Capítulo 35

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O corvo e a coruja voaram até o castelo do reino. Enquanto sobrevoavam o vilarejo, antes do castelo, era possível ver um verdadeiro pandemônio. Uma guerra havia começado.

- Monique, seja lá o que a senhora for fazer, faça rápido. Guardas estão vindo para seu quarto. - Denis falou no momento que se tornou humano novamente, deixando seu aspecto de corvo para trás e vestindo roupas de seda negra.

- Eu sei o que eu tenho de fazer. - Monique vestiu um vestido cinza de seda leve, e com o amuleto verde na mão, caminhou até um baú e apanhou o coração, a corda e a runa - os materiais para o ritual de magia negra.

- MONIQUE! - Rei Jean estava vindo, com alguns guardas em volta.

- Olá, Jean - Monique sorriu.

- Bruxa. Bruxa. BRUXA! - Ele estava visivelmente furioso. - Como pude não perceber antes...

- Pois é, seu velho babão, bem debaixo do seu nariz incrivelmente grande e você sequer notou. - Monique conferiu suas unhas num ato narcisista. - Tão fraco...

Jean sacou a espada, assim como os guardas que o rodeava e partiu para cima da rainha. 

Denis, com um gesto, levitou os homens e os atirou com força contra a parede do quarto da rainha, desacordando-os.

- Denis, meu querido Denis, não use sua força contra eles; é  desperdício de energia mágica.

- Onde fará o ritual? 

- No mesmo lugar onde queimaram minha mãe.

Monique apanhou os artefatos e se metamorfoseou-se na coruja cinza e voou, junto com o corvo, até o centro da cidade, onde as piras e as forças se encontravam.

O centro se encontrava vazio devido ao risco de guerra eminente. Seria fácil para Monique concluir o plano. 

Monique se concentrou, de olhos fechados, e libertou uma onda de energia que, ao contato com o ar, transformou-se em fogo. A chama incandescente tomou a forma de um pássaro mortífero, cujo canto trazia a morte. 

- Queime tudo. - Monique disse de forma calma. 

O pássaro de fogo levantou voo e começou a atravessar as casas, deixando-as em chamas e as pessoas apavoradas. 

- Que o ritual comece.

A rainha bruxa colocou o amuleto verde sob a runa mágica, e os envolveu com a corda e o coração no laço. Os objetos começaram a ser desintegrados pouco a pouco e a joia verde brilhar cada vez mais. 

- Rainha Monique... e agora? - Denis perguntou, mas já sabia a trágica resposta.

- Agora você morre. - Com um punhal médio de prata, Monique foi em direção de Denis e o apunhalou três vezes para ter máxima certeza.

A personificação da maldição cuspiu sangue negro e suplicou:

- Não... Por favor.

Monique ficou furiosa com aquele ato.

- Odeio quando se humilham pra mim; é ridículo. - Ela pegou o punhal e mirou na garganta do homem barbado. - Agora, eu tirarei a sua vida, e usurparei sua magia. - E com um breve e rápido golpe, a lâmina no pescoço de Denis.

Ao último suspiro do homem que um dia pensou que Monique o amava, uma névoa negra se espalhou pelo recinto, e a joia, outrora verde, se encontrava preta e brilhante, como as penas do belíssimo corvo que Monique destruíra. 

As pessoas, em meio ao incêndio que o feitiço de Monique causara mais cedo, começaram a se olhar e se atirar, um por um, de forma lenta e harmoniosa, nas chamas. A maldição estava funcionando.

Monique queria ver, com seus próprios olhos, Jean morrer. Sem usar magia, ela caminhou até o castelo, acompanhando os suicídios alheios: gargantas cortadas, pescoços quebrados, corpos queimando. Satisfação.

- Bruxa safada... O que pensa que está tramando!? - Jean, juntamente com Raul e alguns guardas, saíram do castelo.

- Olhe e veja, rei tonto. - Monique sorriu e apontou para a chuva de suicídios.

- Personificação do Satanás! Morra - Um dos guardas sacou a espada e atacou Monique.

A rainha não fez nada; não era necessário. O guarda parou antes mesmo de golpeá-la e engoliu a lâmina que estava em sua mão, morrendo. 

- Hora de vocês conhecerem a morte.

- Pai nosso que estás no céu... - Jean se ajoelhou e começou a rezar. - Deus tenha piedade.

- Não adianta rezar, homenzinho. A morte vem pra todos.

Jean e Raul se olharam e começaram a andar em direção às chamas. De mãos dadas, penetraram nas labaredas ardentes e queimaram, sem gritos ou resistência, apenas queimaram em silêncio, como uma morte honrosa.

Monique se transformou na coruja cinza e voou até a torre mais alta do castelo. Ela só conseguiu ver ruínas malditas. A energia diabólica que rondava aquele lugar era demasiada.

- Isso foi por você, mamãe. - Monique sorriu.

As chamas estavam consumindo a cidade e em poucos minutos já não existia nada vivo naquele lugar, além de Monique. A rainha estava em paz, sozinha, feliz e satisfeita. Pôde vingar a alma de sua mãe com louvor. 

- Está pronta para descobrir o preço de tudo isso? - A fúria Alecto apareceu de forma graciosa ao lado de Monique.

- Eu estava esperando por você, Alecto. 

- Prepare-se rainha Monique, toda magia têm um preço. E é hora de você pagá-lo. - Alecto falou de forma mórbida e séria.

Monique riu, gargalhou, chorou de rir, e se jogou. O corpo da bruxa caiu em queda livre por vários metros, e continuou caindo.

- O preço da magia utilizada, Monique, é o infinito - Alecto riu.

Monique estava condenada à queda infinita, mas não se arrependia de nada. Ela apenas fechou os olhos; e esperou.

A Rainha e o EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora