Capítulo 13

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Naquele momento eu tinha certeza de três coisas. A primeira delas é que eu não poderia mais ficar ali depois do que tinha acontecido. Independente do que Felipe pudesse falar, eu teria de me afastar para o bem de todos. A segunda é que eu tinha traído a confiança deles, e com isso tinha magoado Felipe. A terceira era que não tinha controle sobre a magia que eu carregava, e de alguma forma ela despertou novamente. Agora não era mais questão de escolha mas sim de necessidade aceitar o que sou e trabalhar para controlar isso.

- Eu sinto muito, por tudo isso. Não queria te magoar e muito menos colocar vocês em perigo. - falei com toda a sinceridade que havia em meu coração.

O que eu estava sentindo nesse momento era pior do que eu já havia sentido antes, como se fosse a dor da perda. Eu havia perdido a sua confiança, perderia sua amizade e as chances de poder estar perto dele. E além de tudo isso eu havia machucado seus sentimentos.

- Espero que um dia você possa entender o porque eu fiz isso e me perdoar. - suspirei. - Vou embora, não precisa comentar com seus pais sobre isso, ou comenta se quiser.

Me levantei de onde estava disposto a ir embora e não voltar mais. Uma parte dentro de mim ainda iluminava na esperança de que ele iria me tentar me impedir. Mas ele não fez. Caminhei sozinho de volta até o quarto e ele ficou sentado. Talvez assim fosse melhor.

Me apressei para sair antes que ele voltasse, assim seria menos difícil. Não iria levar nada que não me pertencia, apenas a roupa que eu estava quando Pedro me encontrou.

Olhei ao redor do quarto uma última vez, olhei para as camas e armário. Respirei um pouco mais forte sentindo o cheiro que tinha ali, fazendo meu corpo arrepiar inteiro. Forcei-me a dar o primeiro passo em direção a porta. Me viro para continuar andando e o vejo parado na entrada do quarto me observando. Abaixo a cabeça e não desisto de seguir em frente.

- Espera! - diz antes que eu pudesse sair. Eu juro que eu não queria criar nenhuma expectativa com isso, mas era inevitável. - Você esqueceu sua roupa.

Suas palavras me acertaram como uma chuva de espinhos. Por uma momento eu pensei que ele conversaria comigo, mas fui destruído por minha própria ilusão.

Volto rapidamente e pego a roupa que havia deixado em cima da cama, tentando ao máximo controlar minhas lágrimas que insistiam em descer. Ao me virar novamente para sair, embarro com Felipe que estava parado bem atrás de mim. Tento desviar, mas ele me impede ficando novamente no meu caminho.

- Você está sendo egoísta novamente em me pedir para te ouvir até o final e não querer escutar também. - dispara.

- Independente do que você diga eu sei que no final vai me querer longe. Já me disse isso diversas vezes antes. - falei tentando fugir de mais uma conversa que acabaria mal.

- Em algum momento lhe disse que queria longe nas últimas semanas? - fiquei calado após me perguntar. - Eu exigi que fosse embora agora? - Minhas mãos começaram a suar de nervoso.

- Mas não é necessário falar porque... - ele me interrompe sem nem mesmo de terminar minha justificativa.

- Deixa eu ser mais claro. - pensou um pouco antes de continuar falando. - Eu não quero que você vá embora, Arthur. - Meu coração estava paralisado. - Eu não sei o que pensar ainda sobre toda essa sua confissão, nem ao menos a veracidade de tudo isso. Mas pra colocar as coisas no lugar eu vou precisar de você aqui pra me explicar.

Parte da angustia que eu estava sentido havia desaparecido como um passe de mágica. Ele não me queria longe, queria me ouvir, entender toda a situação... Mas isso era errado.

- Eu não posso ficar mais aqui, não consigo me controlar. - disse.

- Mas precisa. Se o que você está dizendo é realmente verdade, tem que continuar se controlando um pouco mais. Você não pode sair assim sozinho, meus pais achariam que eu fiz algo a ti e você estaria sujeito a todo tipo de perigo. - disse Felipe.

- Posso ser o próprio perigo.

- Você não é perigoso. - disse. - E não me dá medo.

Acredito que ele ainda não havia entendido a gravidade da situação. Eu era como um vulcão que a qualquer momento poderia entrar em erupção.

  - Arthur, eu estou lhe pedindo para ficar e me fazer entender isso, se vai ser complicado ou não, só ficando pra descobrir. Mas se você quer mesmo ir embora, não sou eu que irá lhe impedir. - disse saindo da minha frente e abrindo passagem para que eu pudesse sair.

Fico parado analisando a atual situação na qual nos encontramos. Eu sei que é perigoso, agora ele também sabe... Mas eu devo uma explicação mais clara.

- Nada que lhe disse hoje é mentira, vai ser realmente complicado. Eu irei ficar mais uns dias, não muitos, até você entender de vez tudo. E depois irei. - falei me virando para olhar em seus olhos.

Ambos sentamos em suas camas, eu estava exausto mas me mantive atento a suas perguntas sobre a magia, bruxas e toda essa história. Eu não sabia muito o que falar, mas contei o que havia lido com Charlie nos livros.

Era um momento delicado para ambos, porque tudo agora estava mudado. A visão que ele tinha de minha era outra diferente da que ele tinha antes.

- Eu imaginei que essas histórias fossem apenas lendas. - disse ele. - Se eu apenas ouvisse isso de sua boca talvez não acreditasse... Mas eu vi com meus próprios olhos.

- Foi difícil pra mim acreditar nisso tudo também. - falei meio desapontado.

- Quando conseguir controlar isso você vai poder voltar e ver sua família? - indagou.

- É isso que eu espero. - respondi de imediato. Não pude deixar de notar que sua expressão mudou mais uma vez. Ele parecia novamente desapontado. - Eu não queria me apegar a vocês, mas aconteceu, foi inevitável. Eu realmente gosto de você. - confessei.

Ele deu um pequeno sorriso, como se estivesse gostado do que eu havia falado. Isso pra mim foi suficiente para confirmar que ele não me odiava.

- Já me contou tudo ou ainda tem algo que eu precise saber? - pergunta.

Procurei por toda minha história se havia deixado passar algo, esse era o momento pra falar tudo. Não poderia deixar pontas soltas para que ele se desapontasse comigo novamente. Mas eu acredito que não havia mais nada. A não ser...

- Minha família mora em um reino e minha mãe é uma rainha. A rainha regente de  Keystone. - falei o deixando surpreso.

- Então você é...

- Um príncipe. - disse.

Dois Caminhos (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora