Capítulo 14

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Estou mais tranquilo com Felipe sabendo da verdade e ter concordado não contar nada para os seus pais. Eu falei com mais detalhes sobre minha vida, ele tinha várias dúvidas e se manteve sempre atento ao que eu falava.

Concordamos que a melhor saída não seria fingir que isso não existia, mas sim buscar controlar essa magia que havia. Prontamente me ofereceu ajuda, mesmo eu tentando recusar de início, acabei aceitando. Não sabíamos como começar, nem o que esperar. 

Eu estava cansado com tudo isso que havia acontecido, essa explosão de sentimentos que aconteceram tão rapidamente me sugou todas as energias. E ainda que estivesse cansado, naquela noite mal consegui fechar os olhos. 

Passei a maior parte do tempo apenas deitado na cama olhando para algum lugar fixo e pensando. Algumas vezes tinha a impressão que Felipe me observava, mas sempre que o olhava ele estava de olhos fechados dormindo.

Era quase manhã quando consegui finalmente dormir. Não tive muito tempo para descansar, pois iriamos trabalhar.

   ☯  

- Bom Dia meu bem, como você está? - pergunta Diana ao sentar na mesa.

- Estou bem, tive um pouco de dor de cabeça, mas já passou. - sorri um pouco.

Apenas Felipe estava na mesa conosco. Ele me olha um pouco sério quando falo da dor de cabeça, como se estivesse me analisando de alguma forma.

- Talvez sua perda de memória tenha sido por alguma pancada na cabeça... - comenta ela. - Podemos marcar um dia para levar você a algum médico na cidade.

- Não precisa se preocupar. - disse. - Não deve ser nada grave.

Eu estava realmente constrangido por mentir na frente do Felipe com ele sabendo de toda a verdade. Ele se mantinha calado apenas observando a conversa.

- Mas é importante pelo menos verificar se está tudo bem mesmo. - insistiu.

- Mãe, ele disse que está tudo bem. - agora Felipe resolveu falar. 

- Estou bem, de verdade. Se achar que vai piorar eu falo com você. - eu tentei acalma-la.

- Sendo assim, tudo bem. Mas se achar que precise não hesite em me procurar. 

Terminamos de comer e fomos para a venda, continuava cansado. Acredito que meu rosto estava acabado por não ter conseguido dormir. 

Já havia passado algumas horas desde que chegamos. O movimento estava pouco e por isso deitei no depósito para dormir um pouco. Havia uma almofada e uma manta que coloquei no chão. Não era o lugar mais confortável, mas estava ótimo, iria conseguir pelo menos criar um pouco mais de força e aguentar até a noite.

Felipe havia ficado sozinho para cuidar de tudo, o seu rosto também estava com uma expressão cansada. Ainda ofereci para que deitasse um pouco e descansasse, mas ele não quis.

Estava dormindo quando sinto algo tocando em meu rosto e subindo para meu cabelo. A princípio achei que poderia ser algum inseto, mas logo senti o calor e o cheiro de Felipe. Não abri os olhos, fiquei deitado sentindo sua mão acariciar meus cabelos.

Acredito que ele estava bem próximo, porque pude sentir o calor de seu corpo e ouvir sua respiração um pouco ofegante.

Abri os olhos devagar e me deparei com seus olhos abertos me olhando. Achei que ele poderia se afastar, mas não, continuou próximo e com a mão sobre minha cabeça. Eu sorri gentilmente pra ele.

- Fechou para almoçar? - pergunto.

- Sim.

- Eu não estou com fome agora, mas se quiser pode ir comer. - digo.

Sua mão, que estava em repouso com os dedos entre meus cabelos, desce pelo meu corpo parando em minha cintura e me puxando mais pra próximo dele.  Me arrepio involuntariamente com esse seu gesto.

Meu corpo estava quase colado ao seu, sua mão na minha cintura e nossos rostos próximos um ao outro. Tão próximo que nossas respirações se uniam como uma só.

- Irei descansar com você. - ele disse sussurrando em meu ouvido. Novamente sinto meu corpo inteiro arrepiar.

Seus lábios tocam minha orelha calmamente, em seguida sinto seu nariz tocar o meu pescoço. O nervosismo tomou conta do corpo, mas eu estava gostando.

Por puro impulso eu coloco minha mão em sua nuca e seguro forte em seu cabelo, levantando sua cabeça até a altura da minha. Olhei brevemente em seus olhos serenos, cheios de ternura, e o beijei. 

Minha mente havia parado, como se existisse apenas nós dois no mundo. A única coisa que eu sentia era seus lábios abrindo espaço para se encaixar nos meus. Diferente da última vez, agora estava mais intenso.

Senti minha respiração fraquejar e meu fôlego sumir. Era como se estivesse debaixo d'água sem poder respirar. Não era um sentimento ruim, tanto que eu poderia parar de nadar e me deixar afogar-se, e ainda sim morreria satisfeito.

Seus lábios se distanciaram dos meus, mas seu rosto continua próximo. Sem mesmo abrir os olhos posso sentir um sorriso em seu rosto, que instantaneamente se forma no meu também. Eu não tinha medo quando estava com ele.

O cansaço me venceu e eu adormeci com a cabeça em seu peito.

   ☯ 

Não faltava muito para fechar a venda e ir para casa. Depois do que aconteceu mais cedo, trocávamos olhares e sorrisos a todo momento, era como se fossemos duas crianças brincando com algum brinquedo novo.

Felipe chegou a quase me beijar novamente, mesmo com a venda aberta, mas eu evitei. Tentei lhe passar um sermão, mas mesmo assim ele continuou me provocando quase que o tempo inteiro.

Confesso que eu não achava ruim, apenas perigoso. Conseguia sentir a felicidade novamente, junto com um pouco de esperança. 

- Arthur? - ouço uma voz feminina chamando por meu nome, me tirando a atenção. Era a Helena.

- Oi, o que houve? - ela estava chorando e em sua mão havia sangue. 

Me aproximo rapidamente para verificar o que houve. Percebo que ela estava tremendo muito.

- Eu cai e cortei minha mão. - dizia ela nervosa.

- Calma, tenta relaxar. Vamos dar um jeito nisso. - digo segurando em seu braço e me dirigindo até a saída com ela.

- Arthur! - dessa vez era a voz do Felipe. Já havia esquecido que ele estava ali.

Viro-me e ele faz um sinal que fosse até onde estava. Peço para Helena esperar um pouco e vou até ele.

- Onde você está indo? Precisamos voltar pra casa daqui a pouco. - disse me lembrando.

- Eu sei, vou apenas ajudar ela e volto rápido. Tudo bem? - disse. Ele exitou um pouco em dar a resposta, mas concordou.

- Cuidado então e volta logo. - pediu.

- Não se preocupe, voltarei pra você. - disse sorrindo, o fazendo sorrir também.

  •  Felipe 

Fazem mais de duas horas que ele saiu e não voltou. Estou começando a ficar preocupado, já estava escurecendo.

Saio em busca dele pela cidade, por todos os lugares possíveis que ele poderia estar com ela. Mas não o encontro.

- Arthur, onde está você? - digo nervoso.

Eu me encontrava aflito. Não fazia ideia se ele estava apenas ajudando ela ou se algo realmente havia acontecido. Tudo piora quando encontro um par de seus sapatos em uma rua não muito movimentada.

Dois Caminhos (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora