 21 anos ainda a trato como o mesmo bebê que vi nascer quando eu tinha 4 anos.

Tentei tomar meu café da manhã reforçado sem reparar muito em como eles me olhavam.

- Também é difícil pra mim caramba! - E disse enquanto ria tentando disfarçar minha tristeza. - Mas eu tenho mesmo que ir, meu voo é às 7:30 e já são 6.

Levantei e fui até o quarto que dividi com Alice e Manu durante esse mês, peguei minhas malas com a ajuda de meu pai e desci as escadas em direção à garagem.

Chegando lá todos nós entramos no carro, meus pais e minha duas irmãs caçulas. Enquanto meu pai dava partida no carro eu tentava lembrar se tinha pegado tudo, porém como sempre estava com aquela maldita sensação de que estava esquecendo alguma coisa. "Agora já era Julieta, se tiver esquecido, vai ficar!" Me repeendi. Sim, meu nome é Julieta! É! Como em Julieta e Romeu!

***

Ao chegar no aeroporto, meu pai estacionou e todos ajudaram a pegar as malas. Colocamos tudo em um daqueles carrinhos e partimos ao guichê para que eu fizesse check-in. Ao chegar todos nós paramos e Alice e Manu já estavam com os olhos cheios d'água, eu as abracei e logo meus pais se juntaram a nós. Eu pude ouvir alguns choramingos e suspiros, mas tentei me manter forte. Engoli a seco enquanto nos soltávamos e abracei um de cada de vez, a cada abraço uma mensagem diferente, um "se cuida", um "eu te amo" e "vai com Deus". E como conter as lágrimas? Difícil! Quando percebi a primeira lágrima já tinha caído. Demos um ultimo abraço em família e eu tive que dizer:

- Podem parar! Senão não irei nunca! - Eu disse secando as lágrimas da Manu e Alice. Dei um beijo na testa de cada uma. - Eu amo vocês!

- Nós amamos você! - todos disseram juntos e eu ri achando uma fofura.

Bom demais pra ser verdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora