Capítulo 9

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Já havia se passado dois dias desde quando Felipe me beijou, e ele não quis falar sobre isso. Eu até tentei conversar com ele, uma ou duas vezes, mas resolvi lhe dar espaço. Sei que não é comum dois homens se beijando, mas eu entendia que não poderia ser errado. Afinal, o que há de mal em amar o próximo?

Aprendi muito sobre isso com o Charlie e meu irmão, que são felizes juntos e quebraram todos esses paradigmas. Mas eu sei que somos duas pessoas diferentes, e mesmo que pra mim isso seja comum, pra ele pode ser algo novo.

E eu não espero que continuemos com isso, porque não vou ficar aqui e não tenho intensão de magoar ele ou qualquer outra pessoa quando for embora. Não sei explicar ao certo o que senti com seu beijo. Foi bom, diferente e ao mesmo tempo tive medo.

Eu não consigo sequer dizer o que sinto em relação a isso. Mas estou tentando manter a cabeça firme e no lugar, eu sei que ele precisará ouvir a coisa certa, assim como precisarei de equilíbrio mental para não deixar que essa coisa que mora dentro de mim aflore.

Já pensei em conversar com Helena sobre o que aconteceu, mas acho que não deveria. Não é algo só meu, e não sei se ela reagiria da melhor maneira.

- O que houve entre você e o Felipe? Brigaram? - pergunta Diana após chegarmos da venda a tarde.

- Não brigamos, fique tranquila. Acho que ele só está um pouco cansado ultimamente. - tentei ser o mais convincente que pude. 

- Qualquer coisa pode conversar comigo, certo? - disse ela ainda esperando que eu falasse alguma coisa.

- Conversarei sim. Mas não se preocupa, estamos nos dando bem.

Após conversar um pouco mais sobre alguns assuntos do dia a dia, me direcionei ao quarto para poder descansar um pouco antes do jantar. Antes mesmo de fechar os olhos ouço Felipe falar comigo.

- O que ela queria? - pergunta como se já soubesse da resposta.

- Apenas saber se havíamos discutido. - prefiro não omitir sobre do que se tratava a conversa.

- Sei. E o que você disse? - ele parecia preocupado e isso me incomodou um pouco.

- Disse que não havia acontecido nada e que você estava apenas cansado. - respondi tentando encerrar o assunto. 

- Só? - insiste em querer saber mais, e dessa vez eu realmente não pude apenas responder um simples "sim".

- Se você quer saber se eu comentei algo sobre o fato de você ter me beijado... Não, eu não falei. - disse o fazendo ficar um pouco sério. Talvez por falar isso em voz alta. Confesso que até eu estranhei em falar isso em voz alta.

Ficamos em silêncio por alguns minutos. Tentei falar algo, mesmo sem saber o que falar, mas não consegui. Era como se a voz ficasse presa na garganta.

Muitas coisas passavam pela minha cabeça, inclusive o fato de achar que fui um pouco grosso com ele. Não sei o que estava acontecendo comigo nesses últimos dias, minha personalidade mudava constantemente. A calma que sempre tive as vezes parecia ir embora e no lugar dela a impaciência tomava de conta junto com a ironia e sarcasmo.

Um de nós resolve quebrar o silêncio, mas esse não foi eu.

- Arthur... - ele chama meu nome mas eu não respondo. Então ele insiste em chamar.

- Arthur, está dormindo? - dessa vez eu resolvo respondê-lo.

- Não. O que houve? - alguns segundos de silêncio até que ele responda minha pergunta.

- Posso deitar com você? - ele realmente me perguntou isso?

Eu fiquei sem respostas e bastante nervoso com a pergunta. Não era algo que passava pela minha cabeça ficar tão próximo dele assim, ainda mais depois do que aconteceu.

- Porque? - pergunto um pouco confuso.

- Só quero conversar contigo... - diz ele.

Eu realmente queria negar e dizer que era melhor conversar dessa forma como estamos, ou até mesmo nem conversar... Mas não consegui. 

- Sim. - me resumi em falar apenas isso.

Em poucos segundos Felipe já estava ao meu lado na cama. Eu estava olhando para o teto e ele deitado de lado. Eu podia sentir seus olhos me observando e sua respiração quente indo de encontro a meu rosto que arrepiava junto com todo o meu corpo.

- Não precisa ficar tenso. - disse ele, talvez tentando me acalmar, mas não funcionou. Ao ouvir isso fiquei bem mais nervoso do que já estava, em saber que ele percebeu minha inquietação.

- O que quer conversar? - tentei fugir do assunto, para que acabasse logo e pudéssemos estar cada um em seu lugar.

Novamente ele demora a responder minha pergunta, apenas fica calado me observando. Eu até imagino sobre o que ele quer conversar, o que me deixa mais aflito ainda.

- Sobre o que aconteceu... Bem, desculpa por aquilo. - eu nem sequer deixei ele terminar de se justificar e já me adiantei falando.

- Não se preocupa, seu sei que você não queria me beijar e foi só um impulso do momento...

- Ei, ei... - ele me impede de continuar falando. - Eu não estou me desculpando por isso, mas sim por ter ficado indiferente contigo.

O que? Quando acho que não vou mais me surpreender com nada em relação a Felipe, ele vem e me mostra o contrário.

- Eu sei que você não tem culpa, e não sei porque fiz isso. Mas não me arrependi. - continua falando. - E eu não sei se quero novamente... Bem, estou conversando contigo porque não quero ficar mal com você.

Ele parecia ser sincero. Era notório que ele estava se esforçando para conversar comigo sendo o mais sincero que conseguia e isso me deixou realmente mais aliviado. Primeiro porque ele se importava comigo e como eu estava me sentindo em relação a isso. E segundo que nós não precisaríamos ficar falando sobre isso ou ficar estranho um com o outro pelo que aconteceu.

- Eu também não quero ficar mal com você. - disse virando o rosto para olhar diretamente para ele. 

Ao fazer isso, nossos rostos ficam bem próximos um do outro e ele sorri. Não um sorriso grande e expressivo, mas um sorriso simples e sincero, suficiente para me fazer sorrir junto com ele.

E novamente, sem que eu esperasse, ele me abraça bem apertado e me fala algo no ouvido.

- Eu vou lhe ajudar a encontrar sua família, mas não é porque eu não quero te ver mais aqui, e sim porque quero te ver feliz e seguro.

Eu realmente estava grato por ouvir isso, mas não estava bem com isso. Menti sobre tudo isso, e ele acreditou e com toda empatia se dispôs a me ajudar. Desculpa Felipe, eu não mereço seu carinho nesse momento. Mas um dia retribuirei tudo isso sendo totalmente sincero com você. Mas até lá, é melhor manter as coisas assim.

- Obrigado.


Dois Caminhos (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora