Prólogo

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O Bruno aí na mídia.

Eu espero de coração que vocês gostem da minha nova história!

Boa leitura!

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BRUNO

Mais um dia se passa no meu trabalho e mais uma vez eu estou satisfeito em como eu me entreguei e em como eu consegui ajudar mais pessoas. Sempre foi o meu sonho ser alguma coisa na área da saúde... para mim não importava se era para eu ser doutor, fisioterapeuta, enfermeiro, técnico de enfermagem e nem nada do tipo. Tudo o que eu sabia era que eu havia nascido no mundo com a difícil jornada de ajudar pessoas...

Vim morar aqui no Rio de Janeiro já tem alguns anos, mais precisamente 10 anos. Vindo do interior do Piauí, morando em um lugar onde ninguém conseguiu se formar e eu fui o primeiro, um lugar onde não tem a mínima condição de se trabalhar se não for em roças. Eu nunca fui chegado em ir trabalhar na roça, porque eu não sou uma pessoa de trabalhos braçais pesados como esse.

Lá não tem posto, não tem médico, enfermeiros e nem nada. A população tem que ir para outra cidade se tratar e isso demandava de muito tempo das pessoas da família que os acompanhavam, assim como muito dinheiro gasto nessa empreitada. É triste dizer que o governo, um órgão que deveria ajudar e levar o mínimo de assistência básica para as pessoas, não ligam para o que acontece com uma população mais pobre.

Com mais pobre, eu quero dizer: bem fodida, que não tem onde cair morto e só tem alguns animaizinhos, que, por conseguinte, são vendidos para bancarem os custos de tratamentos.

Saí de casa com meus quinze anos e fui tentar a vida em outra cidade. Claro que meus pais não concordaram, mas com uma cota de 10 filhos em casa e comida se esvaindo, somado a um tempo de seca onde não se conseguia produzir nada, não havia muito a ser feito.

Na outra cidade foi onde eu consegui o meu primeiro emprego, como o ‘varredor oficial’ de um salão de cabeleireiros localizado no centro. Ganhava 300 reais por mês, mas sempre me surgiam alguns bicos, pois sempre fui muito trabalhador, obediente e muito certinho nos serviços que eu prestava aos outros. Por mês, eu tirava mais ou menos 900 reais, o que era mais do que suficiente para eu mandar 150 para os meus pais, pagar meu quartinho de 100 reais em uma pensão caindo aos pedaços, pagar 200 reais no meu curso de técnico em enfermagem, comprar 100 reais de roupas nas lojinhas de 10 reais – o que não era sempre, pois não precisava de muitas roupas – e o resto eu guardava para caso acontecesse algo que não fosse previsto.

Eu nunca fui um jovem muito chegado em sair para me divertir e, mesmo depois que eu recebia meu salário, ainda não tinha pretensão para isso. Sempre pus em minha cabeça que deveria viver com o básico do básico até que eu chegasse a ser bem-sucedido em um emprego. Não era uma pretensão de ficar rico, mas uma pretensão de conseguir mais dinheiro, o que, consequentemente, ajudaria mais a minha família.

Dito e feito, terminei meu curso, já tinha uma boa grana guardada, sempre mandava dinheiro para a minha família, mas faltava algo a mais. Um crescimento pessoal maior em minha vida, algo que eu sempre quis realizar... meu sonho de morar em uma cidade grande. Um sonho bem idiota, posso dizer aqui, porém, um sonho que eu rapidamente realizei, pois foi rápido eu vim para cá.

Um garoto idiota de 16 anos, em uma cidade grande, perdido em uma cidade pedras... poderia ser um desastre, mas eu tenho a sorte de ter nascido com uma inteligência fora do comum. Eu tenho de agradecer principalmente as minhas professoras, que graças a Deus, existiram naquele fim de mundo que eu morava. Elas quem me ensinaram que se eu não quisesse pegar pesado no sol, igual via meus pais e meus irmãos, eu deveria pegar pesado nos livros, que me impulsionaram para uma vida melhor sempre.

E foi o que eu fiz.

Pela minha inteligência eu fui pulado de série algumas vezes, e com isso consegui terminar meus estudos cedo. Hoje eu não tenho certeza se ainda podem fazer isso, mas na minha época podia. Da minha família, eu fui o único que conseguiu se formar em alguma coisa, pois os outros continuam lá lutando naquela vida de trabalhar na roça.

As pretensões deles não são grandes, todos já tem suas famílias formadas, trabalham em algo, conseguem comida e um dinheirinho a mais para se divertirem e isso é o que basta para eles. Confesso que, hoje, se eu pudesse escolher, eu não faria nada diferente. Pois sempre que eu olho para o meu passado e me olho agora no presente, vejo que a escolha foi certa...

Todos eles já sabem que eu sou gay e eu nunca precisei ao menos dizer algo a eles. Todos me respeitam e já tiveram várias brigas com as pessoas de lá que já tentaram ‘me fazer virar macho’. Onde eu morava, a maioria dizia ou ainda diz – não sei, pois faz alguns anos que andei lá, e quando andava, não fazia questão de passar próximo dos ditos cujos – que isso era falta de porrada e era porque os pais não sabiam ensinar seus filhos bem.

Meus pais, por outro lado, nunca se fizeram de cegos perante as situações que aconteciam e sempre que acontecia algo disso, eles me defendiam com unhas e dentes. Meus irmãos, por outro lado, eram mais ‘’bravos’ com relação a isso. Sempre que rolava algo de preconceito com relação a mim, eles partiam logo para a agressão. Cansei de ver meu irmão mais velho batendo em alguns garotos que tiravam sarro de mim por ter meus trejeitos afeminados.

O melhor era que ele nunca perdia uma briga e sempre batia tanto a deixar os outros desacordados. Eu, como pessoa que era defendida, achava o máximo... eles sempre se faziam de machões para com uma criança que mal sabia do que eles falavam, mas quando encontravam alguém mais velho... ah, mas aí mudava de figura. Sempre escondiam os rabinhos entre as pernas, mas como eu nunca fui uma criança que mentia para os outros, eles não tinham muito o que fazer.

Adivinham em como a minha família era conhecida por onde eu morava? A família dos ignorantes.

Isso mesmo, as pessoas tentavam fazer da minha vida um inferno e quando meus irmãos ou pais iam lá e me defendiam, ainda se achavam no direito de dizer que eles que estavam errados, e não olhavam para si próprios, sendo que os erros estavam neles.

Porém também era um lugar com muita gente boa. Meus vizinhos se ajudavam sempre que podiam, sempre dividiam as coisas com os outros vizinhos, se tinha família com dificuldades financeiras e não podiam comprar comida – o que acontecia de vez em quando -, os outros iam lá e ajudavam. Não é bom se enganar, em meio a boas pessoas, sempre tem as que são podres de alma e que não conseguem ver ninguém feliz sem ficarem com inveja.

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