Capítulo 20

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Caminhávamos pela caverna em direção ao nosso destino. Era escura e pegajosa, tinham algumas tochas iluminando o caminho que se ascendiam como mágica conforme nos aproximávamos delas.

Haviam também alguns morcegos que levantavam voo após quando batia luz onde estavam repousando. Era tão macabro e assustador quanto os livros que Arthur lia. Jamais imaginei passar por uma situação assim.

Tive que segurar o medo e seguir firme sem olhar para trás ou repensar no que estávamos prestes a fazer. Em alguns momentos parecia que meu corpo estava comandando todas as funções motoras sozinho, como se eu não tivesse mais controle sobre elas.

Avistei de longe uma abertura maior no fim do túnel em que  estávamos caminhando, como se fosse um salão propositalmente arquitetado para estar ali . Era mais iluminando e tinha alguns objetos nele como um espelho grande e dourado. Também havia uma mesinha com alguns livros em cima, velas em castiçais ao espalhados por todo lugar, algumas estantes velhas com mais livros. 

Meus olhos caminhavam por cada centímetro daquele lugar, observando todos os cantos, paredes e superfícies. Figuras e frases em uma língua desconhecida por mim pintavam as paredes e o teto.  Seria incrível se não fosse assustador.

Haviam também outras entradas que davam nesse mesmo salão, que provavelmente uma dessas é a que Henrique e os outros chegaram. Mais adiante de onde estava parado, tinha uma espécie de jaula enorme. Grades grossas de ferro e correntes ao redor. Não consegui ver muito bem porque as velam não iam até lá.

Tentei me aproximar para ver melhor, mas a corda que estava enrolada na minha mão e pescoço foram me impediram de continuar.

- O que houve? - perguntei.

- Ela está chegando. Vamos seguir com o plano. - disse sussurrando próximo ao meu ouvido.

Não demorou nem trinta segundas que sua última palavra foi dita e surgiu de uma das entradas um grande pássaro, como se fosse um corvo preto, que sobrevoou todo o local, passando por cima de nossas cabeças e pousando a poucos metros de onde estávamos. 

A ave então cresceu rapidamente e suas penas sumiram em um piscar de olhos, dando espaço para um corpo humano feminino que estava totalmente despido. Meus olhos não acreditavam no que havia acabado de acontecer, o que até poucos segundos atrás era uma ave, agora é uma mulher.

Ela nos olhou e caminhou delicadamente até uma prateleira onde havia um longo vestido preto, a qual vestiu cobrindo seu corpo nu.

- Então é ele? - perguntou olhando em nossa direção. 

Olho para o lado onde esperava encontrar Arthur e ele já não estava mais comigo, e sim sentado em uma cadeira mais distante.

- Sim, é ele. - respondeu.

Ela se aproximou e passou as costas de sua mão no meu rosto, que permaneceu imóvel. Sua mão desceu até meu braço e em seguida meu peito.

- Achei que fosse um rapaz mais forte. - debochou.

- E eu achei que fosse lidar com algo mais assustador. - não medi as palavras ao responder. Eu realmente estava com medo, mas não poderia demonstrar isso.

- Cuidado garoto, não sabe com quem está lidando. - disse me olhando nos olhos. - Eu sei que você está assustado, não precisa se esconder, logo logo vai conhecer do que eu realmente sou capaz. Ou talvez o que seu querido Arthur pode fazer só para me agradar.

Olhei para onde ele estava sentado, e apenas sorria. Ágatha se afastou e sentou em uma cadeira, pegou um livro grande e começou a folhear as páginas como se estivesse procurando algo.

- Você não vai conseguir concluir seus planos sujos. - falei a desafiando. Eu precisava fazer com que ela ficasse com raiva.

- Como não? Eu posso acabar com vocês dois aqui e agora se eu quiser?

- E porque não acaba logo de uma vez? - continuo tentando desafiá-la.

- Porque eu quero diversão. Acabar com tudo rápido assim tão rápido vai ser muito tedioso. - disse fazendo bico.

Apesar de ainda estar assustado, a raiva estava tomando conta de mim. Senti meu rosto queimar após ouvir seu sarcasmo.

- Me solta, vamos nos enfrentar de igual pra igual. - disse caminhando até onde Ágatha estava.

-Parado! - ela apenas levantou a mão para que meu corpo instantaneamente parece onde estava, como se algo tivesse colado meus pés no chão. - Eu não vou sujar minhas mãos com um mero profano como você. Arthur! Mostre como a gente lida com pessoas desobedientes aqui. - ordenou a ele.

Arthur se levanta da cadeira, vai até a mesinha e pega uma corrente de ferro, vindo posteriormente em minha direção com um sorriso maléfico no rosto.

- Ele nunca me machucaria. Não é Arthur? - disse olhando pra ele. - Eu sei que você não faria nada demais pra me machucar, por favor, lembra quem eu sou? - eu falava mais ele continuava andando em minha direção. - Sou eu, alguém que te ama e se preocupa com você. - ele parou de bem na minha frente logo após eu falar a última frase. - Isso, eu sabia... (splach)

Sinto uma dor sem tamanho quando a corrente bate em meu rosto, e a única coisa que que escuto em seguida são palmas e risos vindo da Ágatha. O sangue corre pelo meu rosto como se fosse suor.

Precisávamos convencer Ágatha que ele estava do lado dela. E a única maneira de ganhar sua confiança era dessa forma. 

- Bom trabalho. Agora o leve até a jaula. - falou.

Ele me levanta do chão e me arrasta para onde ela o ordenou que me levasse. Eu estava sentindo meu rosto queimar de tanta dor, e minha visão um pouco embaçada.

Chegando próximo da jaula vejo a imagem de Helena segurando as barras de ferro com suas mãos me olhando com lágrimas nos olhos. Eu estou realmente onde preciso estar. 

Tudo está saindo como havíamos planejado, tenho uma cópia da chave no bolso e poderemos fugir logo, antes que ela nos machuque mais ainda. Ele abre a porta e me joga dentro, mas antes que pudesse trancar novamente escuto um barulho vindo do lugar por onde entramos.

- Mas que diabos está acontecendo aqui? - disse furiosa jogando o livro sobre o chão.

Ágatha fecha os olhos e para de falar alguns segundos, seu nariz fareja algumas vezes como se fosse  um animal.

- Úrsula! - falou com uma voz raivosa. - Você me enganou, desgraçado.

Seus olhos mudam rapidamente de verdes para vermelho. Os papeis que estavam no local começam a girar por todo lado, os livros das estantes caem no chão e o chão começa a tremer, fazendo com que pedaços de pedras e detritos caíssem sobre o chão.

- Arthur! - disse Henrique entrando junto com sua mãe e os outros.

Antes que eles pudessem chegar onde ele estava, Ágatha dispara raios que saiam de suas mãos até o peito de Arthur.

Dois Caminhos (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora