Capítulo 36

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Hayley

"Uma granada? Sério?" Pergunto, fazendo East rir da minha cara. Eu estava sentada no sofá da sala de televisão no porão com os braços cruzados em cima do peito e uma cara emburrada.

"Não é minha culpa que você não viu... Eu te avisei." Meu amigo provoca, e eu bufo revirando os olhos.

"Esse jogo é um saco." Digo, deixando o controle do PlayStation de lado. Easton me encara divertido.

"Você só está dizendo isso porque morreu em todas as rodadas." Ele diz, e eu lhe envio o dedo do meio, apenas fazendo com que meu amigo solte uma risada alta.

Cinco dias haviam passado desde o meu incidente com a moto. Dias em que eu fiquei muito boa em esconder as coisas dos meus pais, inclusive a tatuagem da gangue no meu pulso.

Eu também sei que Peter vem me evitando um pouco. Nós nos vimos apenas nos treinos, e é isso. Não conversamos fora daquela sala de treinamento, porque ele dá um jeito de sair toda vez que eu tento.

Minhas habilidades na luta e na moto estão bem melhores, porém, o que já é um grande avanço. Meus professores também estão começando a me estranhar, já que eu não luto mais para ser a melhor da turma tem umas duas semanas. Mas, sinceramente, eu não me importo.

Eu passo a maioria do meu tempo no bar, e algumas noites também. Poucas, porém, para não despertar a suspeita dos meus pais.

E, agora, eu estava sentada no sofá com East, jogando Call of Duty. Tinha um tempo em que estávamos aqui... Horas, talvez.

East e eu nos aproximamos também, já tem um tempo. Ele nunca me olhou como nada mais que uma amiga, e eu ficava agradecida por isso. Eu acho que ele apenas entendia a minha situação, como era ficar meio perdido no mundo. Eu não sei como ele entendia, já que nunca falamos de seu passado, mas ele o fazia. O passado do meu amigo parece ser um assunto delicado, então eu também não empurro.

"Você não tem um outro jogo que nós possamos jogar? Um jogo legal?" Pergunto, e ele me olha de soslaio.

"Hay, você jogou todos os jogos. E todos eles você falou a mesma coisa." Diz, e eu bufo. East ri da minha cara, e eu lhe dou um soco fraco no braço.

"Que seja." Respondo, afundando mais no sofá.

"Hey, o que você vai fazer no seu aniversário, de qualquer maneira?" Ele pergunta, e eu torço meus dedos no colo. Eu sabia que iria perguntar em algum momento.

"Nada. Meu aniversário não é exatamente um motivo de comemoração para mim, só isso." Respondo, e ele franze a testa.

"Hayley, você vai fazer dezoito anos. Por que não? Malia estava querendo te fazer uma festa." Eu reviro os olhos, sabendo que a minha amiga realmente tinha essa intenção.

"Eu sei, ela encheu minha cabeça com suas maravilhosas ideias ontem." Digo, e ele me envia um sorrisinho torto.

"Para se evitar a pergunta, pequena. Por que não quer comemorar seu aniversário?" Eu bufo, cruzando os braços novamente.

"Sei lá... É apenas uma semana depois que Harry morreu... Não é uma data muito feliz." Explico, e seu rosto se enche de compreensão. Eu gosto de falar com East pois ele não tem pena de mim. Ele apenas escuta.

A verdade é que eu costumava amar o meu aniversário. Todo o ano, eu e meu irmão tínhamos uma rotina. Ele faria o meu café da manhã com panquecas, bem do jeito que eu amava. Depois, nós dávamos um jeito de escapar de meus pais e íamos para o parque que tem em Conway Springs. Ele me pagava um almoço, qualquer coisa que eu quisesse. As vezes, seu melhor amigo ia connosco.

Depois, nós pagaríamos o Mustang e íamos correr todo o caminho de volta e rodando pela cidade. Ele até deixava eu dirigir, nos últimos dois anos que passamos juntos. A noite, nós íamos para uma lanchonete e comemos hamburguer. Sempre desse jeito. Costumava ser o melhor dia do ano.

Até, é claro, que ele morreu. E eu passei o meu aniversário sozinha. Para ser honesta, eu passei os meus dois aniversários sem ele em seu quarto. O que costumava ser seu quarto, pelo menos.

Então, não, não era um dia que eu gostava de comemorar.

"Bem, é o seu aniversário de dezoito." Ele diz, e eu o encaro séria.

"Eu sei, mas eu apenas não consigo ficar feliz com isso. " Respondo, e ele assente com a cabeça.

"Bem, boa sorte em tentar convencer imperiosi sobre essa sua ideia de não fazer uma festa, pequena." Ele diz, diversão em seus olhos. Eu bufo.

"O que esse apelido significa, de qualquer maneira?" Pergunto. Era algo que eu sempre quis saber, assim como Malia. Mas eles nunca falara. East me envia um sorriso torto.

"Imperiosi? Significa mandona." Ele diz, e eu solto uma risada. Adequado.

Nós ficamos em silêncio por alguns instantes, e eu tenho que morder meu lábio para me impedir de falar o que eu quero falar. Easton parece perceber isso, porque me olha zombeteiro.

"Pergunte, pequena. Não vai te matar." Ele diz, brincando, e eu suspiro.

"Como você veio parar aqui? Na gangue, eu digo." Seu rosto fica imediatamente sério, e seu olhar distante, como se ele estivesse preso em seu passado.

East sério era algo meio estranho, considerando a sua aparência. O cabelo pintado de verde nas pontas, os anéis e pulseiras que ele usava. Não eram jóias, e em outra pessoa poderia até deixar mais feminino. Mas era bastante o contrário com ele, na verdade. Eram aquelas pulseiras pretas, material que lembrava couro. E os anéis, também pretos, eram daquele estilo que você comprava na praia. Ele tinha nas duas mãos, um no dedo anelar e o outro no dedão.

"Essa é uma longa história, Hay. Meio depressiva, para falar a verdade. Eu saí da Itália com..." Eu não pude deixar de lhe interromper.

"Espera... Você é italiano?" Ele sorri, divertido.

"Sì, ragazza. Sono venuto qui all'età di quattro anni." Eu o encaro chocada, e ele ri da minha expressão. Analisando bem, East realmente tinha um aspecto meio italiano.

"O que você disse?"

"Sim, garota. Eu vim para cá com quatro anos de idade." Diz, e eu aceno com a cabeça.

"Tudo bem, continue." Falo, e ele solta uma risadinha silênciosa antes de continuar.

"Bem, eu vivi com a minha mãe. Quando ela morreu, eu me juntei." Explica. Eu ia dizer-lhe algo, mas o toque do seu telefone indicando uma mensagem interrompe.

Seu rosto muda de sério para divertido enquanto ele lê qualquer que fosse a mensagem.

"Bem, isso é divertido." Murmura, e eu franzi a testa.

"O que?" Ele me encara com um sorrisinho torto.

"Peter foi preso."

Beta - Death of Angels 2Onde histórias criam vida. Descubra agora