Capítulo 18

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Meus olhos alcançam alguém vindo em minha direção, minhas pupilas se dilatam tentando enxergar melhor pelo escuro. Eu já estava em pé de prontidão esperando que se aproximasse.

- Não pode ser. - pensei alto. - Arthur? - meus olhos espantados enxeram de alegria e ao mesmo tempo preocupação em ver Arthur caindo bem na minha frente. Ele parecia muito debilitado.

Segurei ele em meus braços e o levantei do chão. Seu corpo estava frio. Seus olhos sorriram ao me ver. Meu coração estava esquentado novamente.

Com um pouco de dificuldade levei Arthur para dentro e logo anunciei que ele havia aparecido. Henrique foi o primeiro a correr para a porta quando entrávamos, apesar da euforia todos se mantiveram controlados devido ao estado físico dele.

Sem muita demora o colocamos deitado na cama, para que descansasse um pouco. Enquanto preparávamos algo para ele se alimentar quando acordasse, Úrsula não saia de perto dele. Mesmo desacordado ela conversava e alisava seu cabelo. Podia imaginar o alívio que ela estava sentindo naquele momento.

Aos poucos Arthur foi despertando, apesar de ainda parecer um pouco perdido. Dessa vez ele realmente estava perdido. Mesmo assim ele se esforçou e soltou um oi, seguido de um singelo sorriso. Sorri junto com ele.

Eu estava na porta observando sua mãe e irmão ao seu lado conversando com ele. Não falavam muito, apenas pediam para descansar mais um pouco que ele estava muito fraco. Por uma fração de segundo tive a impressão que ele olhou para onde eu estava e desviou o olhar logo em seguida. Mas eu estava perdido em meus pensamentos, logo devo ter imaginado isso.

Na manhã seguinte todos estavam a mesa para comer algo. Menos a minha irmã, que ainda iria voltar pra casa no dia seguinte. Arthur havia acabado de se sentar ao lado de sua mãe. Ele começou a explicar o que tinha acontecido durante esses dias.

A Helena era sua prima, filha da Ágatha. Ela se aproximou de Arthur a mando de sua mãe para fazer amizade com ele.

- Minha tia me prendeu em um lugar enfeitiçado, me deixou sem comer e sem beber até que eu não tivesse mais forças. - dizia Arthur lembrando do acontecido. - Na verdade a Helena não queria fazer aquilo, ela estava sendo obrigada. Todo esse tempo que passei lá ela me alimentou escondido para que eu não ficasse pior. Ela tentou recusar o pedido de sua mãe quando percebeu que ela iria me machucar e machucar vocês, mas Ágatha ameaçou de acabar com a vida dela e a minha caso ela não fizesse o que ela mandasse.

Todos estavam atentos ao que Arthur falava, até meus pais já sabiam de toda história, da perda de memória e do seu lado mágico. Era de partir o coração saber que ele passou por isso tudo sozinho.

- Mas o que ela queria prendendo você? - perguntou minha mãe.

- Me atingir. - disse Úrsula.

- De alguma forma ela queria que eu desenvolvesse meus poderes e me rebelasse contra minha família. Esse era o plano dela, que eu fizesse tudo que ela não conseguiu. - Arthur chorava ao terminar de falar essas palavras. Era difícil vê-lo assim. - Por favor, precisamos tirar a Helena de lá. Ela não tem culpa e eu só consegui escapar porque ela me ajudou. Consegui quebrar a magia que me prendia lá dentro por alguns segundos com a ajuda dela.

- Então deve ter sido isso que eu senti. A quebra da magia me permitiu sentir você. - falou Úrsula.

Arthur estava ficando alterado, ele parecia inquieto e nervoso. Úrsula o levou ao quarto para que pudesse descansar mais um pouco. De alguma forma precisamos atender ao pedido dele, e também fazer algo para parar sua tia. Ela não vai descansar enquanto não conseguir o que deseja.


- Posso entrar? - disse parado na porta do quarto. Arthur estava deitado olhando para cima, segurando algo na mão. Ele me olha por alguns segundos antes de responder.

- Claro, o quarto é seu. - sorriu um pouco.

Me aproximei dele e sentei na cadeira que havia ao lado da cama. Ele continuou olhando para o teto sem falar nada. Parecia que estava processando tudo que havia acontecido. Era muita coisa pra lidar e eu não queria ser invasivo naquele momento.

Eu procurava algo pra falar e não conseguia, as palavras ficavam presas em minha garganta. Eu não me importava de ficar ali com ele por horas sem falar nada, mas eu sei que precisava falar algo.

- Eu estou feliz que você está bem. Senti tanto sua falta e tive tanto medo que algo pudesse acontecer com você e... - parei de falar ao perceber que haviam lágrimas escorrendo de seus olhos. - Não se preocupa, você está bem agora. - disse limpando seu rosto com o dedo indicador.

Ele vira o seu rosto para me olhar. Em seus olhos haviam medo e tristeza ainda. Estavam perdidos tentando encontrar com os meus. Era como se todo amor e esperança tivessem sidos sugados de dentro deles.

- Eu tenho medo ainda. - disse ele. - Eu não consigo fechar o olho sem que eu começa a pensar no que aconteceu... É como se quando eu fechasse os olhos eu pudesse sentir sua respiração próximo ao meu rosto me ameaçando. - seus lábios tremiam ao falar.

- Vamos encontrar um jeito de acabar com tudo isso. Eu prometo. - disse pegando em sua mão, o fazendo soltar o barco que segurava. Sorri ao me dar conta o que ele estava segurando todo esse tempo. - Você realmente gostou do barquinho, não é? - falei.

- É lindo! Eu sempre quis navegar, sentir o vento no meu rosto e ter a sensação de estar livre. - disse após fechar os olhos como se estivesse imaginando. - Desculpa, não perguntei se poderia pegar. - falou me entregando o barquinho.


Fechei a porta do quarto e caminhei a passos curtos em direção a sala onde estavam todos.

- Ele dormiu? - perguntou Henrique ao me ver.

- Sim, já está dormindo. - falei me aproximando deles. - Precisamos fazer algo para que ele se acalme, e o único jeito é ir até onde ele estava preso. - Todos me olham após eu terminar de falar.

Dois Caminhos (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora