Distância

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É tão difícil ser lar de quem está longe. A cada passo na calçada, o fio preso a um anzol na garganta vibra de tensão pelos quarenta cinquenta sessenta centímetros a mais que nos separam.
E a distância física arde em saudade líquida e escorre pelos cantos das bochechas, a racionalidade dos pensamentos vai embora como a nuvem de fumaça de cigarro baforada na calçada e o sangue retumba nos ouvidos com força, pensando na semana seguinte no mês seguinte no ano seguinte.
E a semana passa e o anzol parece se afrouxar, quando na verdade é a carne ao redor que cicatriza em volta e permite que sua constituição metálica penetre ainda mais fundo na mucosa dolorida. O coração tem uma duas três camadas e você passou por todas com uma lentidão apressada que afundou qualquer rejeição hospitalar com beijos que curam qualquer coisa.
E a distância e o tempo se dilatam e se contraem como sanfona de festa junina. A cada passo na calçada, o fio preso ao anzol vibra e vibra e vibra.

Ana InconsequenteOnde histórias criam vida. Descubra agora