Bom demais pra ser verdade

Capítulo 14 - Amnésia uma ova!

- Mas o que houve? - A enfermeira dizia enquanto era arrastada por mim.

- Ele... ele... não... - Um imenso nó em minha garganta me impedia de terminar a frase.

Ao chegar ao quarto vi que David mantinha a mesma expressão confusa.

- Quem sou eu David? - Eu disse com a voz e expressão alteradas.

- Eu já disse que não sei! - Ele retrucou na mesma intensidade.

- Eu vou chamar o médico. - A enfermeira disse compreendendo a situação.

Levei as mãos ao rosto e decidi sair do quarto para evitar mais situações constrangedoras. Quando ouvi gargalhadas vindas do quarto de David, e logo minha ficha caiu.

- Nunca achei que essa pegadinha tão clichê ia dar certo! - Ele disse levando as mãos na barriga de tanto rir.

Voltei-me para ele com a expressão aliviada e só pude pensar: "Graças a Deus!". E não consegui ficar chateada com ele. Afinal, David estava bem (demais até!) e isso que importava.

Me aproximei da cama e fiquei ali admirando seu sorriso.

- Desculpa mesmo! Mas você deveria ver a sua cara! – Ele se desculpou sorrindo de orelha a orelha e retribuí com um sorriso aliviado.

- Como você está? - Eu disse sentando na cabeceira da maca.

- Estou bem, tirando as dores no pé. E você? - Ele disse acariciando meu joelho parecendo entender tudo que estava sentindo olhando para meu braço engessado.

- Ah! Estou bem. Só tentando não pensar em algumas coisas.

- Estamos no mesmo barco. - Ele disse olhando para o pé.

- Não é melhor avisar a alguém do Chelsea? A comissão técnica, sei lá.

- Não jogo mais lá. – Ele disse rápido demais.

- Como assim? - Eu disse confusa.

- Fui contratado pelo Paris Saint-Germain durante a copa.

- Paris? Quer dizer, na França?

- Isso mesmo. Eu terei que ir pra lá daqui um mês para a apresentação oficial. – A expressão dele mudara, mas eu não pude identificar o que ele sentia.

Respirei fundo, pensando em todas as "surpresas" que havia tido aquele dia. Eu sabia que não tinha muito tempo que David havia aparecido em minha vida. Mas ele coloriu meus últimos dias de forma rápida e inexplicável. E agora tudo parecia ter data de validade.

- Teremos que aproveitar bastante! - David disse sorridente. - Mesmo com esses gessos. - Nós rimos.

- Vejo que já está bem não é rapaz? - Dr. Marcel disse encostando-se à porta.

- Estou tendo ajuda. - David disse olhando para mim e depois para o doutor, me deixando radiante e envergonhada ao mesmo tempo.

- Compreendo. Você deu um susto e tanto em sua namorada! Os enfermeiros estão comentando pelos corredores. - Nós dois concordamos com breves risadas.

Dr. Marcel se aproximou e começou a examinar David. Perguntou sobre as dores enquanto ia escrevendo uma receita de anti-inflamatórios. Quando terminou, entregou uma para mim e outra a David.

- Os dois estão liberados. A pancada na cabeça não foi nada, fiquem tranquilos.

Eu voltei meus olhos à receita e li o nome dos remédios que teria de comprar. E no roda pé direto havia uma mensagem especial: "E também amor, a qualquer hora do dia em qualquer dosagem.”.

David e eu parecíamos ter lido a pequena mensagem ao mesmo tempo. Então, nos entreolhamos. Ele parecia querer me fazer crer que me daria à dose de amor necessária durante o tempo que eu precisasse e quisesse. Sim! Isso tudo em apenas um olhar.