Capítulo 12 - Meu braço não!

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Acordei no susto em cima de uma maca enquanto um bombeiro imobilizava meu braço esquerdo, que doía muito.

- Onde está o David? Como ele está? - Eu gritei recobrando a consciência.

- I do not understand. - O bombeiro disse confuso.

- Onde está o David? Como ele está? - Eu disse, agora em inglês, tentando me acalmar.

- Uma outra ambulância já o levou, mas ele está bem.

Dois bombeiros colocaram a maca onde eu estava dentro da ambulância, que seguiu para o hospital.

Meu braço doía de forma inexplicável e eu mal conseguia mexe-lo.

Voltei meus olhos até a fonte da dor e me surpreendi ao ver que meu pulso estava torto e muito inchado.

- Vai ficar tudo bem! - Um dos bombeiros disse ao ver lágrimas se formarem em meus olhos.

"Por que o braço meu Deus? Podia ser a perna!" Eu suplicava mentalmente.

Meus braços eram a fonte de meu trabalho, sem eles não posso praticar minha maior paixão, tocar sax.

Comecei a chorar copiosamente, pela dor e só de pensar em não poder tocar mais.

A ambulância parou, suas portas abriram por fora e outros dois enfermeiros estavam lá. Eles tiraram a maca de dentro do veiculo e empurraram-na para dentro do hospital.

Os enfermeiros me deixaram em um quarto grande e completamente branco, com uma televisão em um pedestal no alto da parede, havia um telefone na mesinha de cabeceira ao meu lado e uma porta do lado direito que deveria ser o banheiro.

- Fique tranquila nós vamos chamar o Dr. Marcel que é ortopedista para dar uma olhada em seu braço. - Uma enfermeira loira e bonita disse tentando me acalmar.

Assenti com a cabeça enquanto soluçava. "Você precisava se acalmar! Se Deus quiser não vai ser nada de muito grave!" Eu dizia a mim mesma.

- Olá? - Dr. Marcel disse abrindo a porta lentamente. - Você é Julieta?

- Sou eu sim!

Ele adentrou o quarto e veio diretamente a mim pedindo pra ver meu braço.

- Hum.. Isso está bem feio! - Ele disse examinando meu pulso. - Vamos fazer um Raio-X para saber exatamente o que houve. - Ele disse escrevendo o pedido de Raio-X em sua prancheta.

- Doutor? - Eu o chamei.

- Sim? - Ele disse voltando sua atenção para mim.

- O senhor sabe me dizer se algum David deu entrada aqui no hospital?

- Sim! Acabei de vir do quarto dele. Ele estava com você?

- Sim estava! Como ele está? - Eu disse visivelmente preocupada.

- Ainda está desacordado, mas está estável. Quebrou o nariz e alguns ossos do pé que provavelmente terá que operar, mas nada muito sério fique tranquila.

- Operar? - Eu falei alto demais. - Como isso pode ser tranquilizador?

- Só vamos por alguns pinos de metal. Não se desespere, temos tudo sob controle. - Dr. Marcel disse saindo do quarto.

Levei a mão saudável ao rosto tapando meus olhos na tentativa de relaxar, porém foi em vão.

Em menos de cinco minutos a enfermeira voltou ao meu quarto.

- Você consegue levantar? - Ela perguntou.

- Acho que sim. - Eu disse me ajeitando na maca.

Apoiei meus cotovelos na maca e me ajeitei tentando levantar, porém apareceram manchas escuras em minha visão, fiquei tonta e minhas pernas fraquejaram quando as pus no chão. A enfermeira correu em minha direção e me apoiei em seu ombro. Eu ainda estava em choque por conta do susto da batida.

- Pelo visto não. - Ela sorriu sutilmente.

Ela me ajudou a deitar novamente na maca, a destravou e empurrou até o setor de Raio X.

***

Um pouco mais de uma hora depois de ter feito o Raio X, estava em meu quarto e havia uma bolsa de analgésico conectada a minha veia. Eu estava sonolenta, afinal medicamentos deste tipo diminuem a pressão arterial.

- Senhorita? Como está se sentindo? - Doutro Marcel disse entrando em meu quarto.

- Estou bem! - Eu balbuciei em meio a um bocejo.

- Antes de tudo quero dizer que seu namorado não vai precisar operar o pé. - Ele disse me tranquilizando.

"Namorado? Quem dera!" Eu disse mentalmente. E sorri aliviada para o médico.

- Quanto a você... - Ele fez uma pausa. - A senhorita quebrou o braço em três lugares: rádio, ulna e carpo. Terá que por gesso e ficará de molho por um bom tempo.

Meus olhos se encheram de lágrimas e levei minha mão direita (a saudável) ao rosto na tentativa de aparar as lágrimas, mas era em vão pois elas brotavam rápido demais e eu não podia conter.

- É só um gesso. - O doutor disse tentando me acalmar.

- Eu sou saxofonista doutor, e vivo disso. - Eu disse pensando em como iria me sustentar nos próximos meses.

- Eu sinto muito. - Ele disse com um olhar acalentador. - Eu vou pedir para que a enfermeira venha lhe buscar para por o gesso e já estará liberada. - Doutor Marcel disse se retirando.

A enfermeira voltou alguns minutos depois, me ajudou a levantar da maca e seguimos para a ala de imobilização.

Chegando lá o rapaz responsável pelo setor me chamou e eu entrei.

Ele pediu para ver meu braço e em seguida olhou meu laudo médico. O rapaz pôs as mãos em meu braço forçando para coloca-lo no lugar correto me causando um dor insuportável, não consegui segurar e urrei de dor.  Com uma mão ele pegou uma tala e envolveu meu antebraço e depois começou a passar o gesso sem afrouxar nem por um segundo.

***

Ao sair da ala de imobilização meu braço doía mais do que quando cheguei ao hospital, mas no momento eu estava andando pelos corredores focada em achar o quarto onde David estava.

Cruzei com Dr. Marcel em um dos corredores e decidi pergunta-lo. Ele também estava indo para lá e eu o segui.

Ao me aproximar já pude vê-lo adormecido em cima da maca, haviam esparadrapos em seu nariz e pontos na testa, sua expressão era tranquila por incrível que pareça.

Sentei na poltrona que havia em frente à maca e aguardei que o doutor terminasse de examina-lo.

- Como ele está doutor? - Eu perguntei quando o médico terminou e já ia se retirar.

- Está bem! Não deve demorar muito para despertar, afinal acabamos de por o gesso em seu pé. Infelizmente, a dor o fará acordar.

- Tudo bem! Obrigada. - Eu disse levantando e indo em direção à maca e o doutor se retirou.

Voltei meus olhos para David e acariciei seu rosto levemente.

- Vai ficar tudo bem David! Eu prometo! - Eu disse baixinho depois de dar-lhe um beijo na testa.

Voltei a sentar no sofá, mas desta vez estiquei minhas pernas e recostei minha cabeça na parede. Eu ainda estava sob o efeito do analgésico e acabei pegando no sono.

Bom demais pra ser verdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora